terça-feira, 2 de maio de 2023

Proença-a-Nova | A poética da resinagem destacada nos textos do Prémio Literário Pedro da Fonseca

 
O livro com os textos premiados na quarta edição do Prémio Literário Pedro da Fonseca foi apresentado no dia 29 de abril na Biblioteca Municipal, contando com a presença de autores premiados, de elementos do júri, de antigos resineiros e de público em geral. João Lobo, presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova e, por inerência, presidente do júri, agradeceu aos concorrentes que enviaram textos em prosa e poesia e falou do tema escolhido: a resinagem, atividade “que criou muito valor e riqueza para as comunidades. Muitos de nós tivemos condição de sair destes territórios para estudar, para ter outra qualidade de vida, muito devido a essa forma de extrair este produto do pinheiro bravo, um trabalho muito árduo”. João Lobo deu nota do projeto de criação da Rede Europeia dos Territórios Resineiros, mais um instrumento da “transformação de paisagem que precisamos objetivamente de realizar” e que potenciará a figura do resineiro vigilante.
Elemento do júri desde a primeira edição, Inês Cardoso, diretora do Jornal de Notícias, destacou a dificuldade em escolher os vencedores – motivo pelo qual foram atribuídas menções honrosas em cada uma das categorias – e a exigência de pesquisa a que o tema obrigou. “Esta temática tem essa virtualidade de estimular muito a ligação entre passado, presente, futuro e as obras a concurso fazem-no muito bem. Temos simultaneamente alguma nostalgia, muita memória nas viagens que promove no tempo, mas simultaneamente a atualização dessas tradições e desta capacidade de trazer para o presente ou até projetar para o futuro algumas virtualidades desta nossa história, desta nossa riqueza natural e cultural”. A aparente dificuldade acabou por criar textos muito originais, como destacou António Borges, elemento do júri convidado: “não sendo expetável à partida que um simples líquido branco viscoso, que circula nas veias das árvores resinosas e que é exsudado quando estas são molestadas de qualquer forma, pudesse gerar tantos poemas e contos tão originais e totalmente bem conseguidos”. Pertencente ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, salientou a sincronicidade de se comemorar, na mesma data, o Dia Internacional das Florestas e o Dia Mundial da Poesia.
“A resina é extremamente poética!” – a afirmação (e confirmação) surge por Luís Aguiar, vencedor na categoria de poesia. “Creio que nós portugueses temos uma riqueza brutal de algumas profissões que estão a desaparecer e que são de facto extremamente poéticas. Esta é uma delas. E é curioso que até o próprio termo resina no seu interior tenha outra condição que é a sina, como se fosse um percurso que o trabalhador teve que passar”. O autor refletiu ainda sobre a necessidade da leitura, não só importante para quem pretenda escrever, mas para todas as pessoas de forma transversal. Nesta categoria foi ainda entregue uma menção honrosa a João Rasteiro. Em prosa, Joana Guedes foi a vencedora e a menção honrosa entregue a Nuno de Sousa, este último presente na apresentação. “Era um tema que eu achei interessante abordá-lo, foi recuar na minha vida porque parte da minha família é de Trás-os-Montes e eu vivi este processo”. Conhecedor da realidade do Pinhal Interior Sul, para onde vinha de férias, Nuno de Sousa falou ainda dos incêndios florestais, num ciclo “que tem de ser parado rapidamente antes que o Pinhal Interior desapareça”. Os ciclos da natureza – e os ciclos humanos – são abordados no seu texto.
Com moderação de Elsa Ligeiro, da Alma Azul e pertencente ao júri desde a primeira hora – tal como Isabel Bessa Garcia, em representação do Agrupamento de Escolas de Proença-a-Nova, a apresentação contou ainda com o testemunho de Marcolino Nel que começou a trabalhar na resinagem com 11 anos e um dos impulsionadores da criação da Casa do Resineiro na aldeia de Corgas. Alunos e alunas da Escola Pedro da Fonseca, patrono do prémio, e da Universidade Sénior leram alguns excertos dos textos premiados. O livro, com ilustrações de Catarina Alves, do Município de Proença-a-Nova, encontra-se disponível para requisição na Biblioteca Municipal, polos e Bibliomóvel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário