quinta-feira, 27 de julho de 2017

PSD não desiste: Pedrógão "não está encerrado" e "indigna" é a atitude do Governo

Apesar de divulgada a lista de mortos, o caso não está encerrado, avisa o deputado Carlos Abreu Amorim, que devolve as acusações de que o PSD teve um comportamento "indigno" e se "aproveitou politicamente" do assunto.
Miguel Manso
MIGUEL MANSO

"Os casos em democracia nunca estão encerrados" - o remate do deputado Carlos Abreu Amorim em resposta ao PÚBLICO, ao início desta tarde, no Parlamento, mostra que a polémica sobre a lista das mortes na sequência do incêndio de Pedrógão Grande continuará a servir de guerrilha entre PSD e Governo nas próximas semanas.

O vice-presidente da bancada social-democrata quis falar aos jornalistas para criticar as declarações de vários membros do Governo na quarta-feira e para vir reclamar os louros do PSD pela divulgação, pelo Ministério Público, da lista de 64 mortos e de outros dois em investigação.

"O PSD congratula-se por o Governo estar satisfeito pela divulgação da lista nominativa. Mas convém não esquecer que foi graças à actuação enérgica do PSD, e contrariando tudo aquilo que o Governo vinha defendendo publicamente há semanas, que esta lista foi conhecida", vincou o deputado. Pôde acabar assim o "clima de suspeição que estava a grassar por todo o país", acrescentou, criticando a "lógica estranhíssima de ocultação" que envolveu o caso. 

Questionado pelo PÚBLICO sobre o timing da divulgação da lista - horas depois de o PSD exigir que o Governo pedisse o fim do segredo de justiça e a divulgasse, e meia hora antes de o Presidente da República chegar ao incêndio de Mação - o deputado social-democrata disse que a "posição enérgica" do PSD "não era para o Ministério Público mas ainda bem que teve resultados", vincando o "papel fundamental" das exigências de Hugo Soares.

Carlos Abreu Amorim considerou "totalmente descabidas e desajustadas" as acusações do Governo ao PSD de que o partido está a fazer um "aproveitamento político" do assunto e que esse é um comportamento "indigno". São acusações "estranhas e até um pouco desesperadas" de membros do Governo que "fazem ricochete", disse o deputado. "Com as suas acusações e política de passa-culpas que estão a fazer há mais de um mês sobre esta tragédia, o que parece estar a acontecer é uma inegável gestão de comunicação e marketing político elevado ao ponto máximo, que criou este clima de suspeição e desconfiança, que é muito negativo."

Porque, argumentou, pegando no termo atirado pela esquerda ao PSD, "indigno" é o facto de ainda "não ter chegado [a Pedrógão Grande] um cêntimo do dinheiro público e do dinheiro privado" angariado em acções de solidariedade; ou o facto de o PS ter impedido que o Parlamento aprovasse um mecanismo urgente extra-judicial de indemnização às famílias das vítimas mortais e aos feridos graves; ou ainda a "lei da rolha que condiciona a comunicação social" ao restringir a dois resumos diários a comunicação da Protecção Social; ou até o facto de o Governo ter mudado o comando da Protecção Civil a poucos meses do Verão; e também existir uma "lógica de passa-culpas absolutamente compulsiva em que ninguém assume responsabilidades".

O deputado criticou ainda o facto de ser "inegável que o Estado falhou" e que não tenha havido um "responsável governamental, nem o próprio primeiro-ministro, que viesse pedir desculpa ao país ou às populações directamente afectadas pela tragédia dos incêndios. Com toda a sinceridade, já era tempo de isso ter acontecido."

Carlos Abreu Amorim recusou ver nas declarações de Marcelo Rebelo de Sousa - que disse que na ditadura é que as instituições escondiam informações sobre catástrofes - uma crítica dirigida ao PSD, por o partido acusar o Governo de esconder os dados da lista. 

"É uma constatação de um facto", disse, lembrando que na ditadura é que as entidades se sentem manietadas e por isso mesmo o PSD "não entende porque o Governo andou tanto tempo para conseguirmos ter a lista de nomes, que é o dado mais básico numa tragédia destas. O deputado fez ainda questão de lembrar a sucessiva atitude do Executivo que, descreveu, primeiro disse que a lista estava no Instituto de Medicina Legal, depois na Protecção Civil, a seguir na PJ e só depois no Ministério Público. Ora, tirando este último, os primeiros três estão sob a tutela do Governo. "Não se entende porque promove esta lógica anti-democrática do passa-culpas."

Fonte: Público

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