O Governo de Filipe Nyusi que tem como uma das suas prioridades “Assegurar a Gestão Sustentável e Transparente dos Recursos Naturais e do Ambiente” e recebe milhões de dólares de doadores para o Plano Nacional de Protecção do Elefante determinou o abate de 25 paquidermes até ao final deste ano. Ambientalistas disserem ao @Verdade não serem públicos os critérios usados no estabelecimento das quotas de abate ainda mais enquanto se aguarda pelos resultados do 3º Censo Nacional daquele que é o maior mamífero terrestre.
Está em aberta desde o passado dia 1 Abril, até 30 de Novembro, a época de caça em Moçambique durante a qual o Governo, através do Diploma Ministerial nº 23/2019 de 15 de Março, rubricado pelo ministro Celso Correia, estabelece as quotas para o abate de 19.864 animais selvagens. Destacam-se no documento na posse do @Verdade os 49 leões, 103 leopardos e 25 elefantes a serem abatidos ao que tudo indica por caçadores.
Moçambique é um dos maiores cemitérios de elefantes no mundo, cerca de 10 mil foram mortos por caçadores furtivos entre 2010 e 2015 reduzindo a população para cerca de 9 mil animais. Nos anos subsequentes quase 500 elefantes foram abatidos caçadores ilegais que buscam os seus dentes de marfim, que das áreas de conservação são traficados pelos portos e aeroportos nacionais para os ávidos mercados na China.
Com início da governação de Filipe Nyusi tornou-se a proteção do elefante, assim como outras espécies animais, numa prioridade nacional por isso o @Verdade questionou ao Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER) por que razões uma espécie protegida estava na lista de animais a serem caçados em 2019.
Decorrida mais de uma semana o gabinete o ministro Celso Correia assim como a Administração Nacional das Áreas de Conservação(ANAC) não responderam aos questionamentos do @Verdade.
Caçada do elefante custa pelo menos 50 mil Dólares
Um funcionário de uma das fazendas do bravio no Sul de Moçambique onde serão abatidos seis elefantes tentou explicar ao @Verdade que “os animais ocupam um espaço territorial, comem e bebem água e a caça é um instrumento de gestão sustentável”.
A fonte que pediu para não ser identificada citou como exemplo parte do parque nacional Kruger que estará semi-desértica "a explicação é uma, os elefantes empurram as árvores e quanto estão numa quantidade para além da carga de uma determinada área são um problema e tem que se diminuir aqueles que estão a mais”.
“Sim gera receitas que são pagas ao Estado e 20 por cento vão para as comunidades circunvizinhas” confirmou o nosso entrevistado que estimou em pelo menos 50 mil Dólares norte-americanos o custo mínimo de uma caçada do elefante.
Caça pode gerar receitas para protegem da vida selvagem e beneficiar população local
Para o ambientalista e conservacionista Alastair Nelson nada justifica a caça de animais particularmente do elefante africano contudo em muitos países, “os custos de proteger o meio ambiente, a vida selvagem e as áreas naturais são suportados por pessoas pobres que vivem nas áreas de conservação ou perto delas. Estes custos são diretos, por ex. danos nas machambas, ou indirecto, falta de acesso a recursos ou terra”.
“Idealmente, esses custos devem ser aliviados pelo governo, que deve visar iniciativas de desenvolvimento económico e elevação social nessas áreas, porque essas pessoas incorrem em custos para o benefício nacional - parques nacionais ou protecção de florestas e bacias hidrográficas que beneficiam os usuários a jusante etc. As pessoas envolvidas são relativamente poucas nessas áreas remotas, então os governos e seus parceiros de desenvolvimento não assumem essa responsabilidade e preferem dizer que as organizações conservacionistas tem encontrar de encontrar formas de gerar de receitas diretas a partir de actividades e compartilhar os benefícios”, explicou.
Na óptica de Nelson, que tem larga experiência de trabalho na protecção da biodiversidade em Moçambique, e não só, “Existem algumas maneiras de fazer isso, e a caça de troféus é uma delas. A caça aos troféus é uma ferramenta particularmente boa em lugares remotos e selvagens que são desconfortáveis e difíceis de alcançar, e têm baixas densidades de vida selvagem. A maioria dos turistas que viajam para fotos não querem ir a esses lugares e grande parte das áreas de vida selvagem em Moçambique encaixam-se nessa descrição, então a caça é importante para trazer receitas para os departamentos do governo que protegem a vida selvagem e o meio ambiente, e também para trazer benefícios para a população local”.
No entanto chama atenção aspectos importantes que têm de funcionar para que a caça seja eficaz para a conservação. “A receita está a ser colectada correctamente? A receita está a ser usada de forma adequada e transparente? Os benefícios correctos fluem para a população local regularmente e de forma transparente? Os locais são envolvidos na gestão das áreas de conservação?”, detalhou.
Quota para abate em áreas onde a vida selvagem está a ser repovoada
Contudo existe uma segunda vertente que precisa de ser salvaguardada que está relacionada com os números da vida selvagem em Moçambique, especialmente de elefantes.
Alastair Nelson assinalou que sem os dados recentes da contagem de elefantes não pode aprofundar a questão adequadamente, em alusão aos dados do 3º Censo Nacional do Elefante que deverão ser divulgados nos próximos meses.
“Mas o que posso dizer é que a ANAC está a fazendo o melhor para monitorar e gerir a população de elefantes em Moçambique. Eles pararam a caça de elefantes na Reserva do Niassa após a contagem de 2014, que mostrou um declínio tão grande lá. Esta é a área de caça mais importante de Moçambique, e a caça de elefantes trouxe muita receita. Existem algumas áreas de caça em Moçambique que fizeram um trabalho muito bom para proteger os elefantes, e tenho a certeza de que têm populações suficientemente saudáveis para caçar”, clarificou.
Nelson pontuou que é preciso ter em conta se o número de elefantes a serem caçados são para áreas onde sabemos que as taxas de caça ilegal são insignificantes e as populações de elefantes ainda estão a aumentar; apurar quantos elefantes machos estão nas sub-populações específicas de elefantes em Moçambique; e, uma vez que tenhamos uma estimativa para elefantes machos nestas sub-populações, determinar se 25 é uma quantidade sustentável para serem abatido.
Além disso o conservacionista revelou ao @Verdade que a caça de troféus faz-se para elefantes adultos pois além da caçada gera receita do marfim que pode ser exportado para o país de origem do caçador, naturalmente mediante um processo legal existente. Já os chamados conflito homem-animal habitualmente tem como protagonista machos jovens que ainda estão a estabelecer os seus domínios.
Paradoxalmente parte da quota de elefantes a serem abatidos está alocada a fazendas do bravio no Parque Transfronteiriço do Grande Limpopo área que estava despida de vida selvagem e conta com doações de animais do Zimbabwe e Botswana para ser repovoado.
Maior igreja evangélica do Sul de África ameaça leopardos em Moçambique
Relativamente a caça ao leopardo que este ano estão previsto abater 103, a ANAC disse ao @Verdade em 2017 desconhecer a população exacta de animais em Moçambique no entanto alertava que uma tradição da maior igreja evangélica do Sul de África, professada pelos zulus, estava a ameaçar os leopardos em Moçambique.
“Eles usam vestes com base na pele de leopardo” afirmou na ocasião o chefe do Departamento de Fiscalização da Administração Nacional das Áreas de Conservação, Carlos Lopes Pereira, que lamentava “já não há leopardos para fazer isto”.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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