sábado, 1 de julho de 2017

MATERIAL DE GUERRA DE TANCOS PARA O ESTADO ISLÂMICO? NUNCA SE SABE…




Este devia ser o Expresso Curto matinal no formato rigoroso do habitual, mas não. Já não são horas disso. Estamos quase na hora do lanche. Se bem que para muitos parasitas seja agora hora do pequeno-almoço. Isso é outro assunto, contudo não será agora que pegamos no spray antiparasitas. Adiante. Pois.

Ricardo Marques, do burgo do tio Balsemão Bilderberg, conhecido por Expresso e sei lá que mais, foi quem serviu o Curto que nos dá a possibilidade de estar para aqui a teclar. Boa tarde.

Ricardo traz novamente os fogos à baila, depois de uma citação em inglês para quem perceba. Pois. Até dá ganas de também preencher esta prosa com uma citação em tétum… Só para Ricardo ficar às aranhas, como tantos e imensos portugueses ficarão com o inglês ricardoide. Adiante, come back son, you're forgiven. Pois.

Por aqui, no PG, não estamos nessa de dar mais relevo a políticos badalhocos. Daqueles que fazem política sobre os cadáveres de 64 vítimas dos fogos e que até inventam suicídios. Passos Coelho é mesmo um grande porcalhão mental e político, um manipulador dotado de uma deslealdade e falta de respeito e decência para com todos que não são ele e talvez mais uns quantos amigalhaços. Adiante.

E então não é que agora (ou já há tempos?) se instalou em Portugal um circo a que vulgarmente chamam tropa e que é uma bandalheira? Bonito serviço… As chefias militares endoidaram e rasgaram o RDM? E também todos os preceitos escarrapachados para cumprir à risca a doutrina nem que lhe passe um mangalho pela boca? Desculpem este palavreado caserneiro mas é para ver se os tropas entendem alguma coisa do que aqui é escrito. É em português, não é noutras línguas. Certo?

Todo este minidesaforo porque ontem diziam que tinham roubado de uma unidade em Tancos cerca de 100 granadas e algumas munições de 9 milímetros (de guerra buracona). Afinal tudo foi atualizado. Para pior.

Citação (dos jornais em português): “Quarenta e quatro lança-granadas e quatro engenhos explosivos "prontos a detonar" foram roubados das instalações militares dos Paióis Nacionais de Tancos na quarta-feira, foram ainda roubadas 120 granadas ofensivas e 1500 munições de calibre 9mm (apenas autorizado a forças de segurança e militares) e 20 granadas de gás lacrimogéneo.”

Carago, é obra!

Foi declarado que as câmaras da segurança de videovigilância estão avariadas há um ano. Não há verba para as reparar ou a todo o sistema (não sabemos realmente qual a abrangência da avaria). Bandalheira. Chefias da treta. Generais pum-pum. E outros que tais.

Até apetece perguntar: se assim é porque não existe guarda permanente aos paióis? Agora já não se usa devido às novas tecnologias? E também não existem rondas in loco porque fazem as rondas por vídeo? Ai tão finos que os Maria Alice estão!

Claro que houve fugas da unidade sobre o estado da falta de vigilância, de controle, dos paióis. E claro que o material de guerra roubado só serve a grandes organizações do crime organizado e a terroristas, o que é praticamente a mesma coisa.

Claro que as chefias militares têm toda a responsabilidade pelo que aconteceu, começando pelas altas patentes e terminando nas intermédias-baixas. Uma bandalheira!

Não é a desculpa da falta de verbas para reparar o sistema de videovigilância que serve de justificação porque, assim sendo, existem militares, soldados, que podem fazer os turnos de guarda aos paióis em permanência, além das rondas que garantam a operacionalidade. Ou será que já não existem militares, soldados, cabos e sargentos, pelo menos, nas unidades militares?

Sabem que mais? O RDM e afins (Regulamento de Disciplina Militar), é impossível de cumprir. A essa conclusão chegou o tipinho que o escreveu… Que depois se suicidou porque afinal não tinha pedido autorização ao seu superior hierárquico para o escrever – é o que dizem. Mesmo sendo impossível de cumprir na totalidade existem procedimentos militares que praticamente nem precisariam de regulamentação porque qualquer pessoa sabe que material de guerra deve ser permanentemente guardado. Até um miúdo sabe que tem de tomar cuidadosamente conta da sua fisga, quanto mais militares profissionais!

Desculpem lá… Aqui há gato. Pois.

