terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Macroscópio – Regresso a uma tradição: quais são os livros de 2017? Muitos e bons.

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Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!
 
É, no Macroscópio, um ritual anual, por vezes declinado em mais de uma edição desta newsletter: quais os melhores livros do ano que termina? E que escolher para um Natal de boas leituras – ou, pelo menos, de belas leituras no sapatinho? Como sempre andei a folhear a imprensa nacional e internacional e, para já, trago-vos sobretudo recomendações anglo-saxónicas, mas não só. A opção tem uma razão de ser: a disciplina anglo-saxónica disponibiliza sempre as escolhas a tempo das compras de Natal – e para um Natal português sugestões de livros estrangeiros têm de cair nos prazos de entrega da Amazon. Mas antes de irmos a essa escolha mais ampla, comecemos por outras referências mais próximas.
 
De Portugal, até ao momento, só encontrei digno de registo a escolha dos protagonistas do programa do Observador Conversas à Quinta. Jaime Gama, Jaime Nogueira Pinto e eu próprio trouxemos Uma montanha de livros para o seu Natal, obras muito variadas e nem todas edições em português. Muita história, algum ensaio, teses atrevidas, volumes pesados mas também livrinhos preciosos que se leem numa hora, houve um pouco de tudo. São 50 minutos que valem a pena (podcast aqui). Também no Observador, João Carlos Espada escreveu hoje sobre a primeira parte das suas sugestões de Livros para o Natal (I).
 
De Portugal demos um saltinho até Espanha, onde ainda há poucas listas disponíveis, mas na do ABC, Siete libros para acertar con los regalos de Navidad, encontrei referência uma obra também já traduzida para português: «Mitos nórdicos», de Neil Gaiman. Escreve aquele diário madrileno que “A estas alturas del cuento, nadie puede negar que Neil Gaiman (Portchester, 1960) es un narrador virtuoso. Con títulos imprescindibles como «The Sandman» y «El océano al final del camino», se convirtió en un referente de la cultura popular de nuestros días. Ahora, el británico se atreve a reescribir los mitos nórdicos, y no decepciona. «Mitos nórdicos» (Destino) hondea la bandera de la originalidad: es como si Scheherezade volviera para contarte las historias de Freya, Thor, Odín y compañía en pleno 2017.” A edição portuguesa, Mitologia Nórdica, é da Presença.
 
Prosseguimos até Paris e ao Le Monde, que nos propõe várias listas elaboradas pelos seus críticos e especialistas. Da lista de Jean Birnbaum destaco um obra colossal (mais de 1300 páginas) que me ficou debaixo de olho, até pela sua actualidade: « Europa. Notre histoire », sous la direction d’Etienne François et Thomas Serrier, Ce « tour d’Europe des mémoires » évoque tour à tour des personnages historiques (Averroès, Léonard de Vinci, Churchill…), des villes (Venise, Dakar ou Berlin), des « brûlures » sanglantes (croisades, guerres, génocides) et tout un essaim d’expériences vécues (prier, écrire un roman, aller au stade, faire grève, faire l’amour aussi) … Prise en charge collectivement, cette histoire laisse entrevoir la possibilité d’un « nous ». Fragile et contradictoire, certes, toujours en mouvement, bien sûr, mais un « nous » quand même.”
 
E pronto, agora salto para o mundo anglo-saxónico, iniciando o meu périplo por um guia que há muitos anos é uma ameaça ao meu cartão de crédito e à minha conta-corrente na Amazon: a escolha da The Economist, que este ano anuncia que “The best books of 2017 are about music, nicotine and the tsunami in Japan”. Peço perdão, mas da farta lista deixo três títulos que não se encaixam naquela introdução, mas que escolhi por os ter encontrado na maior parte das outras listas que citarei a seguir. São eles:
  • Red Famine: Stalin’s War on Ukraine. By Anne Applebaum. A meticulously researched analysis proving that the famine in Soviet Ukraine in the 1930s was part of a deliberate campaign by Josef Stalin and the Bolshevik leadership to crush Ukrainian political aspirations by starving the actual or potential nationalists into submission to the Soviet order.
  • Enemies and Neighbours: Arabs and Jews in Palestine and Israel, 1917-2017. By Ian Black. A well-known British journalist offers a detailed account of how the Israelis and Palestinians are still haunted by their history. The Balfour Declaration was just the start of it.
  • Belonging: The Story of the Jews, 1492-1900. By Simon Schama. The story of the Jews between 1492 and 1900, told as a series of vivid biographies. In the hands of a master colourist, this is history as a portrait gallery. Roll on the final volume in the series.
 
Passo a seguir a duas publicações que nunca deixam os seus créditos por mãos alheias e nos enchem de referências, organizando as suas escolhas por tipo de livro e sendo muito, mas mesmo muito exaustivas. Refiro-mo ao Financial Times e ao The Guardian.

 
  • Best books of 2017: Economics, uma selecção do consagrado Martin Wolf. Uma das suas referências é Grave New World: The End of Globalization, the Return of History, de Stephen D King: “Globalisation is not inevitable. It is driven “not just by technological advance, but also by the development — and demise — of the ideas and institutions that form our politics, frame our economies and fashion our financial systems both locally and globally”. Globalisation, then, is a political choice, argues King in this well-argued and credibly pessimistic book.”
  • Best books of 2017: Politics, onde a esolha é de Gideon Rachman e a minha escolha dessa escolha é Destined For War: Can America and China Escape Thucydides’s Trap?, de Graham Allison: “Allison, a Harvard professor, shows that — more often than not — a rising power has clashed with the established hegemon, and asks whether the US and China can escape this dismal pattern. A book that has caught the attention of the leaders of both China and the US.”
 
