Impresa foi obrigada a retirar a emissão de obrigações por falta de adesão dos investidores. E entre as razões para o insucesso pode estar a chegada de novos donos à banca portuguesa.
27 de julho de 2017 às 00:01
Noutros tempos, o BPI, parceiro financeiro e accionista histórico da Impresa, onde ainda detém uma pequena posição, participaria provavelmente na colocação das obrigações. E, na falta de apetite dos investidores (que o difícil contexto do sector dos media pode explicar), tomaria firme a operação assegurando ele próprio o sucesso da mesma. Trataria depois de colocar os títulos na carteira de outros investidores.
Nos tempos que correm, as cautelas e os limites à tomada de risco são outros. Há outra diferença substancial: o BPI é hoje totalmente dominado pelo La Caixa e tem à frente um presidente executivo espanhol. O banco tem todo o direito em nomear quem quer, mas teria revelado mais tacto e outro compromisso com o mercado nacional caso tivesse escolhido um português para o cargo. O Santander, por exemplo, não foi por esse caminho.
Sem sabermos ao certo o que aconteceria nessa realidade alternativa roubada ao passado, o caso não deixa de relevar a importância de ter bancos portugueses capazes de apoiar as empresas portuguesas em momentos mais delicados. Não é fazer o jeito a empresas inviáveis. É dar a mão a negócios que dela precisam num momento mais adverso.
Com certeza que os bancos estrangeiros estão cá para fazer negócio e parte desse negócio é dar crédito às empresas. Mas há ligações, sensibilidades e prioridades que se perdem.
O lamento é algo pífio. Como é sabido, os bancos não mudaram para outras mãos portuguesas por falta de capital nacional. Ou, pelo menos, por falta de vontade para o reunir com esse propósito. Está escrito nas características de alguns novos donos da banca – fundos de capital de risco – que as instituições voltarão a mudar de mãos daqui a uns anos. Veremos então quem lhes pega.
Quase a entrar no Novo Banco está a Lone Star. E se a Impresa se viu obrigada a cancelar a sua emissão de obrigações, a oferta de compra lançada pelo banco parece ter pernas para andar. É tudo mais fácil quando a alternativa é muito pior. Entre a parede das perdas parciais e a espada de um "bail-in" ou liquidação, a primeira opção impõe-se por si. Além do chicote, o Novo Banco teve o cuidado de incluir uma cenoura, como lhe chamou um analista. A mais importante é o depósito que permitirá compensar, em grande parte, as perdas dos pequenos investidores.
De uma assentada, o banco reforça o capital e livra-se de um pesado encargo em juros que lhe castigava a rentabilidade. Financiar-se no BCE e nos depósitos sai bem mais barato. Fica aberta a via para os americanos tomarem, enfim, conta do banco. Até ao dia em que surgir uma oferta generosa o suficiente para os convencer a ir para outras paragens. Afinal, é só esse o seu compromisso.
Fonte: Jornal de Negócios
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