O antigo primeiro-ministro José Sócrates criticou hoje, mais uma vez, o Ministério Público por ter construído a acusação da Operação Marquês sem apresentar provas e agora estar à espera que sejam os arguidos “a provar que não é verdade”.
José Sócrates, o principal arguido da operação Marquês, falava aos jornalistas no Campus de Justiça, em Lisboa, após ter sido novamente interrogado pelo juiz de instrução, que o convocou para a diligência de hoje, que deveria ter sido dedicada ao início do debate instrutório.
“O Ministério Público construiu um embuste, uma grande mentira e depois de tudo ali desfeito vem perguntar se sabia se uma amiga minha tinha estado no Algarve”, relatou Sócrates no final, considerando que as dúvidas dos procuradores não faziam qualquer sentido.
“Estive aqui duas horas e tal [a prestar declarações a pedido do juiz Ivo Rosa] e depois o Ministério Público fez aquelas perguntas”, comentou o antigo governante.
O juiz Ivo Rosa quis saber se Sócrates, conforme consta da acusação, passou as férias da Páscoa de 2006 hospedado no hotel Pine Cliffes e se estas foram pagas – cerca de mil euros – com o cartão de crédito do seu primo e arguido José Paulo Pinto de Sousa.
O antigo governante negou que tivesse estado no sul do país de férias em abril de 2006, dizendo que passou a quadra pascal com o pai em Vilar de Maçada.
Na acusação aparecem faturas em nome de José Sousa, umas com morada de Cascais e outras apenas com a mera indicação de Portugal.
Segundo o arguido, quem esteve de férias nessa altura no Algarve foi o seu primo José Paulo Pinto de Sousa, afirmando lembrar-se disso com exatidão porque a mulher deste estava grávida.
Outro dos assuntos que consta na acusação e foi abordado pelo juiz foi a concessão do TGV ao consórcio ELOS.
Sócrates insistiu que nunca falou com o seu amigo empresário Carlos Santos Silva, que esteve ligado ao Grupo Lena e é arguido no processo, sobre o concurso para a construção do comboio de alta velocidade e que não teve qualquer intervenção durante o concurso.
“Não estive em qualquer reunião para tratarmos da adjudicação do TGV”, afirmou Sócrates, acrescentando que enquanto ocupou o cargo de primeiro-ministro “raramente falava com Carlos Santos Silva”.
Sócrates reiterou no interrogatório que ninguém o informou sobre como decorria o concurso e que as adjudicações eram da competência dos ministros das respetivas áreas.
As viagens governamentais a Angola, Argélia e Venezuela foram outro dos temas abordados no interrogatório, tendo o ex-governante socialista afirmado que faziam parte da diplomacia económica do pais.
Após a diligência, Sócrates explicou aos jornalistas que prestou novas declarações a pedido do magistrado porque este queria saber todos os detalhes a que respondeu com o maior gosto.
Porém, as poucas perguntas feitas pelo procurador do Ministério Público Rosário Teixeira é que irritaram o ex-primeiro ministro, que as apelidou de “ridículas”.
Os jornalistas puderam assistir ao interrogatório do arguido, mas estiveram impedidos de divulgar notícias no decorrer do mesmo devido à instalação de um inibidor de sinal na sala do tribunal por ordem do juiz.
José Sócrates, que esteve preso preventivamente durante dez meses e depois em prisão domiciliária, está acusado de três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, 16 de branqueamento de capitais, nove de falsificação de documentos e três de fraude fiscal qualificada.
A acusação sustenta que Sócrates recebeu cerca de 34 milhões de euros, entre 2006 e 2015, a troco de favorecimentos a interesses do ex-banqueiro Ricardo Salgado no Grupo Espírito Santos e na PT, bem como por garantir a concessão de financiamento da Caixa Geral de Depósitos ao empreendimento Vale do Lobo, no Algarve, e por favorecer negócios do Grupo Lena.
O Ministério Público imputou a 28 arguidos, 19 pessoas e nove empresas, um total de 188 crimes.
Lusa
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