segunda-feira, 26 de abril de 2021

Discurso da Presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande na sessão comemorativa do 25 de Abril da Assembleia Municipal

ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA MARINHA GRANDE

SESSÃO COMEMORATIVA DO 25 ABRIL

47º ANIVERSÁRIO

Senhor Presidente da Assembleia Municipal

Senhoras e Senhores Vereadores da Câmara Municipal

Senhora e Senhores Presidentes de Junta de Freguesia

Senhoras e Senhores Deputados à Assembleia Municipal

Minhas Senhoras e Meus Senhores

Comunicação Social

Marinhenses!

47 anos nos separam daquele que, ainda sem o sabermos, seria o 1º dia do resto das nossas vidas, uma vida nova, radicalmente oposta à estranha forma de vida a que foram subjugadas sucessivas gerações, a que muitos de nós ainda fomos forçados a viver, a partir da auto proclamação do Estado Novo.

Não podemos, nem devemos, deixar esquecer que o Estado Novo surgiu depois de um conturbado período de instabilidade política e social em Portugal e na Europa, com graves consequências económicas que atingiram de forma dramática a generalidade dos portugueses.

A 1ª República ainda não se tinha consolidado e fortalecido e, sobretudo, não tinha conseguido traduzir na vida concreta dos Cidadãos as promessas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

A 1ª Guerra Mundial devastou a europa e acentuou ainda mais as desigualdades económicas e sociais, tornando o fosso entre ricos e pobres numa vala comum de miséria e de morte.

As lideranças políticas nacionais e locais estavam desacreditadas pela falta de empenho e de determinação e, sobretudo, pela falta de exemplo e de credibilidade pessoal e institucional.

Foi neste contexto que a auto proclamação do Estado Novo, na sequência de eleições supostamente livres e democráticas, surgiu como algo até desejável, a promessa de uma mudança radical sob uma liderança forte que se assumia como o exemplo, o modelo a ser seguido por todos, a bitola pela qual todos seriam medidos e julgados.

Foram mais de 40 anos de opressão e de castração às liberdades individuais e ao corporativismo, nomeadamente, ao sindicalismo enquanto força de representação e de defesa dos trabalhadores que representavam a esmagadora maioria da população.

Foi um regime que, sabemos bem, favoreceu o enriquecimento dos mais ricos à custa do empobrecimento das classes média e baixa, dos operários e dos agricultores e que manteve o Povo subjugado, silenciado, à conta das perseguições, das torturas e das prisões que se tornaram instrumentos de defesa do Regime contra os que ousavam afrontá-lo e questionar as suas regras.

Mas o sonho de uma nova ordem política e social nunca esmoreceu no espírito dos portugueses, Povo que desde a sua fundação sempre esteve habituado a ter de lutar para se defender e se afirmar enquanto Nação.

Nesses mais de 40 anos em que perdurou o Estado Novo não faltaram exemplos, de homens e mulheres que, mais ou menos organizados, mantiveram a chama da esperança acesa, como os nossos heróis do 18 de janeiro de 1934, a quem hoje também rendemos a nossa homenagem.

Mas foi preciso esperar pela madrugada de 25 de abril de 1974 para que as lágrimas e o sangue que caíram à terra nas quatro décadas anteriores, germinasse e fizesse brotar vida nova para todos, para todos nós que somos ao mesmo tempo filhos e herdeiros do 25 de Abril.

Todos os que fizemos esta viagem e dobrámos o cabo do bojador, passando da tormenta e da opressão à liberdade, trouxemos connosco a esperança de que a constituição de uma nova República seria a concretização, finalmente, dos ideais republicanos de liberdade, igualdade e fraternidade, de que passariam a ser fiéis depositárias as Instituições Democráticas nascidas neste dia há 47 anos:

- O Presidente da República.

- O Parlamento.

- As Autarquias Locais.

É por isso que neste ano em que se comemoram igualmente os 45 anos das primeiras eleições autárquicas, livres e democráticas, realizadas em 12 de dezembro de 1976, que preste a homenagem aos primeiros eleitos para a Câmara Municipal da Marinha Grande:

O Presidente da Câmara Artur Neto de Barros

e os Vereadores

- José Henriques Vareda

- Fernando Duarte

- Emílio Ferreira Rato

- Joaquim Manuel Batista

- Albino Reis Paulo

- António Dias Caetano.

Nestes 47 anos de democracia as Autarquias Locais, Municípios e Freguesias, tiveram um papel determinante para o progresso e o desenvolvimento dos seus territórios, para o bem-estar e segurança dos Cidadãos, para a defesa e promoção da coesão e inclusão social, para o apoio social e proteção aos mais desfavorecidos.

As Autarquias Locais são efetivamente a presença e a realização do Estado que mais próxima está dos Cidadãos, sendo por isso legítimo que seja destas que os Cidadãos mais exijam e mais esperem na defesa dos seus interesses. Por isso mesmo, e para dar resposta a esses anseios, as Autarquias Locais sofreram ao longo dos anos alterações profundas e, sobretudo, foram assumindo cada vez maiores responsabilidades, substituindo a Administração Central em matérias que eram do domínio daquela.

Saúde, Educação, Cultura, Justiça, Ação Social, Infraestruturas, Proteção Civil, Ambiente, e tantas outras áreas de atuação passaram nestes últimos anos a estar no domínio dos Municípios ou das Freguesias, e nem sempre com a garantia de terem o financiamento e os meios humanos para o exercício das mesmas por parte da Administração Central, tendo por isso de fazer uma gestão ainda mais rigorosa e criteriosa para que não se prejudiquem outras necessidades básicas e essenciais ao desenvolvimento dos territórios.

