quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Seca destapa ponte escondida há 19 anos

Antiga ponte na região do Alentejo tem estado submersa pelas águas da barragem do Pego do AltarResultado de imagem para Seca destapa ponte escondida há 19 anos
Há duas décadas que a ponte de Rio Mourinho estava submersa pelas águas da barragem do Pego do Altar (Alcácer do Sal), mas a seca que tem atingido o Alentejo provocou a descida do nível da albufeira, destapando a antiga passagem entre as localidades de Santa Susana e São Cristóvão. A ponte, com cerca de 30 metros, foi construída há 200 anos e o seu regresso à luz do dia atesta o pesadelo que a falta de chuva representa para a bacia do Sado, onde as albufeiras registam uma média de 19,2% da sua capacidade. Em ano normal estariam nos 46%.
A barragem do Pego do Altar tem hoje 8% da sua capacidade, traduzidos em cerca de sete milhões de metros cúbicos, nas contas do coordenador da Associação de Regantes, Gonçalo Lince de Faria, dos quais cinco milhões são para garantir a sobrevivência dos peixes. Já foram retiradas várias toneladas de carpas e outras espécies para diminuir a carga piscícola. "Em 70 anos de barragem houve poucos com uma seca tão grande", sublinha, recordando que a associação optou por ratear a área de arroz em 40%, logo em abril, para que a água não faltasse de vez.
O prejuízo estende-se à pecuária na maioria das zonas do país, com os produtores a alimentarem o gado à mão, enquanto o governo aciona o "alerta laranja" e já admite rigor na preparação da próxima campanha agrícola, antes dos investimentos dos empresários nas sementeiras.
"Vamos ter de articular com o Ministério da Agricultura, perceber quais são as espécies que exigem mais água e regiões de maior risco, para darmos um sinal aos produtores sobre o que devem fazer", avança o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, admitindo que, por exemplo, a produção de arroz venha a ter um ano pouco recomendável.
Será um tema para debater a 2 de outubro na reunião da Comissão de Gestão de Albufeiras, admitindo Carlos Martins que o abastecimento público esteja assegurado para os próximos três meses nas regiões mais críticas, sem excluir dificuldades, caso se mantenha a falta de chuva. Sobretudo nas zonas que dependem de águas subterrâneas, já que a ausência de precipitação impede a recarga de aquíferos.
Os fluxos de água proveniente de Espanha, que também atravessa um período de seca, merecem atenção do governo. O secretário de Estado admite que os caudais ecológicos estão a respeitar os acordos ibéricos, mas Carlos Martins receia que a "diminuição da quantidade de água afete a sua qualidade" do lado de cá da raia. Francisco Ferreira, presidente da Zero, diz que o cumprimento por parte de Espanha dos caudais "é essencial" para os abastecimento português, alegando que há o risco de a seca prosseguir: "Temos de antever as consequências para saber lidar coma falta de água."

Fonte: DN
Foto: FOLHA DE MONTEMOR (MF NOVO)

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