sábado, 23 de abril de 2016

São homossexuais e quiseram ter filhos biológicos. Espanha foi solução

© Pixabay
Lourenço é fruto de uma relação homossexual. Foi concebido com recurso a fertilização in vitro, em Sevilha, Espanha. Em Portugal, esta possibilidade está barrada a mulheres solteiras e a homossexuais.

Sofia e Joana (nomes fictícios) apaixonaram-se e começaram a namorar em maio de 2014. Um ano depois, o relógio biológico despertou e surgiram os planos para ter o primeiro filho.

Com 25 e 27 anos, respetivamente, e numa relação homossexual, encontraram na legislação um impedimento para a concretização de um sonho. Em Portugal, só podem recorrer a técnicas de procriação medicamente assistida (PMA) mulheres heterossexuais, casadas ou em união de facto.

Espanha rege-se por regras distintas e a técnica de reprodução medicamente assistida não é barrada a mulheres solteiras. Sofia recorreu, por isso, a uma clínica espanhola para ser mãe.

“Andámos um ano a informar-nos. Percebemos que podíamos fazê-lo, por exemplo, no Reino Unido, mas optámos por Espanha por ser mais perto”, contou em entrevista ao Notícias ao Minuto.

Depois de conhecer a clínica de reprodução assistida Ivi, com presença também em Portugal, viajou até Sevilha. Na primeira consulta, deram-lhe a conhecer o tratamento e os custos. Por 1.400 euros, os seus ovócitos poderiam ser fecundados por espermatozoides em meio laboratorial.

O contacto passou a ser feito maioritariamente feito por telefone, devido à distância entre Sevilha e Lisboa. Assim que teve a menstruação, Sofia informou a clínica e começou um tratamento para iniciar a estimulação ovárica.

Dez a 15 dias depois, o aparelho reprodutor estava preparado para receber a inseminação. Ecografias regulares feitas em Portugal, cujos resultados eram enviados para Espanha, permitiram perceber qual o melhor timing para dar o próximo passo.

Foi então que a vida de Sofia e Joana mudou. À primeira tentativa, esta jovem de 25 anos conseguiu engravidar. Recorreu, para tal, a um banco de esperma. “Tivemos sorte”, desabafou. “A maioria das mulheres não consegue engravidar à primeira”.

A partir daí, todo o acompanhamento foi feito em Portugal. A gravidez de Sofia foi acompanhada no centro de saúde, tal como a generalidade das mulheres. Mas ocultou dos profissionais uma parte do processo.

“Não contei que tinha sido mãe com recurso à fertilização in vitro porque as pessoas julgam um bocado. Portugal tem uma mente muito pequenina e tinha medo de não ser bem tratada”, revelou.

No hospital, por sua vez, sentiu que tinha abertura para ser honesta. “Tivemos muita sorte, apanhámos uma equipa impecável no parto. A Joana assistiu e a parteira até a convidou a cortar o cordão umbilical”, acrescentou.

Lourenço nasceu a 25 de março. Tem duas mães nos afetos, mas uma perante a lei. No registo civil, Sofia apresentou um documento que comprova que o filho foi concebido com recurso ao esperma de um dador anónimo.

“Perante a lei, é filho de uma mãe solteira. Só lhe pudemos dar o apelido da Joana porque Bento pode ser considerado um nome próprio. Caso contrário, teria apenas o meu apelido”, lamentou.

“É frustrante. A Joana sente-se impotente porque não pode ser mãe perante a lei. O Lourenço tem um X no nome do pai quando poderia ter duas mães”, desabafou, questionando: “Porque é que uma mulher é minimizada desta forma? Mais vale ter duas mães do que não ter pais”.


Na passada quinta-feira, foi aprovado no grupo de trabalho o alargamento de técnicas de procriação medicamente assistida (PMA) a todas as mulheres, com os votos a favor do PAN, Os Verdes, PS e Bloco de Esquerda. A votação em plenário acontecerá na próxima semana.

Fonte:noticiasaominuto

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