sábado, 9 de setembro de 2017

Uma carta de amor ao meu pai


P
 
 
Fugas
 
 
  Sandra Silva Costa  
Vão-me desculpar que hoje me centre em mim, mas o que tenho para vos dizer é realmente muito importante. Em Maio fui à Guiné-Bissau, que era o país do mundo que mais chamava por mim. O meu pai esteve lá dois anos, como tantos outros militares portugueses nos anos de 1960/70. Quando voltou (e ele voltou, houve quem não voltasse...), vinha apaixonado por aquele país de terra vermelha, onde regressou, para trabalhar, em 1995. Cresci a ouvir histórias da Guiné, a experimentar sem experimentar o sabor das mangas que lá crescem, a sentir na pele o calor guineense sem nunca o ter sentido.
 Agora fui lá e também voltei apaixonada por aquele país de terra vermelha, um dos mais pobres do mundo. Tive a sorte de fazer esta viagem ao encontro do meu pai, que já não está cá há 15 anos, com o Paulo Pimenta. Levei uma bolsa a tiracolo com umas 40 fotografias a preto e branco que o meu pai tirou por lá e tentei reconstituir-lhe os passos em Bissau. Foi uma viagem intensa, ainda por cima na companhia de um fotojornalista incrível e com a sensibilidade à flor da pele. Desde o primeiro minuto, o Paulo Pimenta disse-me que íamos fazer “uma coisa muito bonita”. O resultado está aqui. Dir-me-ão se ficou “uma coisa muito bonita”, mas tanto eu como o Paulo Pimenta, sei que posso falar por ele, empenhámo-nos muito para compor esta carta de amor. Que também quer inspirar outras cartas de amor de outros filhos a outros pais.
Mas a Guiné não é só saudade – aliás, para muitos é sobretudo o arquipélago dos Bijagós. Também andámos por lá, a conhecer as ilhas de Rubane, Bubaque e Orango – e as histórias de Solange, Adelino e Mariana. E a perceber que as palavras, às vezes, não servem para nada.
Agora convido-o a conhecer Armando Teixeira da Rede, o protagonista desta semana. Quando era criança, Armando “decidiu que queria tocar no fundo do oceano”, conta-nos a Renata Monteiro, que esteve com ele no Porto, a ouvir histórias de assombro sobre o que vê quem mergulha em Portugal e no mundo. Mergulhamos a fundo nesta história que começou em Biarritz?
Porque o Verão caminha a passos largos para o fim, hoje terminamos a série que nos mostrou os passadiços de Norte a Sul. E, para acabar em beleza, passeamos pela mais antiga reserva natural do país, acompanhados, mais uma vez, pela Renata Monteiro, que foi de Mindelo até Vila Chã, pelas dunas e pela floresta, aproveitando para fugir à procura de aves e anfíbios.
Para o fim, uma sugestão de um passeio até Arouca. Há lá muito para ver e para fazer: os famosíssimos passadiços do Paiva, a Casa das Pedras Parideiras, o Centro de Interpretação Geológica de Canelas, o Mosteiro de Arouca e a Casa dos Doces Conventuais. E também há a Quinta do Pomar Maior, que foi casa de um padre e acabou em ruínas. Mas, tal como as suas árvores, a quinta soube “renovar-se e deu a Arouca um requinte novo, entre o rústico e o moderno”, escreve a Alexandra Couto, que passou lá uma noite e agora conta-nos tudo aqui.
Comecei a falar de mim, termino da mesma forma: vou de férias. Nas próximas semanas, deixo-o muito bem entregue, aos cuidados da Alexandra Prado Coelho. Regresso em Outubro, mas até lá convido-o a voltar sempre aqui. Boas viagens!

Fonte: Fugas|Público
 
 

 

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