A recuperação da banca de origem portuguesa continua o seu rumo. Falo em origem portuguesa porque, naturalmente, hoje em dia, não é fácil falar em bancos portugueses, mas antes com essa origem e/ou com sede em Portugal.
Pedro Santana Lopes 26 de julho de 2017 às 20:44
Falando desse conjunto de bancos de raiz nacional, onde estão praticamente todos a recuperar do difícil processo que tiveram de atravessar para resistirem a vários fatores negativos, a várias ameaças e a várias propostas, o mais difícil para estas instituições não vai ser só a tarefa de consolidar esse processo de recuperação, elas vão igualmente ser obrigadas a levar por diante uma profunda atualização naquilo que são os ditames das novas tecnologias e as exigências dos mercados. Terão de continuar ou encetar uma linha de inovação e digitalização, que lhes permita ganhar eficácia, reduzir custos de funcionamento e responder aos desafios colocados por bancos de outras latitudes. Cada vez menos os clientes entrarão nos bancos para fazer seja o que for, e mesmo decisões sobre créditos, por exemplo, na habitação, serão resolvidos numa hora por smartphone.
Terão ainda de responder às exigências contínuas de Basileia III que, ignorando, em certa medida, as difíceis situações que os bancos de origem nacional e outros bancos europeus atravessaram, continua a pedir rácios de capital como se nada tivesse acontecido, o que só pode favorecer a linha predominante de apoio ao poder de grandes bancos, regionais ou mesmo pan-continentais. Além dessas questões, os bancos de origem e/ou com sede em Portugal terão ainda de ser capazes de realizar a adaptação às exigências das novas diretivas: PSD II, sobre os sistemas de pagamentos da União Europeia, e MIFID II (ou III), sobre a integração e transparência dos mercados financeiros. A própria banca sabe que em vários destes domínios está ainda muito atrasada. E só essa recuperação de atraso e a resposta a todos esses desafios permitirá que os bancos se foquem mais e melhor no serviço ao cliente, o que, por agora e neste quadro, será naturalmente difícil.
Todas estas realidades aconselham um forte empenho dos Estados para que, dentro daquilo que lhes compete, possam propiciar condições para os respetivos sistemas financeiros - será ainda possível falar assim hoje em dia?? - se modernizarem e poderem sobreviver. Quem pensou ou pensa, porventura, que qualquer injeção de capital, ou venda de malparado, ou entrada de um qualquer fundo, por muita capacidade que tenha, consegue garantir o futuro das instituições financeiras, está muito enganado.
Advogado
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
Fonte: Jornal de Negócios
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