Vítor Santos* | Jornal de Notícias | opinião
Podemos passar a manhã a queixar-nos de um país que não nos dá aquilo que merecemos e a tarde a dizer que não há cantinho no planeta igual a este. É tão absurdo como legítimo. Mas há elementos que nos atiram para o facto de Portugal ser, cada vez mais, um sítio desejado para viver. Os mais pessimistas já nem podem argumentar que só os estrangeiros oriundos de países do Terceiro Mundo procuram Portugal para mudar de vida. Segundo o Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo de 2016, os ingleses, por exemplo, já superaram, por cá, os angolanos em número de residentes. Esta é uma realidade nova e a merecer reflexão. Não só para nós, como para os britânicos, que em breve terão de lidar com o Brexit em toda a sua dimensão, eventualmente enfrentando condições menos favoráveis para tostar a velhice nas praias do Algarve.
Com a crise económica e financeira que nos deixou no limiar da bancarrota aparentemente ultrapassada - os seus efeitos, esses, vão manter-se por décadas -, apresentamo-nos outra vez como destino de eleição, invertendo uma tendência de quebra de imigrantes que se acentuava desde 2010. E agora nem sequer é apenas para uma visita rápida, potenciada pelas low-cost dos ares, é mesmo para se fixarem aqui. À semelhança dos britânicos, aliás, também os franceses passaram a procurar mais Portugal, embora não seja possível, com o documento em causa, perceber se estes estrangeiros residentes vêm para trabalhar ou para recuperar de uma vida inteira de trabalho.
Independentemente das motivações - queridos estrangeiros, parto do princípio que não se fixam para fazer asneiras -, importa assinalar que Portugal se tornou um país apetecível. Veremos, no próximo ano, a que ritmo se desloca esta curva e se continua a ser de crescimento. O único lamento consiste nesta outra ideia que não me sai da cabeça e tem a ver com o facto de, cada vez mais, me parecer que Portugal está a transformar-se num ponto de fixação ótimo para os estrangeiros e pouco recomendável para os portugueses, que continuam a emigrar com alguma consistência. Não há Brexit que trave a debandada. E quando saímos, procuramos, sobretudo, encontrar um emprego conjugado com um salário decente, coisa que os nossos jovens poucas vezes conseguem merecer sem atravessar fronteiras. Como nos dizem dados revelados em fevereiro, somos o segundo país europeu com mais emigrantes, em termos percentuais, em relação ao número de habitantes. Ou seja, o país serve para os estrangeiros, mas nem sempre é bom para nós. E isto, sim, é preocupante.
*Editor-executivo-adjunto
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