Por:
Jorge Santos*
Recentemente
os media referiam que “Dadores de
sangue entregam petição a exigir isenção das taxas”. Dias depois o SOL
noticiava que “PM foi a uma mega-reunião da Saúde avisar que não tolera mais um
cêntimo de divida no sector” e o Expresso do dia seguinte avançava que “Nunca o
cancro matou tanto” com a justificação, de que, “Os principais problemas são de
ordem organizacional, de má interacção com os especialistas de medicina geral e
familiar (MF) ”.
Parte
da resposta a esta questão poderá encontrar-se na eliminação de muitos
desperdícios em saúde.
No
Instituto Português do Sangue (IPS) e nos hospitais e/ou cuidados primários
(CP) existe desperdício, quer económico e como tal quantificado em euros, quer
intelectual e então condenado ao “emprateleiramento”, tantas vezes dos mais
qualificados e por razões que nada têm a ver com competência profissional.
Todos o sabemos. Vários o estudaram e quantificaram, outros sentiram-no na
pele. Uns melhor outros pior, todos o tentam combater. Por vezes para diminuir
a despesa na "casa A", obriga-se o "vizinho B" a arcar, em
gastos extraordinários, o que a primeira "boa gestão" poupou.
A
gestão da qualidade consistirá em obter a qualidade ao menor custo possível
aumentando o crescimento e a rentabilidade. Taguchi postulou que "não
podemos reduzir os custos sem afectar a qualidade", mas "podemos
melhorar a qualidade sem incrementar os custos", pelo que "podemos
reduzir os custos melhorando a qualidade".
O
IPS dispõe de clínicos de várias áreas e em particular de MF que poderiam ser
melhor aproveitados nas consultas que fazem. Embora estas sejam muito rápidas,
fornecem elementos que poderiam evitar um gasto de tempo noutros profissionais
em outros sectores do Ministério da Saúde (MS). Para isso a informação colhida
devia ser "vertida" para uma aplicação que fornecesse ao MF no
respectivo CP o agendamento deste doente, com os dados clínicos e algumas das
análises, já efectuadas pelo IPS.
Uma
vez que a maioria das dádivas é conseguida ao fim de semana, parte das questões
de saúde cairia fora do período laboral diminuindo as quebras de produtividade,
deslocações e facilitando-se também a tarefa dos MF. Assim talvez não fosse
necessário importar médicos e o MS, racionalizando
todas estas sinergias, pouparia
muitos cêntimos e melhoraria o acesso aos cuidados prestados.
Mais aliciante que oferecer apenas isenção
nas taxas moderadoras, seria juntar-lhe um acesso facilitado ao MF, podendo
quem sabe, angariar-se com mais sucesso e menos custos, maior número de
dadores. Assim combatiam-se os problemas organizacionais e aumentava-se a
interacção com os especialistas de MF, verdadeira pedra angular na diminuição
da factura do SNS.
O
que falta na saúde não é tanto melhorar a capacidade instalada, mas aperfeiçoar
a articulação entre CP e hospitalares e entre estes e outros sectores. Para
isso era urgente proceder à ligação
informática entre CP e hospitais de referenciação.
Talvez
assim a gestão do SNS deixe de se comportar como os fósforos amorfos os quais
só entram em combustão, sempre efémera, quando friccionados contra a “lixa da
própria caixa”, e permita mostrar aos nossos credores que sabemos transformar
custos em proveitos com a mera reorganização e articulação dos serviços.
*Médico
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