O Turismo do Centro de Portugal quer investir um milhão de euros para compensar os empresários dos efeitos dos incêndios.
Na semana em que a reforma da floresta esteve em discussão no Parlamento, com o ministro da Agricultura a admitir ontem que não permitirá mais plantação de eucaliptos e que se empenhará no não abandono das terras, perguntámos a Pedro Machado, presidente do Turismo Centro de Portugal, como se faz renascer das cinzas um território que foi afetado pelos grandes incêndios de Pedrógão Grande.
O primeiro passo “passa pela urgência de restabelecer a operação turística e alterar a perceção do mercado”. Pedro Machado revela que foram 40, os estabelecimentos atingidos pelos incêndios em Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, “nos quais precisamos de rapidamente de repor as infraestruturas”. Desde o dia 18 “já se apurou que não há unidades destruídas pelo fogo, mas há infraestruturas importantes afetadas ao redor das unidades”.
O Turismo do Centro de Portugal tem equipas no terreno a fazer levantamento junto dos hoteleiros e ontem Pedro Machado reuniu-se com Luís Araújo, presidente do Instituto de Turismo de Portugal, e outras entidades “no sentido de garantir que os prejuízos materiais são supridos no imediato”, conta.
Mudar a perceção pública sobre aqueles territórios a nível nacional e internacional é, para Pedro Machado, o maior desafio: “Vamos começar pelo nacional e mostrar que aqueles territórios estão em condições de receber a atividade turística. A primeira aposta é procurar que o mercado nacional que hoje está solidário passe também a estar comprometido com o destino e com estes empresários, para que daqui a um, dois ou três meses tenham como alimentar os negócios”, explica.
“É preciso desmistificar a perceção de que o centro de Portugal está todo reduzido a cinzas. Não está. Estes concelhos representam 4% do território do centro, dos 70 percursos pedestres foram atingidos cinco a seis percursos, e dos milhares de quilómetros de cicloturismo foram atingidos 200.”
Com o objetivo de promover o destino já arrancou uma campanha promocional na rádio e online, em parceria com o Turismo de Portugal. “Estamos a desafiar empresas para ali fazerem as suas reuniões, como é o caso da APAVT, que vai fazer a reunião anual no Casal de São Simão, turismo rural das aldeias de xisto, no concelho de Figueiró dos Vinhos.”
Para atuar são precisos recursos financeiros e Pedro Machado garante que “neste momento há instrumentos disponíveis, aliás estava a iniciar-se agora a aplicação de fundos do Portugal 2020 e uma das rubricas tinha que ver com campanhas de posicionamento.
Vamos aproveitar esses instrumentos para acudir e, considerando o impacto dos incêndios na operação e o que os estabelecimentos poderão deixar de faturar no prazo de quatro a seis meses, vamos precisar de investir um milhão de euros”, valor que apresentou ontem ao governo. Nele se inclui “um valor compensatório, que já discutimos com o Turismo de Portugal, para ter verba para o restabelecimento da atividade turística do território”. Também ontem houve uma reunião com os empresários da região para pôr em marcha várias ações, desde uma campanha de outdoors ao lançamento de serviços de GPS para turistas que percorrem os trilhos no meio da floresta.
Depois dos incêndios logo se fizeram sentir os cancelamentos de reservas hoteleiras na região e Pedro Machado lamenta que “tenham sido feitas pelos portugueses”. Os estrangeiros “não só as mantêm como as estão a aumentar”. E apela: “A solidariedade não se proclama, pratica-se.” Além disso, “depois de casa roubada, trancas à porta. E a vigilância e meios de combate estarão mais ativos do que alguma vez estiveram”.
Do lado do governo está em cima da mesa baixar a TSU às empresas da região ou isentar de contribuições os trabalhadores independentes do turismo. Na opinião do líder do Turismo Centro de Portugal, “trata-se de sugestões de políticas públicas, em que nós participámos e algumas integram o programa Valorizar, com incentivos e valorização dos chamados territórios de baixa densidade. Mas defendemos ainda não só uma redução de IRC mas, em alguns casos, a eliminação do IRC por um prazo até dois anos, para as empresas que foram atingidas no seu âmago, assim como uma linha de crédito sem juros, já que as empresas precisam de fundo de maneio para recomeçar”. E, claro, “é urgente fazer a reforma da floresta e fiscalizar a aplicação das leis”.
Quanto às responsabilidades políticas, diz que “há um tempo para as apurar. A culpa não pode morrer solteira”.
Dinheiro Vivo
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