quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Eu, Psicóloga | As instituições e a (des)identificação dos indivíduos

Caros leitores, iniciarei o presente texto abordando sobre uma questão recorrente na área da saúde que é necessário reformarmos a cada pouco. Entenda aqui instituição qualquer que seja a mesma, desde hospitais, escolas, instituições de saúde em geral como clinicas psiquiátricas, hospitais dias, entre outros exemplos e a deshumanização do ser humano, em que o indivíduo não é mais tratado como indivíduo, como único, perdendo assim sua identificação.

Para tanto, necessitaremos destrinchar alguns termos para chegar a uma compreensão geral. iniciaremos comentando um pouco sobre as instituições, sobre o ponto de vista das mesmas, são raras as instituições que veem o ser humano como tal, com nome, sobrenome, portador de uma historia de vida com erros, acertos, necessitando ser ouvido ou falar, talvez ainda uma necessidade biológica ou social; do ponto de vista das instituições em geral, somos apenas um número, uma pulseira que colocam em nós com um número que ao que me parece é um número de série como um código de barras e a desidentificação ocorre a partir daí, você deixa de ser um ser humano para se tornar um número, deixa de ser um portador de um registro geral para se tornar o famoso paciente ou senhor(a) contudo, alguns indivíduos se identificam com esta nova formulação e passam a ser o tal número ou o tal paciente deixando sua identificação de lado.

Necessitaremos agora introduzir o segundo conceito que é o processo de (des)identificação, talvez se questionem o porque do parênteses, e explico. Alguns seres humanos, indivíduos, se identificação com o ponto de vista da instituição e passar a ser o número ou o paciente. Isto “gruda”, “cola” nestes e não se identificação mais como sujeitos fazedores de uma história, com identidade, mas como um código de barras conforme eu descrevi brevemente no parágrafo acima; assim, o individuo passa a assumir outra identidade dentro da instituição ficando marcado,estigmatizado com esta nova identidade a qual não necessariamente reflete a vida fora da instituição. Quero fazer um alerta que isto não ocorre somente com os pacientes, mas também ocorre com os profissionais que ali trabalham como os psicólogos, psiquiatras, médicos, enfermeiros, ajudantes gerais entre tantos outros.

Ter a consciência de que isto ocorre e saber quais os mecanismos que a instituição usa, faz a diferença para o indivíduo não ficar mais uma vez grudado a instituição, pois um dos perigos é ser a instituição  e não ser o indivíduo que tem características físicas, psicológicas, com uma história passada deixando portanto de ser um indivíduo biopsicosocial para se tornar e assumir uma identidade perante a instituição que pensando em alguns aspectos, passa a ser “livre” pois assume outra identidade com outras características podendo muitas vezes ser o indivíduo que esperava ser ao mundo externo, ou o que almejava perante o mundo, dentro da instituição portanto, a um outro mundo em que as identidades assumidas passam a ser o indivíduo fora dali, o que muitas vezes é reconfortante para o indivíduo pois pode ser uma outra pessoa, assumindo e fixando o trabalho como ele, não é o ser humano que tem determinada função dentro da instituição, ele é o trabalho e assim, o mesmo ocorre com os paciente, pois o paciente não é um ser humano com sofrimento causado por determinado conflito, mas ele é a doença, assim como um paciente depressivo ou andioso é a depressão, é a ansiedade e não o ser humano que tem a depressão ou o indivíduo que possui ansiedade por determinado conflito.

Caio Estan 
Psicólogo, Psicanalista e Membro do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae

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