No âmbito do 100.º aniversário do nascimento do escritor
A Biblioteca Municipal de Cantanhede tem patente ao público, até ao dia 31 de maio, uma exposição de fotografias, sob o tema “Escrito com cal e com luz. Ensaio fotográfico sobre a poética de Carlos de Oliveira”.
Constituída por um espólio de vinte fotografias da autoria do fotógrafo Renato Roque, a mostra apresenta registos capturados pelo artista na Gândara, a propósito da obra poética de Carlos de Oliveira.
Em exposição encontram-se, igualmente, alguns livros do escritor gandarês editados em várias línguas, o troféu Prémio da Imprensa 1971, na categoria Literatura, atribuído no âmbito da obra Entre duas memórias, além de uma pintura abstrata realizada pelo próprio autor, artigos que fazem parte integrante do acervo da Casa Carlos de Oliveira, em Febres.
A exposição “Escrito com cal e com luz. Ensaio fotográfico sobre a poética de Carlos de Oliveira” é uma das várias iniciativas culturais que o Município de Cantanhede tem programadas para o ano 2021, para assinalar o centenário do nascimento de Carlos de Oliveira (1921-2021).
Renato Roque nasceu no Porto em 1952, onde reside. Licenciado em Engenharia de Telecomunicações pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), possuiu o Mestrado em Multimédia, Sistemas Digitais e Computadores pela mesma universidade, onde apresentou o projeto fotográfico “Espelhos Matriciais”, sobre retrato fotográfico e identidade.
Desde o início dos anos 80 que Renato Roque exerce uma atividade regular em fotografia, tendo participado em várias exposições desta modalidade, de forma individual e coletiva, e noutros projetos artísticos. Publicou vários livros de fotografia, de ensaio e de ficção, e alguns, como ele próprio classifica, “de género difícil de definir”.
Sobre Escrito com cal e com luz. Ensaio fotográfico sobre a poética de Carlos de Oliveira
“Escrito com Cal e com Luz”, foi escrito com a cal e com a luz da Gândara, enaltecidas pela escrita brilhante de Carlos de Oliveira: uma cal que floresce em “corolas de ténues flores”, uma luz que “abrirá o escuro da noite que nos cerca como um muro”. Foi essa luz que nos guiou até à Gândara, em torno da casa de família do escritor em Febres, onde ele habitou durante a infância e a juventude, e onde colecionámos imagens desse real, que inspirou toda a escrita de Carlos de Oliveira. Uma luz, feita de palavras, uma luz que iluminou imagens que capturámos ou que nos capturaram a nós. Imagens que a poesia de Carlos de Oliveira revela, porque é, em absoluto, uma poesia visual: “Carlos de Oliveira é um poeta essencialmente visual, e a imagem percetiva detém uma função determinante na sua poesia” (Rosa Maria Martelo, Carlos de Oliveira e a Referência em Poesia).
É uma poesia feita quase sempre de materiais rudes e precários, de pedra e de cal, de vento e de areia, de árvores e de musgo, vestígios das suas paisagens-memórias da infância e juventude na Gândara. Muitas vezes parece ser quase fotográfica na sua brevidade. Revela-se-nos como memórias guardadas ao longo de um tempo antigo, como estalactites capturadas no tempo breve de um poema, quase fotogramas de frações de segundo num filme de sais de prata.”
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