segunda-feira, 26 de abril de 2021

Covilhã | Discurso 25 de Abril Presidente Vítor Pereira


Senhor Presidente da Assembleia Municipal da Covilhã, Dr. João Casteleiro,

Senhora e Senhores Vereadores,

Senhoras e Senhores Presidentes das Juntas e Uniões de Freguesia,

Senhoras e Senhores Deputados Municipais,

Ex.mas Autoridades Civis, Militares e Bombeiros Voluntários,

Representantes da Comunicação Social, Ilustres Convidados,

Caras e Caros Covilhanenses,

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Bom dia a todas e a todos!

Estamos aqui, hoje, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, para celebrarmos solenemente os 47 anos do «dia inicial, inteiro e limpo» — conforme reza o imorredouro verso de Sophia, no poema justamente intitulado 25 de Abril — e para, ao mesmo tempo que exaltamos esta data maior da nossa Democracia, festejarmos também os 150 anos de elevação a Cidade de «uma das mais importantes Villas do reino»: a Covilhã, naturalmente — para citarmos as exatíssimas palavras do Rei D. Luís I, no dia 20 de outubro de 1870!

Exatamente a meio, portanto, do ano das comemorações do centésimo quinquagésimo aniversário da nossa Cidade, e 47 depois de abril, eis-nos aqui nós, o povo da Covilhã, para reiterar que queremos estar à altura destas duas datas maiores e dos pergaminhos do nosso passado multissecular. Eis-nos aqui, todos, para afirmar que estamos à altura da hora presente — que é de festa, sim, embora ensombrada por este novo Cabo das Tormentas chamado Covid19 que, entretanto, estamos a começar a dobrar. Mas eis-nos aqui sobretudo para proclamarmos bem alto perante todas as nossas concidadãs e os nossos concidadãos covilhanenses que estivemos, estamos e estaremos sempre à altura da grandeza do futuro que ambicionamos e que, todos juntos, iremos construir.

Não é possível nem sequer desejável, na circunstância desta breve intervenção, fazer a História destes extraordinários 150 anos, por um lado, nem dos 47 anos por outro — anos que tantas e tão grandes transformações trouxeram à nossa Cidade. Basta olhar. Até porque são o presente e o futuro aquilo que mais nos importa. Ainda assim, não podemos deixar de referir como a nossa cidade fabril — entre a lã e a neve da Serra, por um lado, e a fertilidade agrícola da Cava Juliana, por outro —, soube interpretar em cada momento da sua História o rumo certo a seguir. Desse rico e diversificado percurso a cidade exibe ainda muitas cicatrizes, mas também muitos e belos monumentos materiais, industriais, históricos, culturais, literários, etc. Todos os conhecem. Bastaria lembrar justamente A Lã e a Neve de Ferreira de Castro, de 1947. Nesta obra, muito em especial na fraternidade utópica e universalista dos sonhos de um velho tecelão, José Nogueira, o Marreta, estavam já afirmados e antecipados todos os ideais de abril — a Liberdade, a Justiça, a Paz, o Pão, a Habitação, a Saúde, ­ o Trabalho — todos os ideais por que o povo da Covilhã se bateu, em greves sucessivas, até finalmente, 27 anos depois, o madrugador Salgueiro Maia os conseguir fazer vingar no Carmo e no Terreiro do Paço. Seria caso para dizer: aqui, na Covilhã, nesta aba nascente da Serra Estrela, entre a De Goldra e a Carpinteira — entre o Teixoso, a Vila do Carvalho, o Tortosendo, o Dominguiso, Vales do Rio, etc. — aqui lutou-se muito por um mundo melhor e mais justo, por isso, vimos a alvorada chegar mais cedo. Contas feitas — e os historiadores e os estudantes de Ciência Política da nossa Universidade que estudem e nos façam esta justiça — o povo operário da Covilhã, nas suas dores e labutas, nas suas alegrias e tristezas, nas suas mais íntimas aflições e contradições ao longo de anos e anos — inclusive no sangue que derramou na calçada — foi um contribuinte líquido para a consciência emancipada que, em 25 de abril de 74, ergueu definitivamente a voz e ousou sair à rua.

Mas podemos recuar mais. Porque a Covilhã foi e continua a ser Cidade de muitas metamorfoses. Ilustre de há séculos pelos seus «muitos panos finos», como louvava o mestre Gil Vicente — e basta levantarmos os olhos para o friso deste Salão Nobre —, dessa notável manufatura e do artesanato passou depois à indústria têxtil. E quando esta, mercê de muitas vicissitudes internacionais, entrou em crise, justamente na segunda metade do séc. XX (veja-se o Café Montalto de Manuel da Silva Ramos), a nossa Cidade, qual Fénix que morre e ressuscita das próprias cinzas, iniciou de imediato a transformação e regeneração do seu tecido empresarial. Compreendemos bem a importância estratégica do Ensino Superior, embora nem sempre tenhamos aproveitado todas as sinergias. Apostámos num turismo diversificado que foi da neve e da paisagem à cultura, às artes, aos costumes e às tradições locais. Afirmámo-nos, enfim, como uma das grandes regiões agrícolas do país, mormente em termos frutícolas. Em suma, a Covilhã e os covilhanenses mostraram a sua fibra, a sua garra como comunidade lutadora, empreendedora e sonhadora, que aposta no progresso e que nunca dorme sobre os louros já alcançados.