Quanto ao The Guardian a suas listas também são muito detalhadas, incluindo, por exemplo, The best books on food of 2017The best nature books of 2017;  The best politics books of 2017; The best fiction of 2017;  The best science books of 2017 ou The best biography and autobiography books of 2017, sendo que há duas escolhas mais genéricas onde um alargado conjunto de colaboradores apresenta as suas próprias sugestões, havendo grandes nomes entre esses colaboradores. Eis dois exemplos:
  • Best books of 2017 – part one, de que escolhi uma das escolhas (passe o pleonasmo) do antigo primeiro-ministro Gordon Brown, uma escolha de literatura que, refiro de passagem, foi também uma das sugestões de Jaime Nogueira Pinto no já referido Conversas à Quinta: “I would opt for John le Carré’s A Legacy of Spies (Viking), not least for Smiley’s dramatic and surprising closing revelation of his reason for a life-time of spying – and lying.”
  • Best books of 2017 – part two, onde a minha atenção foi para uma das sugestões de John Gray, um sempre interessante filósofo: “Using new evidence with a novelist’s feeling for personality and atmosphere, Nicholas Shakespeare’s Six Minutes in May: How Churchill Unexpectedly Became Prime Minister (Harvill Secker) tells how a military disaster, parliamentary intrigues, a hidden love affair and a six-minute meeting enabled Winston Churchill to come to power. Reading this unputdownable story, I was reminded how the fate of the world can turn on the fall of a leaf.”
Das selecções sectoriais, mais duas referências, mais duas passagens das múltiplas referências nelas contidas:
  • The best history books of 2017: “You need time to savour Stalin: Waiting for Hitler (Allen Lane £35), in which Stephen Kotkin fills 900 close-typed pages with an epic telling of how Stalin consolidated power, killed millions of his citizens and then miscalculated Hitler’s intentions. This is a monumental study of a ruthless man intent on making his nation a world leader, whatever the cost. The tale is made mesmerising by the personal details with which Kotkin, professor at Princeton, makes his characters come to life.
  • The best science books of 2017: “Matthew Walker offers an intriuging synthesis of his own work on dreams and sleep in Why We Sleep (Allen Lane £20). Here the neuroscientist stresses the importance of good sleep as a restorative agent every bit as powerful as any drug or medical therapy. Ignore those who claim to need only a few hours a day, he says. Lack of sleep doesn’t just make you groggy, it’s a slow form of self-euthanasia.”

 

Começo a sentir que esta selecção já vai longa, pelo que as minhas últimas referências serão mais telegráficas:
  • Washington Post: Uma selecção eclética, sendo que dela me chamou a atenção The Future Is History: How Totalitarianism Reclaimed Russia, de Masha Gessen: “Vladi­mir Putin has inspired a number of books seeking to explain his remarkable rise — and his remarkable hold on power. Few accounts are as ambitious, insightful and unsparing as Gessen’s “The Future Is History.” This is a sweeping intellectual history of Russia over the past four decades, told through a Tolstoyan gallery of characters. It makes a convincing if depressing case that Homo Sovieticus, the unique species created a century ago with the Bolshevik Revolution, did not die out along with the Soviet Union.” 
  • The Spectator: A revista britânica adopta também o figurino de pedir escolhas aos seus colaboradores, que apresenta em sucessivas edições, senda esta uma das referências de Frances Wilson, uma referência que escolhi não por acaso, mas por ter acabdo de estrear a segunda temporada da série The Crown: “In the annoyingly brilliant merry-go-round that is Ma’am Darling: 99 Glimpses of Princess Margaret (4th Estate, £16.99), Craig Brown gives a new spin to royal biography, and this is a double book: a collage of Princess Margaret and a snapshot of the age that invented her.”
  • New York Times: Aqui a escolha é colectiva, assumida pela redacção do diário nova-iorquino, sendo que dos dez títulos selecionados há um que decidi eu próprio destacar: The Evolution of Beauty: How Darwin’s Forgotten Theory of Mate Choice Shapes the Animal World — and Us, de Richard O. Prum: “If a science book can be subversive and feminist and change the way we look at our own bodies — but also be mostly about birds — this is it. Prum, an ornithologist, mounts a defense of Darwin’s second, largely overlooked theory of sexual selection. Darwin believed that, in addition to evolving to adapt to the environment, some other force must be at work shaping the species: the aesthetic mating choices made largely by the females. Prum wants subjectivity and the desire for beauty to be part of our understanding of how evolution works. It’s a passionate plea that begins with birds and ends with humans.
  • The Telegraph: Ao verificarmos a sua lista, The 50 best books of 2017, encontramos muitos dos títulos que já referimos, pelo que desta vez regresso à história com uma passagem pela arte: The Medici by Mary Hollingsworth (Head of Zeus), “Hollingsworth’s forensic study  of the Renaissance banking dynasty conjures up a world of art, literature, philosophy – and brutality”.
 
E por hoje é tudo. Se tiver oportunidade e justificação é possível que regresse a este tema ainda do Natal, mas por hoje, e para variar, desejo bom descanso e, em vez das boas leituras, recomendo antes prudência com o cartão de crédito. Ou talvez não, que a vida são dois dias e nunca leremos tudo o que gostaríamos de ler...

 
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