Um trabalho de Paulo Jorge Agostinho da Agência Lusa, sobre culinária santomense fundida com a de Portugal, num único prato, abriu-me o apetite para um breve preâmbulo político-culinário. O artista da fundição dos dois sabores e saberes em um é o chefe João Nunes, isso na culinária. Porém existe em São Tomé e Príncipe um chefe político que também se dedica ao dois em um, é o atual primeiro-ministro Patrice Trovoada, perdão, já há quem lhe chame Patrice Cambalacho Trovoada. Mas isso são dizeres e humores de santomenses a viverem em Lisboa e arredores.
Enquanto um português em São Tomé e Príncipe procura na culinária fundir num só prato a culinária de Portugal e daquele país africano, há, na política, um “chefe cozinheiro” (ou mais) que procuram fundir os poderes do governo com os da Presidência da República, aliando-se a uma salada que se transformou em caldeirada por via da cumplicidade do justicialismo. Tudo isso para obterem por resultado um prato único chamado Cambalacho Trovoada, com condimentos Pau para Toda a Obra Evaristo Carvalho. Também aqui os dizeres e sabores santomenses adendam Evaristo Cambalacho Carvalho. Mas isso é lá com eles. Afinal, tudo na mesma família. Paparoca da boa para uns e o rebentar de fome para outros. E já os odores a petróleo se manifestam como causa e prato principal logo que estejam prontos a servir... cifrões.
E pronto. Acaba aqui este pitéu regado com ironia e previsões que a confirmarem-se nos farão voltar à mesa. A esta mesa, se assim entenderem.
Mário Motta / PG
'Chef' português tenta fundir São Tomé e Portugal num único prato
Paulo Jorge Agostinho, da agência Lusa
São Tomé, 31 jul (Lusa) - Na capital são-tomense, João Nunes tenta unir na mesa o que de melhor tem o país onde vive com a tradição gastronómica portuguesa, procurando aproveitar a procura dos turistas de novas experiências.
À frente do restaurante Cinco Sentidos, João Nunes junta carnes portuguesas com acompanhamento tipicamente são-tomense, francesinhas com banana-pão ou pernas de polvo panadas com açafrão, num projeto que é também uma tentativa de beneficiar da riqueza cultural dos dois países.
A tradição gastronómica de São Tomé e Príncipe é fortemente marcada pela herança colonial. O azeite, o alho e os grelhados são comuns nos pratos são-tomenses, mas João Nunes procura inovar, mantendo o que de melhor tem o país, também porque o custo dos bons ingredientes é muito elevado.
Em São Tomé e Príncipe, caso se opte por ter propostas gastronómicas ocidentais, acabará por ser "uma cozinha que não é barata" porque "tudo é importado", explica o jovem 'chef', com pouco menos que 30 anos, que deixou o Porto para investir no restaurante.
"Ao contrário de outros países, São Tomé e Príncipe é um país muito virgem e ainda se conseguem ver coisas que não se conseguem ver em mais lado nenhum do mundo, a nível de paisagem, de praias, de plantas endémicas, animais extraordinários. Isso faz com que São Tomé seja especial", afirma.
Um dos seus pratos de marca é o puré de fruta-pão. "Toda a gente frita, toda a gente coze mas eu gosto é do puré. Não é nenhum truque, é cozer em água e fazer puré. Quanto mais macio ficar, melhor é", explica o cozinheiro, que destaca a qualidade e diversidade do pescado e de fruta do país.
"São Tomé tem produtos magníficos: o peixe azeite, o peixe andala, o vermelho. Sete ou oito qualidades de banana, baunilha e açafrão", enumera.
No entanto, a riqueza e diversidade não se refletem na atratividade turística porque ainda há muito por fazer, reconhece João Nunes, que aponta o elevado custo de vida e das viagens como os principais obstáculos.
"Há outros países que oferecem muito mais por menos preço e isso influencia" na escolha do turista.
"São Tomé é um destino lindíssimo e adoro este país. Mas como turista, se viesse de férias, acho que teria dez países à frente com mais serviços", diz, salientando que "faltam mais bares e mais restaurantes" que ofereçam diversidade.
Apesar disso, João Nunes tem sentido "mais dinheiro a circular", sinal da presença de expatriados e de turistas, até porque os 'resorts' não satisfazem em absoluto quem visita o país.
"Os hotéis tentam ficar com as pessoas, o que é normal", mas "um turista que vem oito dias para São Tomé e não sai do hotel não consegue conhecer o país", diz.
PJA // VM
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