quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Limites na ciência, medo na praia e milhões no futebol


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Enquanto Dormia
 
Diogo Queiroz de Andrade, Director adjunto
 
Olá.
São bons os dias em que podemos começar com notícias felizes. Ontem foi anunciado um passo importante para terminar com a ditadura hereditária. A edição genética CRISPR corrigiu uma mutação que causava uma doença cardíaca que passa de pais para filhos e que afecta uma em cada 500 pessoas. A Andrea Cunha Freitas explica ainda a evolução desta técnica genética de corta-e-cola que um dia nos poderá ajudar a eliminar doenças. É uma evolução extremamente importante que vai demorar a tornar-se comum, até porque a técnica não é consensual. Podemos não a querer usar, mas sabemos que se quisermos já o poderemos fazer. 

A saber

Regressamos à polémica sobre a forma como se processam as inscrições nas escolas para revelar o trabalho de um investigador que diz que há estabelecimentos de ensino que priviliegiam as notas ao escolher anualmente os alunos. O trabalho é da Clara Viana e não é a nossa manchete por acaso.  
Ao mesmo tempo, acordamos ainda no rescaldo do acidente de ontem que vitimou duas pessoas numa praia da Caparica. A história está toda aqui, mas os efeitos ainda se devem prolongar pelos próximos dias.
O Pedro Ferreira Esteves conta que a agitação na Autoeuropa não impediu o arranque da produção do novo modelo da Volkswagen. Há receio de greves e em pano de fundo está um conflito entre os sindicatos e a Comissão de Trabalhadores que tinha negociado o acordo com a administração.
As autárquicas estão a começar a aquecer, com a entrega hoje de algumas listas no -tribunal, nomeadamente Porto e Loures. Para enquadrar todo o tema, vale a pena visitar a plataforma online da Pordata que tem os dados do endividamento dos municípios desde 2007.
Para depois das eleições locais, já há temas em cima da mesa: deu ontem entrada no Parlamento uma petição para a legalização da prostituição em Portugal, que os socialistas dizem que será discutida depois das eleições caso seja aprovada. Já o PCP lançou o debate sobre a fusão da PSP e da GNR numa só força civil, como conta a Maria Lopes.     

A entender

Não há volta a dar: por esta semana estamos mesmo presos ao Brasil, à Venezuela e aos Estados Unidos, pelo que ganhamos menos milhas aéreas nesta viagem. Da noite vem a vitória de Michel Temer na Câmara dos Deputados, onde obteve o apoio de mais de metade dos votantes - pelo que agora só poderá ser processado quando deixar o palácio do Planalto ou quando surgirem novas provas dos vários processos que o podem envolver. A protecção que o Presidente recebeu no Congresso confirma que a classe política está divorciada das expectativas da população, como conta a Rita Siza. E para entender as razões da crise que assola o Brasil também é importante ler este texto da Clara Barata, que explica que há 14 milhões de brasileiros desempregados
Na vizinha Venezuela hoje é dia de entrar em funções a assembleia constituinte escolhida no último domingo. Em pano de fundo, acumulam-se testemunhos e informações sobre a enorme fraude que terá sido levada a cabo na eleição, que impede que o acto seja reconhecido como válido pela comunidade internacional.
Nos Estados Unidos, Donald Trump tem um novo objectivo na sua agenda conservadora: acabar com as medidas de discriminação positiva que priviligiam o acesso às universidades de elementos das minorias.  E isto no mesmo dia em que, contrariado, o Presidente americano lá assinou a lei que prevê sanções à Rússia.
Em agitação está o mercado futebolístico, graças à iminente transferência do futebolista Neymar para o Paris Saint Germain, clube que apesar de ser parisiense é regado os com os petrodólares do Qatar. O jogador brasileiro vai entrar no topo da lista das transferências mais caras e deverá ser o novo símbolo de um país que se quer afirmar no Médo Oriente, especialmente tendo em conta que vai organizar o Mundial de 2022.   

A pensar
Duas leituras em inglês que ajudam a olhar para o mundo de maneira diferente: Da excelente revista online Aeon trago a história do jogo de tabuleiro Monopólio, que foi criado por uma mulher para alertar contra os perigos do capitalismo e acabou a servir como arma de propaganda para pregar as suas virtudes - e promovido por um homem depois de se ter tornado um sucesso. É uma história capaz de fazer pensar sobre a apropriação de representações culturais simples, e talvez até seja a desculpa perfeita para um regresso a este clássico numa destas noites de verão.
Abri a conversa com ciência, volto a ela para fechar, mesmo que com um toque mais ficcional: num ensaio assumidamente especulativo publicado no The Conversation discutem-se os limites do transhumanismo, a ideologia que aguarda pela superação dos limites biológicos graças à fusão entre o homem e a máquina permitida pela evolução da nanotecnologia, da biotecnologia e das ciências cognitivas. É uma leitura longa que, aviso já, pode valer noites em claro. Mas não deixe de dormir, para que o título desta newsletter não se perca. 
Até amanhã. E até já. Aqui, claro.  

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