Exige-se por isso, e cada vez mais, uma reforma das Autarquias Locais, nomeadamente quanto ao sistema eleitoral e de constituição das mesmas, ao seu regime jurídico e de finanças, sem deixar de respeitar o princípio da eleição direta, secreta e universal dos seus Órgãos.

À semelhança do que acontece na maior parte dos países da europa moderna, não faz sentido que em Portugal o Órgão Executivo do Município, ao contrário do que sucede nas Freguesias, não seja eleito pelo Órgão deliberativo a Assembleia Municipal sob proposta do Presidente de Câmara o qual, esse sim, deverá ser sempre eleito diretamente pelos Cidadãos.

A eficiência e a eficácia da governação a partir da Câmara Municipal dependem em muito da sua capacidade de decisão dia-a-dia, o que não é compatível com um Órgão de decisão constituído por diferentes sensibilidades. A capacidade de desenvolvimento e de afirmação do nosso Concelho dependem em muito desta capacidade de governação efetiva.

Também o Órgão onde hoje nos reunimos a Assembleia Municipal - deveria ser mais valorizado e ter um papel mais efetivo na discussão e na decisão sobre matérias fulcrais e determinantes para o Município e o Concelho, garantindo assim uma maior representatividade dos eleitores na discussão e na decisão sobre as questões fundamentais ao seu progresso.

Esta reforma é inevitável e não pode ser adiada por muito mais tempo, face às enormes transformações que já estão e que irão continuar a sofrer as Autarquias Locais nos próximos anos, mormente as Câmaras Municipais, à medida que a transferência de competências da Administração Central para a Administração Local se for tornando mais efetiva.

A polarização política e ideológica, o surgimento de novos Partidos e Movimentos contestatários do sistema tradicional, especialmente quando associados a ideologias extremistas, ou mesmo o descrédito das instituições democráticas, por falta de concretização dos ideais de liberdade, de igualdade e de fraternidade, de progresso e prosperidade, voltam hoje a colocar Portugal no limiar de uma nova ordem política e social próxima do Estado Novo, o que é nosso dever impedir, fazendo cumprir Abril.

Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores,

Marinhenses,

Não posso terminar sem dirigir uma palavra especial sobre as circunstâncias em que comemoramos o 25 de Abril pelo 2º ano consecutivo, marcadas pelo confinamento a que estamos sujeitos.

A pandemia alterou profundamente os nossos ritmos e modos de socialização, as nossas interações, as nossas formas de estar e de nos relacionarmos.

Decorreu mais de um ano em que a pandemia nos levou a vida.

Deixámos de poder estar com a Família, com os Amigos, deixámos de juntos poder comemorar Abril.

Alterou as nossas prioridades e condicionou as nossas decisões.

Desde que foi conhecido o 1º caso de infeção por Covid-19 no nosso concelho tomámos como 1ª prioridade a resposta sanitária, articulando com as Autoridades de Saúde Pública e Policiais todas as ações necessárias, por um lado para controlar o avanço da doença no nosso concelho, por outro para responder à necessidade de apoiar os mais vulneráveis e desprotegidos.

Não deixámos ainda de criar respostas de apoio às Famílias, às Empresas e às Instituições Sociais, em especial as que trabalham diretamente com a população mais vulnerável.

Implementámos todas as medidas necessárias de proteção quer aos Cidadãos, quer aos Trabalhadores da Autarquia, nomeadamente, com a distribuição de máscaras e kits de proteção.

Disponibilizámos todos os meios humanos, técnicos, materiais e mesmo financeiros para responder à necessidade quer, primeiro, de testar o maior número possível de pessoas e de evitar a propagação maior da doença, quer agora de promover a vacinação da população de acordo com as regras e orientações da Direção Geral de Saúde.

E fizemos tudo isto tentando manter a normalidade possível na execução do Plano de Atividades e Investimentos conforme aprovado pela Câmara e pela Assembleia Municipal.

Se algum desvio existe, este não pode deixar de ser também associado aos efeitos que a pandemia tem tido sobre toda a atividade económica e social no concelho, no país, na europa e no mundo.

Sendo verdade que esta guerra não está ainda ganha, neste último ano ganhámos ainda assim em diversas frentes de batalha, podendo orgulhar-nos de ter estado sempre na primeira linha de defesa da nossa população.

Termino fazendo o apelo a que continuemos a respeitar as normas e regras de segurança. Nada se deve sobrepor ao nosso dever cívico de evitarmos que, por qualquer descuido, voltemos atrás no caminho de desconfinamento que estamos a percorrer.

uma semana, quando esperávamos poder acompanhar os restantes concelhos da nossa região e do nosso distrito, como a quase totalidade do país, para a 3ª fase do desconfinamento, fomos forçados a manter um nível de confinamento mais agravado, com consequências diretas na nossa economia local, sobretudo ao nível do pequeno comércio e das atividades desportivas e culturais coletivas.

Esperamos que, por falta de consciência cívica e social de alguns, não tenhamos nos próximos dias mais más notícias para o concelho.

Sem a consciência e responsabilidade cívica de cada um, não será sustentável o esforço coletivo para vencer esta batalha.

Deve prevalecer assim o dever primordial de defesa da Saúde Pública e da Vida, para que às 47 vítimas mortais contabilizadas neste último ano na Marinha Grande não se some mais nenhuma.

É tempo e é hora, hoje mais que nunca, de cumprir a palavra que sempre ecoou neste dia na Marinha Grande:

«O Povo unido, jamais será vencido!».

Viva o 25 de Abril.

Viva a Liberdade.

Viva a Democracia.

Viva a Marinha Grande.

Viva Portugal.

Marinha Grande, 25 de abril de 2021

Cidália Ferreira

Presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande


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