O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, esteve na Comissão Parlamentar de Inquérito à resolução do Banif para sacudir responsabilidades do capote, culpando a gestão de Jorge Tomé e as instâncias europeias por terem tirado “fruta” do cabaz de soluções possíveis.
Fortemente atacado pelos deputados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), Carlos Costa afirmou que a solução adoptada para o Banif era a única possível, num cenário de urgência e de pressão das instituições europeias que terão determinado como únicas vias para o caso a resolução ou a liquidação.
Quando Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, afirmou não perceber “em que é que o Banco de Portugal serviu para alguma coisa neste processo”, Carlos Costa recorreu a um exemplo com fruta para se explicar.
“Se tem perante si um cabaz com laranjas, bananas, maçãs e pêras, tem quatro opções. Se lhe dão apenas duas opções, são duas opções. E o que aconteceu nesta negociação é que alguma das opções foram sendo retiradas do cabaz por força do processo de negociação e do poder que assiste à Direcção-geral da Concorrência”, salientou o governador na CPI.
Carlos Costa queixou-se a Durão Barroso e a Draghi
Depois da audiência com Carlos Costa, a TSF divulgou cartas trocadas entre o governador e várias instâncias europeias, entre 2012 e 2013, nomeadamente com o então presidente da Comissão, Durão Barroso, e com o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, com repetidos avisos.
O líder do Banco de Portugal manifestava que as “exigências europeias ao Banifminavam a estabilidade financeira e contrariavam o memorando da troika”, conforme salienta a TSF.
A Direcção-geral da Concorrência (DGCom) solicitava, nomeadamente, a redução da actividade dos bancos maiores em 10 a 25% e em 60 a 70% nos bancos mais pequenos, algo com que o governador se manifestava “muito seriamente preocupado”, cita a mesma Rádio.
Numa carta enviada por Carlos Costa à troika, o governador menciona que a DGCom exige uma diminuição de 54 mil milhões de euros dos activos do Banif, um facto que alerta poder perturbar a “estabilidade financeira”.
E numa das respostas ao governador, o BCE admite contradições entre o memorando da troika e as exigências da DGCom mas também assume, noutra missiva, que “não consegue resolver o problema, que se deve a posições irreconciliáveis dentro da própria comissão europeia, entre a DGCom e a Direção-Geral Económica e Financeira”, conforme escreve a TSF.
“Não basta dizer que são porcos, maus e feios”
A TSF atesta ainda que a DGCom rejeitou vários planos de reestruturaçãoapresentados pela administração do Banif que foi outro dos alvos de Carlos Costa durante a audição na CPI.
O governador acusou a gestão de Jorge Tomé por não ter sido capaz de negociar com a DGCom.
“Não basta dizer que eles são porcos, maus e feios, é preciso dizer: ‘eu tenho que chegar a um acordo com eles’”, sublinhou o governador, lamentando que, “ao fim de três anos, não foram capazes de aprovar um plano de reestruturação”, enquanto “outros três bancos [CGD, BCP e Banco BPI] tiveram negociações duras e conseguiram”.
SV, ZAP
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