sábado, 14 de janeiro de 2017

Questões preocupantes sobre a nossa imprensa

Um inquérito feito a 806 jornalistas de todo o país (ao todo serão mais de 7 mil), veio trazer preciosas informações sobre a situação do jornalismo em Portugal.

Existem mais de sete mil jornalistas em Portugal

Em primeiro lugar, vemos uma profissão afetada por uma certa precariedade: dos inquiridos, há 24,6% que recebem mais de 1500 euros mensais, e 19,1% recebem entre 1000 e 1500 euros mensais, mas os restantes, 56,3%, recebem abaixo desse valor. Na verdade, 22,1% recebe entre 601 e 900 euros, 8,6% recebe entre 506 e 600 euros e há uma fatia de 7,3% dos jornalistas que estão a receber um valor igual ou inferior ao salário mínimo nacional - 505 euros.

Além disso, cerca de 55% dos jornalistas inquiridos concorda que a sua situação laboral afeta o desempenho do seu trabalho. São o dobro daqueles que discordam que a situação laboral afeta o desempenho no trabalho (cerca de 28%), sendo que provavelmente nestes 28% se encontram os jornalistas mais bem remunerados.

As coisas tornam-se ainda mais preocupantes quando 28,9% dos jornalistas concordam que a situação laboral pode interferir com preceitos éticos no desempenho da profissão.

77,3% dos inquiridos considera que é difícil arranjar um novo emprego nesta profissão. O que reforça a precarização e aumenta o abandono da profissão, conduzindo a que a maioria dos jornalistas esteja na profissão há menos de 25 anos (há uma tendência para a profissão ser abandonada).

Dados ainda mais preocupantes: quase um quarto dos inquiridos diz-se sujeito a pressões da administração onde trabalha, mais de um quarto diz-se sujeito a pressões da direção editorial e quase 36% sente-se alvo de pressões externas. Há ainda quase 10% dos inquiridos que dizem que os seus trabalhos são alterados sem o seu consentimento por editores ou pela direção de forma frequente.

Estes resultados permitem-nos tirar muitas conclusões. Em primeiro lugar, que ser jornalista não é para muitos uma profissão muito rentável. Em segundo lugar, que ao ser uma profissão muitas vezes mal remunerada e onde se regista grande tendência para abandonar a profissão, até porque há dificuldades em arranjar novo emprego na profissão, como concordam muitos dos inquiridos, a situação laboral de muitos não é a mais favorável, o que pode interferir com o seu desempenho e com a ética no jornalismo. Em terceiro lugar, estes dados permitem concluir que grande parte dos jornalistas se sentem sujeitos a diversas pressões, que vão afetar o seu desempenho.

O facto de os jornalistas se sentirem prejudicados no seu trabalho por tantos fatores (pressões da direção ou de outras entidades, má situação laboral, etc) pode-nos ajudar a explicar por que razões está o nosso jornalismo a bater no fundo. A preocupação de muitos não é fazer jornalismo de qualidade, mas conseguir sobreviver, uma vez que o seu trabalho é precário e sabem que não é fácil conseguirem um novo emprego. A prioridade não é transmitir notícias e informações, mas agradar às direções, às redações e a qualquer tipo de pressão externa. Os salários baixos e as pressões vêm interferir com o trabalho dos jornalistas, diminuir a qualidade do que fazem e descredibilizar a profissão. Tudo isto associado à tendência crescente dos jornais em procurar captar leitores a qualquer custo (clickbaits). Passamos a ter um jornalismo pautado pelo sensacionalismo, pela procura de audiências e pela tentativa de influenciar o leitor e deixamos de ter um jornalismo de rigor e de qualidade, preocupado com a seriedade, a veracidade, a objetividade e a imparcialidade do seu conteúdo.

É certo que, infelizmente, pressões e más situações laborais também ocorrem noutras profissões. Mas na profissão de jornalista é, de um certo modo, mais grave. Hoje em dia, numa era em que a imprensa rapidamente nos transmite toda a informação (e desinformação), ela assume um papel extremamente importante nas vidas de cada um. Uma imprensa parcial e de fraca qualidade (como ocorre em Portugal, cada vez mais), vai informar erradamente as pessoas, vai fazê-las cair em erro, torna-se um instrumento de manipulação ao serviço de interesses económicos, políticos ou ideológicos. Infelizmente, é precisamente isso que ocorre hoje em Portugal. Daí que, cada vez mais, esteja a perder a credibilidade.

E aí, destacar o excelente trabalho da página Os truques da imprensa portuguesa, que se tem esforçado por combater essa realidade. Claro que com o desagrado de muitos, porque isto vem interferir com esses interesses instalados em muitos jornais. Mas tenho a certeza que além de mim, muitos leitores de jornais e muitos jornalistas que amam a profissão e querem o rigor e a seriedade de volta à mesma agradecem o seu trabalho. É, neste momento, um dos mais importantes meios de combater o que está mal no jornalismo.

Fonte:oesquerdino.blogspot.pt

Publicada por Reflexão Esquerdista à(s) 16:38 

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