sábado, 30 de julho de 2016

Portugal. A CRISE POLÍTICA MAIS RÁPIDA DA HISTÓRIA

Ana Sá Lopes – jornal i, editorial

Ontem, com a sua particular linguagem, com muito de terra-a-terra - Marcelo é político mais próximo de Jerónimo de Sousa no uso da linguagem eminentemente popular -, o Presidente da República deu por encerrada a crise política mais rápida da história da democracia portuguesa.

A linguagem de Marcelo Rebelo de Sousa é, obviamente, património nacional, e isso começou a acontecer muito antes de se ter tornado Presidente da República. Não está cá Roland Barthes para explicar como isso - a linguagem de Marcelo - também o ajudou a ser eleito chefe de Estado. Mas dava um bom ensaio do tipo “fragmentos de um discurso amoroso-político”. 

Ontem, com a sua particular linguagem, com muito de terra-a-terra - Marcelo é político mais próximo de Jerónimo de Sousa no uso da linguagem eminentemente popular -, o Presidente da República deu por encerrada a crise política mais rápida da história da democracia portuguesa. Para “facto político”, a frase é uma delícia: “A crise política evaporou-se tal como tinha aparecido.”

Marcelo ouviu esta semana os partidos com representação parlamentar e os parceiros sociais e nem em sinais de fumo viu uma crise no Orçamento de 2017. “Basta ter ouvido o que disseram os partidos e parceiros à saída das audiências para terem percebido que não há crise política e não vai haver crise política”. Ou: “Daquilo que ouvi dos partidos que apoiam o governo, não ouvi nenhum falar em qualquer hipótese de retirar o apoio ou de haver qualquer cenário, mesmo vago, de crise.” Nem um cenário “vago” de crise.

O mundo muda de um momento para o outro, mas é difícil de explicar a origem do epifenómeno que se evaporou numa semana. Foi Passos Coelho que assustou alguém quando anunciou “vem aí o diabo” numa reunião do conselho nacional do PSD? Mas à saída da reunião com o Presidente, também para o PSD a crise já se tinha “evaporado”. Sofia Galvão, vice-presidente do partido, anunciou ao país que o PSD não encontrava razões para a possibilidade de uma crise política. Na realidade, a crise não interessava a ninguém: nem a Costa, porque não pode pôr em risco o sistema financeiro e os compromissos com Bruxelas; nem a Passos, que se arrisca a perder e a ser demitido. Como diz Marcelo, evaporou-se...

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