Sigam para o Expresso Curto. À vontade, porque esta tropa demonstra que está toda uma grande bandalheira… Até é provável que ande a fornecer material de guerra ao dito Estado Islâmico. Não? Ora, desde que se viu porcos a andar de bicicleta e homens com a cabeça na lua, mesmo lá na lua, juntamente com o resto do corpo, tudo é possível.

Mancebos, do general ao básico, mostrem que sabem andar na tropa.

Depois de escrito, soma e segue:

A lista negra do material de guerra “roubado” aumenta a conta-gotas… Ainda há mais? E porque não referem exatamente as quantidades, senhores generais pum-pum?

O Exército revelou que foi roubado mais material de guerra do que inicialmente se supunha. Entre o material roubado na quarta-feira dos Paióis Nacionais de Tancos estão "granadas foguete anticarro", granadas de gás lacrimogénio e explosivos, mas não divulgou quantidades.



MM | PG

Sem culpa nem desculpa

Ricardo Marques | Expresso

"Trees, we exclaim, trees, there, and there, can’t you see them, and we point straight ahead and behind us, where there are probably trees that the child probably sees. Or aren’t there any trees?”

"The parable of the blind", Gert Hofmann

A pessoa tenta, juro que tenta, mas é difícil. Não é esquecer, porque isso é impossível, mas é só não pensar tanto. Talvez pensar noutra coisa, mas é difícil.Amanhã faz duas semanas que aquilo aconteceu e, por mais que a pessoa tente, amanhã faz duas semanas que andamos a discutir aquilo. E o que assusta mais é que estamos exatamente na mesma. Ou pior.

Esta manhã dei por mim a desejar duas coisas em que sempre evitei pensar. A primeira é estar enganado, desejar que, daqui a um mês ou um ano, a realidade prove que tudo o que vou escrever a seguir seja mentira, que não passe de um enorme erro.

Ontem, depois de um ensaio morno na véspera, começámos a assistir a uma nova versão de uma peça antiga, que todos já conhecemos de cor. Estreou no Parlamento e fora dele, com uma guerra em curso entre a Proteção Civil e a Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna. A coisa é mais ou menos assim: vai para lá, vem para cá, salta para ali e depois para acolá. A culpa é dele, a culpa é daquele, e do outro e de mais um ou dois. Devia ter sido assim, não devia ter sido como foi. Falam demasiado, agora estão calados.

É inadmissível, incompreensível, impossível e, a pouco e pouco, a discussão em Lisboa vai ficando mais longe daquelas aldeias, daquelas estradas, daquelas pessoas.

Com uma diferença em relação ao passado: antes havia três partidos comprometidos com todos os governos desde 1974. Hoje ninguém na Assembleia da República pode dizer seja o que for. O que aconteceu há duas semanas até poderá não ter culpados. O tempo o dirá. Mas nem essa possível ausência de culpa irá alguma vez apagar algo que não tem desculpa.

Em breve vai começar a trabalhar a comissão (12 técnicos especialistas: seis indicados pelo presidente da Assembleia da República e outros seis pelo Conselho de Reitores) encarregue de “proceder a uma avaliação independente em relação aos incêndios de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Ansião, Alvaiázere, Figueiró dos Vinhos, Arganil, Góis, Penela, Pampilhosa da Serra, Oleiros e Sertã”.

Um conselho para este concílio de sábios que vai investigar o indesculpável: não se limitem a ler relatórios e análises, a mergulhar no passado a ver quem fez o quê, a marcar reuniões em Lisboa com os autarcas e as “forças vivas” das terras mortas. Metam-se no carro, sujem os pés de cinza, vão depressa para ainda sentirem o cheiro a queimado. Falem com quem não morreu. Falem com os sobreviventes. Andem mais uns quilómetros por esse país tão distante da cidade e vejam o que não ardeu.

Têm 60 dias, mais trinta se for preciso - até depoisdas eleições autárquicas, quando o outono já tiver chegado - para perceber e explicar a tragédia de uma só noite. O Governo fez ontem um novo balanço dessa noite indesculpável.

E a ministra da Administração Interna anunciou que vai mandar 750 operacionais para o terreno, de modo a garantir a vigilância das zonas mais críticas. Eis algo que, há uns anos, nos teria deixado descansados. Hoje? Não. Não há um número capaz de nos tranquilizar depois de 64 pessoas terem morrido numa noite.

E é por isso que esta manhã também dei por mim a pensar, pela primeira vez na vida, que só quero que o verão passe depressa.

