quinta-feira, 3 de agosto de 2017

A força das evidências

Quando olhamos para a forte escalada de procura turística que existe atualmente em Portugal, só podemos desejar que se mantenha por muitos e bons anos.
Pedro Santana Lopes
Pedro Santana Lopes02 de agosto de 2017 às 21:45

Pode, por vezes, incomodar-nos nas ruas, nos restaurantes ou, por exemplo, nos autocarros, que transportam os turistas para o centro histórico, ou ainda mesmo, na vizinhança em muitos prédios de Lisboa. Mas a verdade, é que o turismo e tudo o que ele traz consigo se tornam, cada vez mais, no grande impulsionador de desenvolvimento económico no nosso país. Por isso mesmo, há situações que não podem acontecer, se queremos que tudo isto seja cada vez mais sustentável e duradouro. O serviço, por exemplo, tem de ser irrepreensível: eficaz e bem-educado. Já vi em Lisboa, em pleno Chiado, empregados de menu na mão a chamarem os turistas, fazendo um gesto a apontar com o polegar para dentro da boca, provocando um olhar de desdém naqueles que tentavam aliciar. E já vi no Algarve, neste verão, restaurantes com pessoas para servir e muito tempo até os empregados se dignarem a vir à mesa ou a trazerem um simples café, preferindo estar à conversa uns com os outros. Podem parecer pormenores, mas não são. Mas vamos ao "pormaior".

O aeroporto de Lisboa, de facto, já não pode ser como é. Independentemente dos números e dos milhões que aumentam todos os anos, num país que queira mesmo viver do turismo, as coisas têm mesmo de mudar. O aeroporto está saturado, as lojas estão encavalitadas umas em cima das outras, a organização do espaço nas partidas é anacrónica e nas chegadas só não é, porque é mais do que isso, pela simples razão de que há muito pouco espaço.

Confesso que, há muitos anos, tenho sido defensor da grande vantagem que representa o aeroporto junto à cidade. Mas já não dá e, com toda a franqueza, não sei se é o Montijo que vai resolver o problema. Pode resolver desta forma mais ou menos remendada ou complementar do Portela+1, mas não me parece mesmo que seja por aí. O aeroporto de Budapeste, cidade de onde escrevo este texto, é fora da capital húngara, mas não longe, a cerca de 20 quilómetros. Não estou a dizer que seja um magnífico aeroporto, mas em termos de localização é agradável. Não tenho nenhum interesse económico, de nenhuma área, não tenho terrenos, nem eu nem a minha família, nem conheço ninguém que tenha, nada. Mas, Lisboa precisa de uma solução de fundo a norte e que constitua, de facto, uma grande plataforma, um grande "hub", se quiserem.

Como os tempos recentes têm demonstrado, Lisboa e também o Porto são cada vez mais atrativos e aquilo que os torna assim não é episódico, é duradouro. As praias, o clima, as paisagens, os monumentos ou a gastronomia, tudo isso é estrutural e, por definição ou por opção, não vai mudar. A questão era os estrangeiros descobrirem Portugal, que era o tal segredo bem guardado da Europa e até do mundo. Neste momento está a ser descoberto e depois de o ter sido não volta para trás, só tende a aumentar. É impossível os turistas estarem duas e três horas à espera para passar a alfândega no aeroporto (manda a verdade dizer, como também acontece num ou dois aeroportos de, por exemplo, Londres). O novo aeroporto de Lisboa deverá ser um modelo, até de vanguarda tecnológica.

Sei bem que é politicamente complicado defender esta posição, até porque significa preconizar um grande investimento público e, desejavelmente, também privado. Mas o que se tem passado estes anos em Portugal, e a antevisão do que pode e deve ser o seu futuro, exige que concentremos boa parte dos nossos recursos nesta exigência. Falo hoje do aeroporto e fica para outro dia a questão da ferrovia, quer a opção estrutural da bitola europeia quer, por exemplo, a propósito de turismo, as ligações no verão entre Faro e Lisboa e a possibilidade de os passageiros escolherem o seu lugar.


Advogado

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

Fonte: Jornal de Negócios

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