E porque aqui e agora — neste breve fresco traçado a grosso —, apenas pretendemos ressaltar o orgulho e o brio de sermos covilhanenses, também não queremos perder tempo com a nossa herança mais recente, quando, em 2013, recebemos dos munícipes a grave responsabilidade pela sua governação, conforme a boa tradição da alternância democrática recebida do mesmo abril que hoje celebramos. Dentro de portas, o legado anterior foi o que foi. Todos o conhecem. Não nos detemos mais a olhar para trás. Queremos acreditar que todos e cada um dos que nos antecederam fizeram o melhor que podiam e sabiam.

Mas importa relembrar que recebemos o Município em contraciclo, em plena crise nacional e internacional. Tínhamos a Troika instalada no Terreiro do Paço e, também por isso, o nosso primeiro mandato, entre 2013 e 2017, foi um mandato — temos de o dizer olhos nos olhos a todos os nossos conterrâneos — de grandes constrangimentos, de exigente saneamento financeiro (porque estávamos praticamente na falência), de consolidação operacional, de planeamento de fundos e de projetos estruturantes. Estabilizadas que foram as contas, controladas as dívidas, os projetos começaram a ser executados já neste mandato e — e apesar da noite, do silêncio e deste imenso pesadelo chamado Covid 19 — eis que a obra começa agora a vir à luz, como é o caso do Centro Inclusão Social já em funcionamento, do Centro de Inovação Empresarial que vamos inaugurar no final de maio, do Museu da Cidade a inaugurar também em maio, do Centro de Inovação Cultural / Teatro Municipal a inaugurar em junho. E o caso ainda de outros projetos decorrentes do Pacto de Coesão Territorial da CIMBSE — que inclui uma Rede de Miradouros, de Percursos Pedestres, de Centros de BTT; a RIBBSE, que é uma rede intermunicipal de Bibliotecas; a candidatura da Covilhã a «Cidade Criativa da UNESCO»; o Projeto Parkurbis Lab em parceria com a Altice Labs, a repavimentação de muitas vias no Concelho, etc., etc.

E isto quando já temos em mãos a exigente preparação do novo quadro comunitário de apoio no âmbito do PRR. Ó Covilhã, ousa sonhar! Mas com os pés na terra, que é como quem diz, bem assentes no granito da Serra: até 2030 Lisboa tem de estar a 2h45m da Covilhã; em breve, queremos estar no pelotão da frente quanto à cobertura de todo o Concelho com fibra ou em 5 G; queremos e teremos redes de transporte público de qualidade e de proximidade em todo o espaço concelhio; iremos melhorar ainda mais as ligações rodoviárias dentro do Concelho e entre Concelhos. E assim por diante.

Os ventríloquos saudosistas que agora nos criticam pensam que o tempo corre ao contrário. Todos sabem que o tempo de semear não é o tempo de colher. É preciso saber esperar, ter a paciência do agricultor. Outros querem agora vir colher onde nunca semearam nada. Melhor, semearam. O quê? Joio e ervas daninhas! Mas inveja maledicente não constrói; apenas corrói e vive dos restos que os outros deixam. Outros não ocultam o revanchismo perdedor, o ressentimento de quem não entende o que o povo diz. Ora a Política é a arte muito nobre de cuidar da coisa pública. Digo-o neste nobilíssimo salão. Governar é um serviço e uma responsabilidade pelo bem comum. Não é uma mercê, uma benesse ou um espelho para egos serôdios saídos de storytelling comunicacional. Deixemo-los, pois, ressabiados, a contar histórias e a resmungar com as suas próprias entranhas e ponhamos os olhos no que mais importa. E o que é que mais importa? O futuro da nossa Cidade chamada Covilhã.

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Os quatro anos que temos pela frente vão ser anos muitos exigentes. Requerem a mais sólida experiência e não aventureirismos. Mesmo sem a pandemia já seriam anos muito complexos. Mas esta peste que ainda assombra os nossos dias, veio acentuar as dificuldades. O próximo mandato da edilidade exigirá conhecimento sólido e grande capacidade de manobra. Teremos de ser ao mesmo tempo muito firmes e muito flexíveis, porque teremos de nos adaptar às novas realidades que estão aí, tanto no plano local e regional, como também nos âmbitos nacional e internacional.

Hoje, mercê das referidas transformações, a Covilhã é uma Cidade mais influente, mais reconhecida, respeitada e admirada cá dentro e lá fora. Já deixámos para trás a atitude sobranceira e isolacionista de quem, a partir da sua pequenina narrativa, se julgava o umbigo do mundo e não respeitava sequer os seus vizinhos e as suas instituições. Crescemos mais em Democracia, porque hoje na Covilhã há liberdade para criticar abertamente, responsavelmente, dando a cara e sem temer represálias. Este é um dos bons legados daquela fresca manhã de abril, aqui durante muitos anos temido, se não mesmo atacado. Mas hoje, 47 anos volvidos, reiteramos aqui firmemente o nosso compromisso com a liberdade de expressão e de opinião. Como diria Zeca Afonso, «seja sempre bem-vindo quem vier por bem».