OUTRAS NOTÍCIAS

O incêndio de 17 de junho deve voltar a ser o assunto mais discutido durante o dia de hoje, mas não será o único. Segue-se a habitual lista de temas a que convém prestar atenção nesta sexta-feira - dia em que não só se assinalam 150 anos da lei que aboliu a pena de morte para crimes civis em Portugal, como também se ‘celebra’ o Dia do Asteróide (que serve para sensibilizar a humanidade, e quem passar por Serralves, para o perigo desses monstros espaciais errantes).

Na Terra, nesta nossa terra, desapareceu material de guerra de uma base do Exército. O Diário de Noticias traz a lista na capa: 44 lança-granadas, quatro engenhos explosivos “prontos a detonar”, 120 granadas ofensivas e 1500 munições de 9mm.

A história está contada aqui, neste artigo do Expresso, que mostra também como é fascinante a Internet, essa coisa diabólica que nos permite contemplar através do Google Maps as instalações militares. Com um pouco mais de zoom quem sabe se não conseguiríamos ver os tais buracos na rede por onde entraram os assaltantes que foram aos paióis de Tancos.

O ministro da Defesa diz que o assunto é grave. Nem de propósito, saiu há semanas na revista E um artigo sobre estas estranhas ocorrências.

Apesar do tempo fresco, a temperatura sindical parece estar a aumentar. Os juízes estão reunidos hoje e amanhã, em Sintra, para discutir o novo estatuto. Isto depois de ontem a Associação Sindical de Juízester admitido a possibilidade de uma greve em agosto.

Na Saúde, o ministro Adalberto Campos Ferreira subiu o tom na discussão com o Sindicato dos Enfermeiros e pediu ao Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República um parecer urgente sobre o protesto de zelo dos enfermeiros, que ameaça paralisar as unidades de saúde materna e obstetrícia. Ou seja, é capaz de ficar um bocadinho mais difícil nascer. O ministro alega que não pode "admitir ficar refém de atitudes e posições irregulares e desadequadas”. A Vera Lúcia Arreigoso explica.

Justiça, Saúde… Educação, e a polémica do dia, que já vem de ontem, andará à volta dos manuais escolares e sua reutilização. Ou não. Aproveite para ver um vídeo que explica o que está a acontecer.

Hoje termina o prazo para os trabalhadores precários do Estado pedirem a avaliação das respetivas situações contratuais de modo a conseguirem entrar nos quadros. O que os espera, disse o ministro Vieira da Silva, é menos dinheiro mas mais segurança.

No Brasil, é dia de greve geral, ainda que no Rio de Janeiro haja menos umas dezenas de policias a garantir a segurança - porque foram presos numa mega-operação de combate à corrupção. 62 até agora.

Ali perto, está a prova de que o maior problema de nada mudar é que nos habituamos depressa. Isto vem a propósito de algo que seria grave em qualquer país do mundo, mas que na Venezuela é apenas só mais um episódio - e nem sequer dos mais graves. O aparelho do presidente Nicolas Maduro virou-se contra a Procuradora Geral.

Nas últimas 24 horas, depois de andar um helicóptero a lançar granadas sobre o Supremo Tribunal , morreram mais 5 pessoas. São 83 vítimas desde 1 de abril, um cruel dia das mentiras.

Na mesma linha de incómoda habituação, temos o caso de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos do Twitte..., perdão, da América. Ontem atirou-se aos apresentadores de um programa de televisão, gabou-se de já ter deportado metade de todos os membros do gang salvadorenho MS-13 (exagerou, claro) e congratulou-se com a entrada em vigor de parte da lei que limita a entrada nos EUA a cidadãos oriundos de seis países.

Trump, já se sabe, tem um cantinho especial nestes Expressos Curtos, e hoje não podia ser exceção. Afinal, na terça-feira assinala-se o primeiro 4 de Julho da América a caminho de tornar “great again”. Na “Economist”, há um editorial sobre tão festiva data: “Trump não é apenas um sintoma das divisões na América, é também uma das suas causas”. Uns dias depois, na sexta-feira, Donald vai estar em Hamburgo, na Alemanha, para a reunião do G20 e a grande notícia é o encontro com Vladimir Putin (já vamos à Russia...).

Os alemães votam hoje a legalização do casamento homossexual (ai, Donald, onde te vais meter...). A chanceler Merkel deu liberdade de voto aos seus deputados e a oposição vai votar a favor.

O Iraque declarou o fim do Estado Islâmico no território, com a conquista da grande Mesquita de al-Nuri, ou das suas ruínas.

O caso do cardeal australiano acusado de abusos sexuais será também um dos temas de hoje. George Pell anunciou que vai regressar à Austrália para se defender. Garante estar inocente e ser vítima de uma campanha. Pode ler a história em inglês e no Expresso.

