Duas terapeutas e quatro cães prestam há três anos intervenções assistidas em lares de idosos, instituições de apoio a deficientes mentais bem como a crianças autistas, ao domicílio, ou vítimas de `bullying`, na região do Porto.
Na associação "Ladra comigo", Clara Cardoso e Catarina Cascais utilizam semanalmente os seus quatro cães para, em sessões de 45 minutos, ajudar os mais idosos e os deficientes a obterem algum bem-estar e desenvolvimento psicomotor.
"Está provado cientificamente que os cães conseguem, só com a sua presença, estimular as pessoas com défices de vária ordem de uma forma que está vedada aos humanos", explicou Carla Cardoso, que tem a seu cargo a Laika, uma cadela sem raça definida, de quatro anos, e a Milu, uma Labrador Retriever, com a mesma idade.
A agência Lusa acompanhou duas sessões de terapia, uma no Lar de Santo António, na Maia, e outra na Associação Lavrense de Apoio ao Diminuído Mental, em Lavra.
"A empatia, segundo Catarina Cascais, é imediata e a simpatia e a preparação dos cães faz o resto". É estes animais não ficam apenas marcar presença, mas também a servir de estímulo para uma atividade física que, sem eles, os utentes não estariam disponíveis para fazer.
Neste particular, o Miles, um cão Terra Nova de cinco anos, mas com 80 quilogramas de peso, desempenha um papel fundamental, conjugando a sua forte presença com o olhar doce e uma atitude que encanta quem lida com ele.
No horizonte das duas terapeutas está trabalhar "os aspetos cognitivos, sensoriais e de locomoção, ajudando com brincadeiras com os cães à mobilidade, a par da atenção e concentração".
"Os cães não podem fazer mais do que duas sessões diárias, pois a capacidade de trabalho deles não se compara à dos humanos", explicou Catarina Cascais que aliou a sua formação em Psicologia ao desempenho necessário com os utentes.
Gerontóloga de formação, Clara Cardoso começa a visita passeando a Laika diante dos idosos. As festinhas e os "beijinhos" dos cães são rituais de proximidade, sempre recompensados com os biscoitos, como que para quebrar o gelo.
A imponência do Miles primeiro faz com que se arregalem os olhos, mas depois de lhe escovarem o pelo ou sentirem a sua passividade, de pronto a interação surge. A "montanha de pelo preto" acaba por se impor e a atividade avança, normalmente.
"Para os nossos cães - a que se junta a Safira, de sete anos, filha de um galgo e de uma perdigueira portuguesa - trabalhar é um prazer, pois são treinados na base do esforço positivo, ou seja, são sempre recompensados pelo que fazem", frisou Clara Cardoso.
Afirmando-se orgulhosas pelo seu trabalho, validam os "bons resultados obtidos pelo sorriso com que são recebidas pelos utentes". Sentem que estão a ser "muito bem-sucedidas" no que fazem.
A sensibilidade canina ficou bem expressa no episódio vivido pelo cão Terra Nova quando, "numa enfermaria antiga com um ambiente muito pesado, acabou por ficar muito parado, acabando por se deitar na sala de terapia, vomitar e ficar com o focinho inchado", contou a sua tratadora.
"Os cães pressentem o medo, a alegria e a tristeza", sublinhou, lembrando outro episódio, este positivo, em que "só passado um ano e meio os utentes começaram a cumprimentar" as terapeutas, "pois até lá só tinham olhos para os cães".
Investir na qualidade está no horizonte próximo das duas terapeutas que pensam aumentar o número de colaboradores, ao mesmo tempo que uma nova cadela está já a ser treinada pela Clara Cardoso.
Lusa
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