sábado, 23 de fevereiro de 2019

Fugas | Para a dona Ercília

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Fugas
  Sandra Silva Costa  


Vila Real de Santo António faz parte do meu imaginário infanto-juvenil. Não sei quando começaram, mas até aos meus quinze anos as férias de Verão, duas semanas em Setembro, eram passadas naquela ponta do Algarve, Ayamonte à vista, na casa da dona Ercília, que alugava quartos. Há dois anos, toquei-lhe à porta. Só mesmo para lhe dar um beijinho. Não me reconheceu, o que é normal, eu era uma miúda quando deixámos de nos ver anualmente. Já ela mantinha aquele cabelo cor de prata impecavelmente arranjado, o mesmo riso franco, o mesmo sotaque algarvio, o mesmo abraço caloroso. Contou-me que o marido, o senhor Alfredo, já morreu, eu disse-lhe que o meu pai também, e mostrou-me as mudanças que a casa sofreu entretanto. Foi um encontro muito saboroso, eu sou muito saudosista dos tempos felizes. Se me permitem, estas linhas são-lhe dedicadas.
Vem tudo isto a propósito da reabertura, em Grand (House), do antigo Hotel Guadiana, que me lembro de ser incontornável na paisagem de Vila Real de Santo António. Ao fim de vários anos de abandono, abre as suas portas a quem quiser ir espreitar-lhe as belezas. A Alexandra Prado Coelho, sortuda!, já passou lá uma noite e conta-nos aqui como é que este hotel quer devolver o brilho à cidade. E aqui deixa sugestões de passeios a cavalo e às salinas de Castro Marim. Vamos?

A história do protagonista da semana é daquelas que nos dá um murro no estômago. Gustavo Carona, 37 anos, é um médico sem fronteiras. Alia o gosto pelas viagens, pelo desconhecido, ao imenso prazer que retira de ajudar os outros, e já passou por cenários tão duros como a República Democrática do Congo, Afeganistão, Síria. A conversa é conduzida pelo Luís Octávio Costa.
E já que por aqui andamos, aproveito para deixar também a sugestão de leitura da viagem do Humberto Lopes ao Irão. É focada em Kashan, que, não tendo a aura de Isfahan ou de Shiraz, é uma das mais singulares cidades históricas do país, graças ao seu património de casas oitocentistas. E, ao mesmo tempo, um exemplo de hospitalidade e tolerância.

Sentemo-nos agora à mesa. Primeiro para conhecermos o incrível sabor dos alhos da Graciosacortesia do José Augusto Moreira. Depois para experimentarmos ao que sabe um menu integralmente cozinhado a fogo de lenha: esta semana, eu fui conhecer o Elemento, do chef Ricardo Dias Ferreira, e estou em condições de garantir que a viagem ao Porto vale muito a pena. A sobremesa fica a cargo da Maria José Santana, que nos conta a história da tripa, um doce que, em Aveiro, não deixa ninguém indiferente. Já a Cristiana Faria Moreira propõe um chá no Cidreiraum café-mercearia no Lumiar, em Lisboa.
Hoje fico-me por aqui. Quanto a si, vá passear, prometem-nos que o fim-de-semana vai ser soalheiro. Marcamos encontro para sábado, à hora habitual. Boas viagens!

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