Até 2025, as cadeias de distribuição querem acabar com venda de ovos de galinhas em gaiola, que representa 91,5% da produção nacional.
Alfredo Martins veio de Tomar satisfeito com o que viu na quinta. “Fiquei mais descansado, depois de ver a forma como as pintas estão a adaptar-se à nova forma de produção”, desabafa o diretor-geral da Zêzerovo, uma das maiores produtoras de ovos nacional e que até aqui produzia apenas ovos de galinhas criadas em gaiola.
Mas com a decisão das cadeias de distribuição de, o mais tardar até 2025, acabar com a venda dos ovos de galinhas criados em gaiolas, a Zêzerovo vai ter de mudar. A produção que viu em Tomar é o primeiro passo: com 12 semanas, as pintas não tarda seguem para o pavilhão que, em setembro, recebe 70 mil galinhas para postura em solo e, no qual, só em infraestruturas, a produtora vai aplicar 1,5 milhões de euros. Até 2018, a Zêzerovo prepara-se para investir até 5 milhões na produção. “É uma exigência do mercado”, diz.
O Lidl foi o primeiro a decidir pôr fim à venda de ovos de galinhas criadas em gaiolas. “Só vendemos ovos de marca própria e esses ovos são de galinhas criadas no solo ou criadas ao ar livre”, explica fonte oficial. Foi um efeito em cadeia. Em abril foi a vez do grupo Jerónimo Martins (Pingo Doce e Recheio) e este mês do Intermarché darem aos produtores nacionais até 2025 para se adaptar. O Continente e Auchan (Jumbo e Pão de Açúcar) ainda não definiram uma data. Tudo vai depender dos consumidores. “Vamos acompanhar de perto as preferências para ajustar a oferta”, diz fonte da insígnia da Sonae. “A estratégia das nossas marcas, no futuro imediato será aumentar o sortido de venda de ovos provenientes de galinhas criadas em solo”, refere Filipa Rebelo Pinto, diretora de produto da Auchan. “Estamos atentos aos consumidores e seremos proativos na resposta às suas necessidades.”
O impacto no setor de produção é tremendo. “Preparado o setor não está. Com esta iniciativa do Lidl está esgotada a capacidade de produção de ovos produzidos por métodos alternativos às galinhas em gaiola”, admite Paulo Mota, porta-voz da Associação Nacional dos Avicultores Produtores de Ovos (ANAPO). A indústria terá de fazer uma profunda adaptação: do parque instalado de 8,2 milhões de galinhas, 91,5% são de galinhas criadas em gaiolas. Para adaptar, acredita a associação, vai ser necessário investir “muitos milhões” e os produtores, alerta, estão ainda a recuperar os investimentos feitos em 2012 para adaptar as gaiolas convencionais às melhoradas, em que foram investidos 75 milhões.
E depois de anos difíceis vão ter de voltar a investir – “nos últimos cinco anos não tem sido fácil para os produtores, com alguns meses a vender abaixo do preço de produção”, reconhece Alfredo Martins. A Zêzerovo, que escoa 60% da produção para as cadeias de distribuição, já está a fazer esse processo de adaptação. Depois do pavilhão com capacidade para galinhas criadas em solo previsto para setembro, em janeiro de 2018 vão investir em mais 35 mil galinhas ao ar livre e mais 70 mil galinhas criadas em solo. “Estamos a pensar também apostar no ovo biológico [6 mil galinhas], porque pensamos que aí o consumo vai aumentar”, adianta Alfredo Martins. Em dois anos, contam investir 4 a 5 milhões “só em infraestruturas”.
Ainda não é possível saber o impacto nos preços ao consumidor, tendo em conta que os custos de produção são maiores, dizem as retalhistas. O Lidl garante que os preços se mantêm. “A questão terá de ser vista juntamente com a produção”, refere o Intermarché. Dado o prazo de 2025, “é ainda prematuro anteciparmos o eventual impacto no preço dos ovos”, explica a Jerónimo Martins.
Fonte: Dinheiro Vivo
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