Por outro lado, o sangue novo que a Universidade, todos os anos, juntamente com as muitas empresas trouxeram e trazem para a Covilhã, tornou-a mais cosmopolita, menos preconceituosa, mais criativa, mais ousada, com mais línguas e sotaques nas nossas ruas, com novas cores de cabelo e de pele, com mais sabores nas tascas e nos restaurantes. Vejam o que têm sido estes últimos dias de retorno ao ensino presencial nas Escolas e especialmente na Universidade. Esta diversidade é em si mesma um bem absolutamente inestimável. Volta a respirar-se no nosso Concelho um ar de internacionalização universitária, mas também trade-off económico, empresarial e cultural, sobretudo nas áreas do turismo, das indústrias de transformação, nas artes, nas humanidades, nas tecnologias e nas ciências da saúde. Constata-se a pujante atividade social e solidária, mercê do vigor associativo, das dinâmicas resultantes da interação dos estudantes, dos investigadores, dos empresários, dos artistas (é só olhar para as muitas paredes e fachadas pintadas da nossa Cidade!), dos residentes temporários, dos turistas que irão retornar, e assim por diante. A Covilhã é, reconhecidamente, um polo empreendedor e um agregador de desenvolvimento socioeconómico local e regional. Somos uma sociedade mais aberta, mais solidária, mais justa e mais tolerante. Temos boas infraestruturas de saúde, de educação e, a breve trecho, também de cultura. Temos uma excelente relação entre custo e boa qualidade de vida. Somos uma Cidade sustentável, saudável, responsável. E, não obstante, os desafios que temos pela frente, sobretudo nesta fase final e depois na saída da pandemia, ainda são enormes!

O maior deles passa pelo equilíbrio social face ao inverno demográfico que nos atinge. Importa que a consciência regional do perigo do despovoamento acelerado nos leve a trabalhar todos em conjunto na criação de condições para a fixação de jovens em idade de casar, de trabalhar e de terem filhos na nossa região. Muitos dos jovens que acabam os seus cursos nas instituições de ensino superior da região — na UBI, por exemplo — ficaram a amar para sempre a nossa Cidade e o nosso Concelho. Estas saudades da nossa terra, espalhadas pelo país e pelas sete partidas do mundo, são um precioso capital simbólico e intangível que urge acarinhar e potenciar a todos os níveis. Queremos que alguns desses jovens regressem, para nos revisitar como turistas, e que outros fiquem connosco. Quem passa por aqui mostra-nos à evidência que a nossa terra tem muitos fatores de atratividade e que pode ser, sobretudo hoje, em que se buscam ambientes saudáveis para viver, estudar e trabalhar, que nisso podemos ser altamente competitivos. Tantos projetos que podemos indicar neste sentido. Hoje, são cada vez mais as causas que mobilizam os jovens. Como a causa climática e ambiental — com a Serra aqui à mão. Diz-se que ainda há por aqui coisas a fazer em termos de infraestruturas? Há? Então vamos a elas. Estamos aqui para isso. Mas o essencial é mesmo criar melhores condições para a fixação dos jovens. E neste particular é absolutamente decisivo o trabalho conjunto entre a Câmara, as Juntas de Freguesia, as Empresas e a Universidade. Vamos, juntos, dar um passo em frente no nosso relacionamento. Porque também só assim teremos as condições para dar a atenção, o carinho e as melhores condições de vida também aos nossos mais velhos — que eles tanto merecem e que acabam de passar por situações tão traumáticas e dolorosas nos Lares de 3.ª Idade. Felizmente parece-nos que o pior já lá vai. 

Mantenhamos a esperança!

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

«Esta é a madrugada que eu esperava…» afirmava Sophia há 47 anos atrás. Hoje, em 2021, quase meio-século depois, que esperamos, desejamos e almejamos nós para a nossa querida Cidade da Covilhã? O melhor, sem dúvida: habitarmos livremente a substância do tempo! Por isso vou terminar recordando que, nas antigas mitologias grega e nórdica, o Mundo (kosmos) e o Tempo (kronos) eram figurados como o Grande Tear onde os deuses teciam (o tear de Zeus, o tear de Ódin, a dobadoura e o fuso das Parcas Fiandeiras, etc.). É muito bonita e sugestiva esta imagem do tear, para nós covilhanenses tão familiar. Aqui, na Cidade Covilhã, 150 anos depois, o nosso lema é continuar «a tecer o futuro». Não somos deuses, mas o nosso Concelho é um Grande Tear que pede a força de todos, e não apenas a minha. Porque se eu para vós sou o Presidente, convosco sou apenas mais um covilhanense.

Viva o 25 de Abril!

Viva a Liberdade e a Democracia!

Viva a Covilhã!

Viva Portugal!





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