Joaquim Carlos* |
A introspecção, amparada por auxílio alheio, e interpretada por psicólogos, toma de bom grado o nome de psicanálise e, embora, apresente certos inconvenientes e até certos perigos, pode prestar serviços reais porque, não se contentando com o estudo dos fenómenos conscientes que se passam dentro de nós, pretende explorar e compreender o subconsciente, isto é, essa parte misteriosa do nosso psiquismo que não conhecemos directamente porque escapa à nossa observação mas indirectamente porque se revela pelos nossos sonhos, associação de ideias e até muitas vezes pelos nossos lapsos, actos falhados e outras manifestações irreflectidas do nosso profundo psiquismo. Por certo, a psicanálise presta grandes serviços mas também pode, caso não tomemos atenção, provocar muitos erros. Por exemplo, quando se trata de interpretar os sonhos, o que é uma forma moderna do que outrora se chamava a «chave dos sonhos», conhece-se que o especialista esteja exposto a seguir as sugestões do seu próprio psiquismo ou até a sua fantasia, sem poder referir-se a uma realidade fixa e objectiva.
Por outro lado, a psicanálise expõe quem dela se servir para bem de outrem a certa imperícias cujos efeitos são por vezes muito graves. Um dia li uma carta de mãe lacrimosa a expor o caso do seu filho com vinte e três anos que se erguera contra ela de maneira extremamente violenta, desde que um psicanalista pensara fazer bem em lhe revelar que as perturbações afectivas e mentais por ele sofridas provinham dos erros de uma educação daquela que lhe dera a vida.
Alguns meios mais objectivos de nos conhecermos são os de testes usados actualmente. Estas experimentações psicológicas permitem estudar e até medir a inteligência, a actividade, a afectividade, e revelar os indícios principais do carácter, avaliar até o nível moral, dentro de limites. Outros testes permitem a medida da nossa actividade. Quase não poderíamos saber, por exemplo, se somos lentos ou rápidos, se nos fosse impossível comparar neste domínio com as de outras pessoas da nossa idade e a viverem em condições mais ou menos semelhantes às nossas. O que dá justamente aos testes diferentes de que falámos o seu valor e utilidade é que foram organizados segundo um grande número de casos e permitem assim medidas e comparações eficazes.
Deste modo, sabemos que um motorista deve ser capaz de fornecer reflexos no tempo médio de 150 milésimas de segundo. Aquele que precisasse de duzentas ou duzentas e cinquenta milésimas expor-se-ia com maiores probabilidades aos perigos da circulação a que sujeitaria outras pessoas.
Observai os que vos cercam para notar os seus pontos fortes e vos inspirardes neles, ou os seus pontos fracos para considerardes que, se os tiverdes, são tão ridículos e desagradáveis em vós como neles.
Não violeis nunca as indicações da vossa consciência, não esqueçais que ela só vos prestará os melhores serviços se tiver sido cuidadosamente educada, porque não é infalível.
Finalmente, mantende confiança razoável em vós próprios, generosa para com os outros para o melhor convívio social possível.
*Diretor
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