O concelho de Proença-a-Nova vai contar em breve com quatro técnicos certificados em fogo controlado - uma das técnicas disponíveis para a gestão de espaços naturais - depois da participação numa formação em Planeamento, Execução e Avaliação de Fogo Controlado que juntou formandos de vários concelhos da região. Realizada pela empresa Giff – Gestão Integrada e Fomento Florestal, Lda, a ação incluiu as vertentes teórica e prática, tendo os formandos feito diversas ações de fogo controlado em povoamentos de pinheiro bravo e de eucalipto. No final, o grupo visitou a aldeia da Mó, onde está a decorrer a reconversão de áreas florestais em agrícolas na faixa de gestão de combustível dentro dos cem metros à volta do aglomerado.
Para lá dos cem metros, o pinhal existente resultou da regeneração natural dos grandes incêndios de 2003, estando na fase ideal para a realização de fogo controlado para retirar alguma da densidade combustível da floresta, mas não só. “Quanto é que os proprietários destes pinheiros todos aqui à volta gastaram para os instalar?”, questionou António Salgueiro, formador responsável pela formação em fogo controlado. “Zero. Os nossos antepassados, por uma questão de pobreza de solos, porque a maior parte dos nossos solos serranos são muito esqueléticos e com muito pouco potencial, puseram pinheiro bravo porque era a espécie que efetivamente se dava neste solo”. Esta herança, que muitos consideram pesada, é, na sua perspetiva, “fabulosa”. “Se não fizermos nada, isto não vale nada e é uma preocupação porque é efetivamente daqui que podem vir os grandes incêndios”.
Para António Salgueiro, a solução passa por tratar da floresta no sentido de a valorizar: “Hoje em dia, a madeira de pinho mais valorizada no país, neste momento, são estacas, com diâmetros de 5 a 6 cm e com dois metros de comprimento”. Ou seja, já não é necessário esperar décadas para enviar os pinheiros para a serração. A primeira fase seria então começar a tirar as varas destes pinhais, para depois fazer fogo controlado. “Controlando os matos que temos debaixo do arvoredo, o nosso risco de incêndio vem cá para baixo. Ganhámos dinheiro, fizemos gestão e diminuímos o risco de combustível”.
Havendo este tipo de gestão, deixa de haver tanto risco de incêndio, mesmo em povoamentos de pinhal e de eucaliptal, e altera-se o atual cenário em que existem centenas de milhares de euros para retirar da floresta, sem que se tenha investido nesse património um euro, mas que corre um risco muito elevado. Nas parcelas em que se utiliza a técnica do fogo controlado, a área fica praticamente sem risco de incêndio durante 4 a 5 anos. António Salgueiro falou igualmente da importância de se reativar a resinagem, como sendo a atividade que garante maior presença no espaço florestal e que faz a gestão das áreas resinadas (um resineiro pode ser responsável por 20 hectares de floresta).
Os técnicos que agora completaram a formação aguardam ainda a creditação pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas para poderem começar a utilizar esta técnica que tem uma janela de oportunidade reduzida, tendo em conta todas as variáveis que é preciso considerar. O Município divulgará posteriormente as condições em que os proprietários florestais poderão requerer a realização desta técnica nos seus terrenos.
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