Um projeto experimental inovador sobre tipografia reativa – letras que reagem e representam o som –, desenvolvido por João Couceiro e Castro no âmbito da sua dissertação de Mestrado em Design e Multimédia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), fez furor na Rússia, tendo arrecadado um dos nove cobiçados prémios do Festival Internacional de Moscovo Typomania.
Instituído em 2012, o Typomania é um festival anual dedicado à tipografia, caligrafia, lettering, motion-design, e design interativo. Tem como missão a divulgação de trabalho desenvolvido na exploração da letra, da palavra e da linguagem. O evento em destaque no festival é um concurso de vídeo tipográfico que distingue os 9 melhores trabalhos (um por cada letra do nome do festival). Nesta edição foram selecionados 40 dos cerca de 500 vídeos submetidos por 340 autores de 28 países e, pela primeira vez na história do festival, há um português entre os vencedores.
O jovem investigador do Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (CISUC) conquistou o júri com um vídeo realizado através da sua “máquina de ouver”, um sistema capaz de transformar gravações de voz em composições tipográficas desenvolvido no âmbito do seu mestrado, sob coordenação dos professores Ana Boavida, Pedro Martins e Penousal Machado.
Este sistema «representa visualmente a expressividade do discurso humano através da manipulação da letra. Dito de outra forma, traduzimos as caraterísticas do som em variáveis tipográficas, ou seja, alteramos as letras consoante as medições que extraímos do som (por exemplo, a duração das pausas entre palavras ou sílabas, a intensidade com que falamos, a frequência da voz, etc.) e tentamos representar visualmente a voz humana», explica o jovem natural de Coimbra.
Para o concurso, João Couceiro e Castro recorreu à sua “máquina” para gerar um vídeo onde se podem «“ouver” excertos do poema “Cantiga dos Ais” de Armindo Mendes de Carvalho, interpretado por Mário Viegas no programa “A Dificuldade está na Escolha — Poesia Portuguesa I” (07-04-1984), retirado do arquivo da RTP». E impressionou de tal forma o júri que um dos membros, o suíço Niklaus Troxler, afirmou que o trabalho do jovem português foi o seu «favorito dos favoritos» por ser «o mais simples e o mais forte». Niklaus Troxler é também membro da AGI - Alliance Graphique Internationale, considerada a elite do design mundial.
João Couceiro e Castro refere que gosta de «explorar a ligação entre a oralidade e a representação visual da linguagem. Ao longo do meu percurso académico sempre explorei o uso do som como matéria-prima no processo de design, mas foi em 2017, quando iniciei o mestrado em Design e Multimédia na FCTUC, que encontrei a forma ideal de conjugar as minhas áreas de interesse, focando-me nas propriedades acústicas responsáveis pela expressividade da fala e que, até então, não teriam forma de ser apresentadas na escrita de um modo sistemático».
Sobre possíveis aplicações para esta “máquina de ouver”, o aluno frisa que se trata de um projeto «experimental inovador, de caráter subjetivo, não se focando em qualquer aplicação em concreto». No entanto, tem potencial para ser usado, por exemplo, «na preservação de património que está unicamente de forma oral, que não existe escrito».
Para Penousal Machado, docente e diretor do CISUC, este prémio «confirma o reconhecimento crescente da qualidade da investigação desenvolvida na FCTUC na área do Design para Meios Computacionais. Por exemplo, vários alunos nossos estão nomeados para prémios importantes, como Sonae media art, European Design Awards e Independent Music Awards».
O vídeo submetido ao Festival Typomania (https://en.typomania.ru/) pode ser visualizado: aqui. O projeto “Máquina de Ouver” está disponível: aqui.
Cristina Pinto
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