Por outro lado, há pessoas que não podem sair de onde estão, como acontece ao deposto príncipe herdeiro da Arábia Saudita. Está proibido de deixar o reino e foi substituído no lugar mais apetecível da linha de sucessão pelo filho preferido do rei.

A guerra cibernética, algo que ainda há poucos anos andava nos livros de ficção científica, está mesmo entre nós. Primeiro o Reino Unido, agora a Ucrânia. Em comum, o arsenal da NSA.

Três notas rápidas sobre histórias para ler mais ao fim da tarde, quando já cheirar a sábado. Uma sobre mosquitos, diz que é altura deles; a segunda é sobre um polémico memorial na Noruega, na ilha onde Anders Breivik matou 77 pessoas em 2011; e mais um sobre a super-realizadora do filme da Super-Mulher.

Portugal joga com o México domingo, em Moscovo, a final dos tristes. Sem Ronaldo, que foi para Madrid ver os filhos e, segundo a Marca, tranquilizar os dirigentes do Real Madrid. E sem o lesionado Raphael Guerreiro, de volta ao Borussia Dortmund, na Alemanha, seleção que joga com o Chile, em São Petersburgo, a verdadeira final da Taça das Confederações.

Sendo assim, é útil saber o que vai acontecendo na capital russa. Valha-nos o “Moscow Times” para nos contar sobre os cinco homens envolvidos no homicídio de um oposicionista do Kremlin, há dois anos, numa das principais ruas de Moscovo. Segundo o artigo, terão recebido15 milhões de rublos (240 mil dólares) para assassinar Boris Nemtsov, a mando de um responsável dos serviços de segurança da Tchetchénia.

No mesmo jornal, um tipo qualquer entrou pela janela de um escritório do Banco Central da Russia e desapareceu com 11 milhões de rublos. Um verdadeiro número de magia.

Anda por aí uma discussão sobre bruxos e jogos de futebol. Não me vou alongar muito porque, francamente… Mas não me perdoaria se omitisse as sábias palavras que ontem ouvi ao Jorge Araújo, e que aqui reproduzo com a devida autorização:

"Se a macumba ganhasse jogos, a Guiné Bissau era sempre campeã do mundo".

MANCHETES

Correio da Manhã: "Ministra com carro assaltado na noite da tragédia"

Diário de Notícias: "Lança-granadas e engenhos explosivos roubados em Tancos"

Jornal de Notícias:"Metade do país aceita corrupção autárquica"

Público: "Renegociações do SIRESP foram feitas à custa do corte de meios"

i: "Drones: um desastre à beira de acontecer"

O QUE ANDO A LER

Há dias, ao procurar gastar tempo até uma consulta, entrei numa livraria e saí de lá com os “Contos Maravilhoso”, de Hermann Hesse. É o livro ideal para esperar, feito de pequenas histórias onde cabe tudo.

Não resisti e atirei-me à última, “Os dois irmãos”, que começa assim: “Era uma vez um pai que tinha dois filhos. Um deles era belo e forte; o outro pequeno e aleijado, pelo que o grande desprezava o pequenito”.

Isso mesmo. O mais novo ajudou a transportar o tesouro dos anões para uma montanha de vidro e o mais velho, que foi para a guerra e ficou ferido no braço direito, acabou a mendigar na rua. Um dia encontraram-se, junto à montanha, e, entre lágrimas, o mendigo falou ao homem que o olhava. O conto acaba com estas linhas, que começam com o mais velho a falar:

“É bem certo que em tempos tive um irmão, pequeno e deformado, assim como o senhor, mas tão bondoso e amável que decerto me ajudaria, só que eu, insensível, escorracei-o, e já há muito que dele nada sei.” Disse então o pequenito: “Sou eu mesmo o teu pequenito, fica comigo e não irás passar necessidades”.

É bonito, mas mais bonito é saber que Hesse tinha 10 anos quando escreveu este conto.

Já agora, se tiver tempo, leia este artigo da New Yorker. Foi de lá que, qual assalto ao paiol de Tantos, roubei a frase que abre este Expresso Curto. Começa tudo com um quadro de Bruegel, “A Parábola dos Cegos”, de 1568, e salta para um livro de 1985 que imagina a história na origem da pintura.

Cegos a guiar cegos por um caminho que ninguém conhece.

Tenha uma boa sexta-feira. Há informação a qualquer hora no site do Expresso, as melhores notícias do dia às seis da tarde, no Diário, e a melhor informação da semana, amanhã, nas bancas e em formato digital.

Bom fim de semana.

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