sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Religião | Por que os católicos devem estar juntos da Virgem Maria para sobreviverem à grande apostasia



“Foi através da Bem-aventurada Virgem Maria que Jesus veio ao mundo, e é também através d’Ela que Ele deve reinar no mundo”, escreve São Luís Grignion de Montfort na introdução de sua obra-prima, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem.

O fato de que Jesus deve reinar por meio de Maria está ligado por nosso Santo à presença e ação peculiares de Nossa Senhora nos últimos tempos. São Luís explica que “a salvação do mundo começou através de Maria e é por meio dela que deve ser realizada. Maria mal apareceu na primeira vinda de Jesus Cristo, para que os homens, ainda insuficientemente instruídos e esclarecidos sobre a pessoa de seu Filho, não pudessem desviar-se da verdade ao se apegar demais a Ela. […] Mas na segunda vinda de Jesus Cristo, Maria deve ser conhecida e revelada abertamente pelo Espírito Santo, para que Jesus seja conhecido, amado e servido por Ela. As razões que levaram o Espírito Santo a esconder sua Esposa durante a vida dela e revelar muito pouco sobre Ela desde a primeira pregação do Evangelho não existem mais”. (n. 49)

Entre as razões apontadas por São Luís para explicar por que Nossa Senhora deve se tornar conhecida nestes últimos tempos, para que possamos receber uma assistência mariana especial, há a seguinte:

Maria deverá se tornar tão terrível para o demônio e seus sequazes como um exército em ordem de batalha, especialmente nestes últimos tempos. Satanás, sabendo que tem pouco tempo — agora menos do que nunca — para destruir as almas, intensifica todos os dias seus esforços e ataques. Ele não hesitará em armar perseguições selvagens e estender armadilhas traiçoeiras aos servos e filhos fiéis de Maria, que ele acha mais difícil de vencer do que os outros. (n. 50)

Nossa Senhora deve ser conhecida e amada, a fim de que possamos abraçá-La para viver com Ela e n’Ela nos últimos tempos, sem nenhum engano ou desânimo, mas perseverando na fé. De fato, esses são os tempos de uma batalha especial contra os inimigos de Deus, antes de tudo contra o “mistério da iniquidade”, que é o pecado. O Catecismo, ao descrever o julgamento final da Igreja, ensina claramente que “antes da segunda vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por um julgamento final que abalará a fé de muitos crentes. A perseguição que acompanha sua peregrinação na Terra revelará o ‘mistério da iniquidade’ na forma de um engano religioso, oferecendo aos homens uma solução aparente para seus problemas ao preço da apostasia da verdade”. (675)

Esse engano poderá dizer respeito principalmente à maneira como as pessoas acreditam sem realmente acreditarem, conduzidas pelas autoridades religiosas à confortável indiferença.

Esses tempos finais já estão se desenrolando em nossos dias atuais? Não o sabemos. Não é nossa intenção especular sobre isso — somente Deus sabe o tempo e o momento. No entanto, este momento atual mostra muitos dos sinais que nos levam a pensar que uma espécie de batalha terrível e crucial foi travada. A batalha é entre a serpente do Gênesis e a Mulher que pode esmagar sua cabeça. Somente a Mulher, imaculada e sempre virgem, pode vencer a malícia e a astúcia da serpente e de seus aliados.

Apenas alguns exemplos podem nos ajudar a perceber o alcance dessa batalha espiritual que deve ser travada. Deus parece estar ausente, mesmo dentro da Igreja. Isso pode parecer surpreendente, mas as reflexões de Bento XVI sobre as raízes teológicas de tantos abusos sexuais clericais na Igreja, nos últimos 50 anos, destacaram isso. Ele denunciou a raiz desse grande escândalo — um mal moral sem precedentes, que está no esquecimento de Deus. A responsabilidade moral diminui e desaparece quando nossa liberdade não é mais orientada pelo amor de Deus, por sua Palavra. “A morte de Deus em uma sociedade também significa o fim da liberdade, porque o que morre é o propósito que fornece orientação” — escreveu.

Parece que vivemos em uma grande apostasia na qual o envolvimento social com o mundo substituiu a fé sobrenatural. É irrelevante que alguns assuntos de fé relativos ao casamento e à vida familiar sejam verdadeiros e católicos na Polônia, mas não, por exemplo, na Alemanha, onde existem diferentes políticas pastorais?

No coração de nossa pastoral, existe agora uma preocupação com a preservação da floresta amazônica, que é mantida como um ambiente idílico, o tipo de qualquer vida boa e saudável. O que é mais desconcertante é que a Amazônia, como território, é apresentada como um “lugar teológico”, onde devemos aprender sobre a (nova) Revelação de Deus e viver nossa fé de uma maneira mais ecológica. Nenhuma importância é dada a Cristo como Salvador ou ao pecado.

