terça-feira, 1 de setembro de 2020

Partiu um cidadão exemplar, um homem bom.

ANTÓNIO TABORDA (1934 - 2020)
Prestigiado democrata da Resistência antifascista, combateu contra a Ditadura desde jovem. Dirigente associativo da AAC e do TEUC (Coimbra) abdicou de um percurso normal como estudante, em favor de lutas nacionais académicas. Já advogado defendeu presos políticos no Tribunal Plenário, com grave prejuízo da sua vida profissional. 
António Monteiro de Almeida Taborda nasceu a 10 de Abril de 1934 no Gavião, distrito de Portalegre. Fez a instrução primária na Golegã e no Fundão, e o ensino secundário na Guarda e no Fundão. Começou por frequentar a Faculdade de Direito de Lisboa, mas terminou a Licenciatura em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em 1965.

Defendeu vários presos políticos no Tribunal Plenário do Porto (1). 
Activista contra a Ditadura, desde jovem, teve sempre intensa actividade de dinamização cultural, quer no Teatro, quer em Música.
Quando era estudante universitário, em 1956, envolveu-se na luta, a nível nacional, contra o Dec-Lei 40 900, que visava a acção das associações de estudantes. Entre 1959 e 1960 foi Presidente do Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC). Participou activamente na campanha do General Humberto Delgado para a Presidência da República e teve então o seu primeiro contacto com a repressão, ao ser vítima de uma brutal carga policial, no centro de Coimbra.
Em 1960/61, durante a presidência de Carlos Candal da Direcção da Associação Académica de Coimbra, teve papel relevante na ligação da AAC com a RIA (Reunião Inter Associações). Em 1961 integrou a Direcção da AAC, e passou a representar a AAC nas reuniões da RIA. Nessa ocasião, empenhou-se na realização em Coimbra do I Encontro Nacional de Estudantes Portugueses (ICNEP), em que deveriam intervir todas as Associações e Pró-Associações de Estudantes do País, mas este foi proibido pelo Governo. Na sequência das movimentações de repúdio da proibição, por parte dos estudantes, a AAC foi fechada e, em seguida, foram instaurados processos disciplinares a vários estudantes. O processo instaurado à Direcção da AAC terminou com a exclusão, de todas as escolas nacionais, durante dois anos lectivos, dos membros da Direcção da AAC, por terem levado a cabo o ICNEP, a que foi adicionado um processo-crime por desobediência ao Ministro. António Taborda foi um desses estudantes e viu, por isso, o fim do Curso ser atrasado de 2 anos, com todo o prejuízo acarretado para a sua vida profissional. Depois de formado, não conseguiu qualquer emprego, nem no Estado nem no sector privado, dado que a PIDE impediu sempre o seu acesso a esses lugares (2). Face a essa situação, restou-lhe ser advogado dos Sindicatos.
Após o 25 de Abril, aderiu ao MDP/CDE e foi deputado pela APU, entre 1982 e 1985. Foi advogado de todas as vítimas de atentados terroristas ao norte de Portugal, no julgamento da “rede bombista”, no Tribunal Territorial Militar de Lisboa; com o Dr. Levy Baptista em representação da Embaixada de Cuba; com Dr. Luso Soares em representação das sedes do PCP destruídas por bombas; e com Dr. Artur Marques em representação do Sindicato dos Metalúrgicos de Braga.
Em 2014 foi um dos advogados dos presos políticos homenageados em sessão solene na Assembleia da República, por iniciativa do NAM (Movimento Cívico Não Apaguem a Memória).
Em 7 de Novembro de 2013, por ocasião do 50º aniversário do seu exercício de advocacia, recebeu a Medalha de Honra da Ordem dos Advogados.
Em Abril de 2019 foi condecorado com a Ordem da Liberdade, pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.

Faleceu a 31 de Agosto de 2020.
Notas:

(1) O último dos quais foi Luís Eduardo Abreu Lima Ramos, estudante de Coimbra.

(2) Nomeadamente: foi-lhe recusado lugar na Caixa de Previdência Têxtil, por informação da PIDE; impedido de assumir o cargo de director da Câmara Municipal do Porto, por informação da PIDE/DGS; numa vaga do Banco Borges e & Irmão, para a qual fora seleccionado, foi recusado depois de comunicação da PIDE.

Biografia da autoria de Helena Pato
(dados biográficos facultados pelo próprio)

Fonte: https://www.facebook.com/FascismoNuncaMais/photos/a.559109110865139/1492868987489142/ 


Nenhum comentário:

Postar um comentário