Foi publicado esta segunda-feira em Diário da República o decreto que classifica como tesouro nacional o esqueleto da Criança do Lapedo e artefactos arqueológicos associados, em depósito no Museu Nacional de Arqueologia.
O documento refere que os bens que o Governo classifica como de interesse nacional revestem-se de excecional interesse nacional, pelo que se torna imperativo que se lhes proporcione especial proteção e valorização, nos termos que a lei prevê.
“Nos termos dos n.os 1 a 3 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 148/2015, de 4 de agosto, os bens ora classificados refletem os critérios constantes do artigo 16.º do mesmo diploma, relativos ao interesse dos bens enquanto testemunhos notáveis de vivências ou factos históricos, ao seu valor estético, técnico ou material intrínseco, ao seu interesse como testemunho simbólico ou religioso, à sua importância na perspetiva da sua investigação histórica e científica, e ao que nele se reflete do ponto de vista de memória coletiva”, lê-se no documento que pode ser consultado em https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-/search/164712118/details/normal?sort=whenSearchable&sortOrder=DESC&q=lapedo.
“No que respeita ao esqueleto da Criança do Lapedo, cumpre referir que o achado deste esqueleto, pertencente a uma criança do Paleolítico Superior, com cerca de 29.000 anos, ocorreu em 1998, na região de Leiria, num abrigo natural existente na margem esquerda do Vale do Lapedo, denominado Abrigo do Lagar Velho. Objeto de diversas intervenções arqueológicas, o Abrigo do Lagar Velho tem vindo a revelar uma importante sequência de ocupações humanas do Paleolítico Superior, encontrando-se, desde 2013, classificado como Monumento Nacional”, refere o texto.
“Aproveitando uma reentrância natural existente na parede de fundo deste Abrigo, um grupo de caçadores recoletores do Período Gravetense depositou aí o corpo de uma criança que terá falecido no decurso do seu quinto ano de vida. A deposição desta criança envolveu um ritual muito cuidadoso e complexo, incluindo a colocação de um gorro ornamentado com quatro caninos de veado (Cervus elaphus) e um colar com duas conchas de caracol do mar (Littorina obtusata)”, acrescenta, realçando que “os estudos efetuados por equipas internacionais e multidisciplinares vieram demonstrar a importância deste esqueleto a nível mundial, pois, embora corresponda claramente a um indivíduo juvenil moderno (Homo sapiens sapiens) apresenta, igualmente, algumas características morfológicas arcaicas que se aproximam das observadas nos neandertais, algo que a sequenciação do genoma destes últimos acabaria por confirmar”.
Para o Município de Leiria, esta distinção representa, por um lado, um reconhecimento do vastíssimo trabalho científico nacional e internacional gerado ao longo de duas décadas e, por outro lado, o mote para o incremento de ações de investigação e valorização deste espólio, do sítio onde foi descoberto, da sua envolvente e do Centro de Interpretação do Abrigo do Lagar Velho.
Imagem: RTP Ensina
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