O mestre budista tibetano Sakya Trizin | D.R.
Pela primeira vez em Portugal, entre os dias 20 e 24, Sakya Trizin falará em Lisboa sobre o poder da compaixão, o porquê e o como treinar a mente, a importância de fazer retiros
Estará em Portugal entre os dias 20 e 24 para uma conferência sobre budismo e meditação. Porque é que acha que, cada vez mais, nos países ocidentais, Portugal incluído, há mais pessoas interessadas na prática da meditação?
Acho que toda a gente no mundo deseja viver livre de sofrimento e ser feliz. O progresso material que temos dá-nos uma sensação de alívio e uma felicidade temporários, mas mesmo assim não conseguimos viver uma felicidade verdadeira. Então, através da meditação é possível treinar a mente e, ao treinar a mente, nós podemos encontrar a verdadeira paz e a verdadeira felicidade. É por isso que cada vez mais pessoas estão interessadas em fazer meditação.
Diz que toda a gente deseja viver sem sofrimento e ser feliz. Mas muitas pessoas parecem não conseguir fazê-lo. Porque acha que tal acontece?
Porque temos uma grande tendência para nos deixarmos apanhar numa teia de ilusões. E por isso é difícil lutar. Mas uma vez que se começa e à medida que se vai caminhando, quanto mais tempo se dedica [à meditação], mais se consegue e, eventualmente, chegamos a atingir um objectivo.
Em Lisboa falará sobre os temas da compaixão e da importância de treinar a mente. Algumas pessoas consideram a prática da meditação muito difícil porque não conseguem concentrar-se. Como podem mudar isso?
Tudo é possível. Se treinarmos, tudo é possível. Pode levar menos tempo para umas pessoas e mais para outras, mas se treinarmos, se tentarmos, um dia, eventualmente, conseguimos fazê-lo.
Costuma ensinar também como se deve enfrentar circunstâncias difíceis: como pode uma pessoa enfrentar situações sensíveis como desemprego, dificuldades financeiras, morte de um ente querido, divórcio, depressão, stress, ansiedade, traumas de infância ou quaisquer outros acontecimentos traumáticos?
Quando se vive numa sociedade injusta e mundana é difícil ultrapassar estes problemas. Quando alguém se depara com estes problemas tem dificuldade em enfrentá-los porque pensa que é um acontecimento ou uma situação rara que apenas lhe acontece a si. Então, por isso, é tão difícil ultrapassar esse tipo de situações. Mas se olharmos de outro ângulo – Buda disse que tudo é impermanente – estamos mais preparados e é mais fácil enfrentar esse tipo de situações e, eventualmente, ultrapassar tais dificuldades.
Em Portugal, de acordo com as autoridades de saúde, crianças até aos 14 anos estão a tomar cinco milhões de doses por ano de metilfenidato, um medicamento usado para tratar hiperatividade e défice de atenção. Entende que estes números seriam diferentes se houvesse, por exemplo, meditação nas escolas?
Os medicamentos ou as drogas só oferecem um alívio temporário e criam um hábito sem o qual uma pessoa pode, no limite, não conseguir saber viver. A meditação muda a mente. E quando a mente muda torna-se muito estável. Conheço muitas pessoas que consumiam drogas, que fumavam, que eram alcoólicas e, ao princípio, não conseguiam viver sem isso. Mas depois tentaram abandonar esses maus hábitos, começaram a fazer meditação, estudaram e foram bem-sucedidas. Se tentarmos, se treinarmos, tudo é possível.
Em plena era da internet e das redes sociais, muita gente continua sem saber lidar com a solidão. Porque têm as pessoas tanto medo de si próprias?
Esse é outro mau hábito, pois como aprendemos a viver em conjunto, não queremos estar sozinhos. Mas se tivermos de estar sozinhos percebemos que, afinal, conseguimos viver felizes.
Qual a importância dos retiros budistas?
Os retiros são importantes porque quando se pratica e medita na agitação do dia-a-dia é difícil conseguir um nível de concentração adequado. Mas quando se está no retiro, longe das pessoas, longe do barulho, longe de qualquer perturbação, a mente torna-se muito calma e pacífica. Então, com base nisso, consegue-se meditar melhor.
Como podemos tornar-nos pessoas melhores e como podemos criar um mundo melhor?
Se treinarmos a nossa mente preocupamo-nos mais com os outros em vez de ficarmos presos em pensamentos de autocontemplação. E assim a mente será mais feliz.
Todos os dias a guerra é notícia. A violência é uma espécie de jogo que nunca acaba?
Eu sou, geralmente, uma pessoa optimista. Nós mudamos. E agora, cada vez mais pessoas percebem que a guerra traz tanto sofrimento a tanta gente, que as pessoas estão mais conscientes da importância de um ambiente de paz. Espero que, eventualmente, todos sigam este caminho.
Fonte: DN/Patrícia Viegas
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