sexta-feira, 13 de abril de 2018

Não dá para facilitar

André  Veríssimo
André Veríssimo 12 de abril de 2018 às 23:00
A perspectiva de que Portugal pode pôr em pausa ou mesmo afrouxar o esforço de consolidação orçamental, defendida mais à esquerda, ignora que o país corre uma maratona pela resiliência futura que não só não terminou como nem sequer vai a meio. A forte procura e o baixo juro conseguido na emissão de dívida pública de quarta-feira são um testemunho da confiança que o país conseguiu conquistar.

Mas para estar em condições de resistir a choques futuros há ainda um longo caminho a percorrer. Quanto mais depressa chegarmos à segurança da outra margem, melhor.


Basta olhar para um relatório de um banco de investimento e percebe-se o que ainda é valorizado por quem investe na dívida portuguesa: os números do défice e da economia.


Já fez mais diferença, é certo, mas continua a ser diferente ter um saldo orçamental umas décimas acima ou abaixo. Sobretudo para um Estado em que a rubrica dos juros custa 7.126 milhões de euros e absorve 8% da despesa. Mais ainda quando a dívida pública, mesmo descendo para 125% do PIB, continua a aumentar em termos absolutos.


É tão determinante que, no dia em que o Tesouro foi ao mercado com uma emissão sindicada de 15 anos, o ministro da Economia esteve na Bloomberg às primeiras horas da manhã a dar como quase certo que o crescimento económico será este ano superior às previsões e como fechada a meta de 0,7% para o défice.


Ter conseguido um saldo orçamental negativo de 0,91% (sem a recapitalização da Caixa) em 2017 foi um bom resultado. Mas, ao contrário do que argumentam o Bloco de Esquerda e o PCP, isso não dá margem para ser menos exigente e apresentar 1,1% este ano.


William De Vijlder, economista-chefe do grupo BNP Paribas, dizia esta semana em entrevista ao Negócios que "devemos arranjar o telhado quando está sol". É essa agora a principal missão de Centeno no Eurogrupo e terá de o ser também em Portugal.


Esse telhado, em que a redução da dívida pública é uma trave­-mestra, é fundamental para proteger justamente aquilo que Bloco e PCP mais valorizam, da reposição de rendimentos ao aumento da despesa na saúde e educação. Sem construir uma cobertura, tudo isso estará em risco no próximo vendaval.


Há já até alguma concessão. Não desistindo de prosseguir com a consolidação orçamental, o ministro das Finanças prepara-se para ser menos ambicioso no ritmo. Em vez de 0,7 pontos percentuais, o corte face a 2017 será de 0,5 pontos.


Mais, segundo as contas de um grupo de economistas ligado à esquerda, basta a almofada criada pela boa execução do ano passado e o crescimento da economia esperado para este para se chegar facilmente ao défice de 0,7%. O que significa que, continuando a execução orçamental a correr de feição, deverá ser possível investir mais em áreas como a saúde e mesmo assim cumprir. Veremos que valor aparece inscrito no Programa de Estabilidade, mas um saldo pior do que 0,7% seria um número difícil de explicar.

Fonte: .jornaldenegocio

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