quinta-feira, 5 de março de 2020

Investimento Directo Estrangeiro volta a despencar em Moçambique, para o valor mais baixo desde 2010


Apesar de 2019 ter sido o ano da maior decisão de investimento privado na nossa história, e de África, o total do Investimento Directo Estrangeiro (IDE) voltou a despencar em Moçambique para o valor mais baixo desde 2010. Mais de metade do IDE em 2019 foi feito pela Vale e parceiros no Corredor do Desenvolvimento do Norte. Os megaprojectos de gás natural investiram apenas 898 milhões de dólares. O Professor Carlos Nuno Castel-Branco explicou ao @Verdade que a DFI na Área 1 nas vésperas das Eleições Gerais visava “estabilizar a situação (económica) e dar o espaço necessário para o fortalecimento da posição de (Filipe) Nyusi e do partido Frelimo”.

Depois de um pequeno crescimento em 2018, de 2,3 biliões em 2017 para 2,7 biliões de dólares, a Balança Comercial do ano passado revela que o IDE ficou-se por 1,9 bilião de dólares norte-americanos, o montante mais baixo desde 2010, antes de iniciar o boom da indústria extractiva, quando o nosso país recebeu somente 1 bilião de dólares.

Os dados compilados pelo Banco de Moçambique indicam que os megaprojectos continuam a ser o principal destino do Investimento Directo Estrangeiro, no ano passado receberam 1,1 bilião de dólares, contudo 979,8 milhões foram direccionados para o sector de carvão e foram realizados pela Vale Moçambique e seus parceiros que usam os Emirados Árabes Unidos como domicílio fiscal.

Apesar do Consórcio que vai explorar os campos Golfinho & Atum da Área 1, na Província de Cabo Delgado, ter rubricado os documentos da Decisão Final de investir 22 biliões de dólares em Moçambique em 2019 os investimentos nos projectos de gás natural da Bacia do Rovuma contribuíram com somente 1,2 bilião de dólares, grande parte realizados pela ENI e ExxonMobil que exploram os campos da Área 4.

Numa entrevista recente ao @Verdade o professor Carlos Nuno Castel-Branco explicou que “as decisões finais de investimento de facto não são investimento, são decisões de que o investimento será feito”.

“Por um lado criam a impressão que nós estamos em recuperação e isso pode ajudar a atrair pequeno e médio capital para pequenas coisas pois se a decisão de investimento foi feita irão precisar de fios eléctricos, rolamentos e outras pequenas coisas. Portanto a expectativa deles é que ao tomar as decisões (de investimento) isso estabilizar a situação (económica) e dar o espaço necessário para o fortalecimento da posição de (Filipe) Nyusi e do partido Frelimo”, explicou o economista.

2019 marcado por desinvestimentos no sector de Produção e Distribuição de Electricidade, Gás e Água

O investigador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) alertou que as Decisões Finais de Investimento “são um tipo de expectativa de bolha, uma expectativa falsa, vai ser altamente inflacionaria e isso vai afectar o bem-estar das pessoas”.

De certa forma corroborando a perspectiva de Castel-Branco, um dos académicos que foi rotulado de “apóstolos da desgraça”, o Banco de Moçambique reviu em alta a perspectivas de inflação para médio prazo.


O segundo sector que mais recebeu IDE em 2019 foi dos Transporte, Armazenagem e Comunicações com 365 milhões de dólares, seguido pelas Industrias transformadoras (alimentares, bebidas, tabaco, têxteis, outras) que recebeu investimentos de 152 milhões de dólares.

O sector da Agricultura, Produção Animal, Caça e Silvicultura, que é considerado base do desenvolvimento em Moçambique, continua a receber muito pouco investimento tendo-se ficado pelos 53 milhões de dólares contudo o ano de 2019 fica marcado por desinvestimentos no sector de Produção e Distribuição de Electricidade, Gás e Água que registou 20 milhões de dólares negativos.

Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique

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