Enquanto ainda usamos a palavra “salvação” para lidar com esses problemas humanos, não entendemos mais seu significado sobrenatural — o único adequado — que deve nos interessar: a salvação de nossa alma da condenação eterna. Se perdermos nossa alma, uma das maiores obras da criação de Deus será perdida e não haverá mais sentido salvar o meio ambiente. A criação é hierárquica, em seu topo está o homem, e o homem foi feito para Deus. Um novo conceito enganador de “dignidade da pessoa” nos levou a ver a pessoa como digna simplesmente enquanto sujeito humano, e não mais como criatura de Deus elevada pela graça. A consequência dessa nova abordagem kantiana é que superamos a dignidade humana, colocando em seu lugar a dignidade do território. Mas, de acordo com os Padres da Igreja, o homem perde sua dignidade humana e original quando peca contra Deus.

Desta vez é realmente desafiador. É precisamente por esse motivo que, nestes tempos, precisamos descobrir a pérola preciosa de nossa devoção e consagração a Nossa Senhora. Jesus deseja reinar através d’Ela. Jesus pode reinar somente através d’Ela porque Ele veio por meio d’Ela. A Santíssima Virgem é a porta de Deus para este mundo, a mesma que deixa as pessoas entrarem no coração de Cristo. Ela é o antídoto para a perdição eterna das almas.

Em Fátima, Nossa Senhora prometeu: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará.” Não sabemos aqui quando chegará esse “fim” ou se ele está prestes a ser revelado, mas o que sabemos é que, se os últimos tempos forem caracterizados por uma presença particular de Maria, eles também podem coincidir com o triunfo prometido do Imaculado Coração. Certamente “o fim” de Fátima, marcando o triunfo de Maria, não é a Parusia — a segunda vinda de Nosso Senhor, mas o momento do Reinado de Maria e, através d’Ela, de Jesus, seu filho. Aqueles que pertencem a Ela receberão uma graça especial para derrotar o inimigo, para descobrir a maldade de todas as ameaças à nossa salvação.


Nossa Senhora reinará. Ela deve reinar. Esse triunfo trará um renascimento de nossa fé na sociedade e na Igreja. Nossa Senhora devolverá à nossa Igreja o seu característico papel de Discípula do Senhor e Mestra de todas as pessoas, fiéis à sua Palavra, à eterna Tradição.

Desejamos apressar esse triunfo. No entanto, não se trata de ser triunfalista ou apenas passivo, esperar que uma solução nos seja dada pelo Céu, ou, pior ainda, misturar a intervenção salvífica de Deus na História com o progresso humano em todas as áreas da vida do homem, inclusive o aprimoramento de um estilo de vida verde. O único caminho possível a seguir para participar desse triunfo, que é sobrenatural e não controlado pelo homem, mas que ainda requer nossa cooperação, é pertencer a Maria, tornar-se propriedade dela, seus escravos filiais de amor. É necessária consagração a Ela, pela qual nos entregamos a Maria como seus humildes servos. Precisamos substituir nosso próprio ego pelo de Nossa Senhora, a fim de permitir que Ela possua nosso ser, nosso intelecto e vontade, nosso coração.

A vantagem em ser de Maria é ser vitorioso com Ela e n’Ela sobre o demônio, o pecado e a morte eterna. Compartilharemos de sua fé e Ela nos transformará à semelhança de Jesus. No Céu, Nossa Senhora não tem mais fé, pois vive na visão beatífica. No entanto, de acordo com São Luís Grignion, por uma concessão especial de Deus, Ela preservou sua fé divina para seus servos fiéis da Igreja militante (ver nº 214). Seu Imaculado Coração é o lugar onde a fé da Igreja e suas doutrinas são mantidas com segurança. Fora desse coração há ruína e engano, um lugar onde o diabo é livre para maquinar.

“Meu querido irmão” — pergunta São Luis Grignion —, “quando chegará aquele momento feliz, a era de Maria, quando muitas almas, escolhidas por Maria e dadas a Ela pelo Deus Altíssimo, se esconderão completamente nas profundezas de sua alma, tornando-se cópias vivas d’Ela, amando e glorificando Jesus? Esse dia só virá quando a devoção que eu ensino for entendida e posta em prática. Ut adveniat regnum tuum, adveniat regnum Mariae: ‘Senhor, para que venha o Teu reino, que venha o reino de Maria’” (nº 217).

Esse “quando” que todos estão ansiosos para saber sempre parece destinado a permanecer sem resposta. Quando esse triunfo acontecerá? Quando poderemos finalmente ver uma restauração da Fé após uma decadência muito longa e insuportável? Todas essas perguntas só podem ser respondidas com outra, a capital, a questão temporal, mas vital, levantada por São Luís Grignion, que pergunta: “Quando as almas respirarão Maria como o corpo respira o ar?” (Ibid.) A questão já é entrar nestes últimos tempos e viver na esperança dessa promessa mariana. Então todos os nossos “quando” serão respondidos também.
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Tradução: Hélio Dias Viana.
ABIM

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