AS PALAVRAS ESTÃO GASTAS. PORQUE NÃO CALARMO-NOS DE VEZ?
Magda Guedes
Para assinalar a reabertura dos Museus e comemorar o Dia Internacional dos Museus, a Câmara Municipal de Ovar promove uma residência artística no Museu Júlio Dinis com o artista vareiro Pedro Damião. Tendo em conta os constrangimentos provocados pela epidemia e de modo a chegar ao maior público possível, a performance de abertura desta residência artística será transmitida através da página OVAR/CULTURA, nas redes sociais, às 19 horas desta segunda-feira, dia 18.
Pedro Damião parte sempre para a criação de um projeto com a ideia assente de que o faz por necessidade pessoal e não por mera sobrevivência intelectual.
Disseram-lhe, um dia, que a vida é um teatro, um espetáculo. Apesar de não gostar de confundir conceitos, tem a certeza que é mais um exercício bem efémero, onde há, claro, espaço para o erro e para a emenda.
Procura, neste convite à residência artística, precisamente esse espaço de rascunho, de errata, de silêncio, até chegar à criação. Tal como um rascunho atirado para o lixo ser o silêncio de alguém; alguém que procura e que cria. Espaço onde, como ator e criador, possa vivenciar satisfação e insatisfação, dor e alegria; falhar e aperfeiçoar, retornar ao vazio e ao silêncio, à escrita e à linguagem, ao real e ao imaginário, ao presente e ao passado. Entra aqui num estado incompleto, num estado de insistente procura, de uma ansiedade aquando da tomada de decisões, desta finitude que é definir as potências “poéticas” que propõem a relação público-criador, definir este equilíbrio entre objetividade e subjetividade, conhecido e desconhecido, entre… e aqui está… a palavra escrita, aquilo pelo qual todos nos fazemos entender, mais do que pela voz, pelo corpo, pela arte plástica, pelo som, pelo silêncio…
Mas ainda assim, o homem, continua a ser um ser imagético.
No princípio era apenas silêncio. Depois o som. O som transformado em linguagem, o desenho como símbolo, como forma de comunicação. Partimos depois para o mundo moderno quando descobrimos o verbo e a grafia. Desde então nunca mais nos calamos.
Pedro Damião nasceu em Ovar. Tem o curso de Interpretação da Academia Contemporânea do Espetáculo (Porto). Entre o teatro e participações regulares nas séries e telenovelas dos vários canais, acaba de gravar o filme "1618" com a realização de Luís Ismael. Tem trabalhado em companhias como Teatro do Bolhão, Mau Artista, Teatro das Beiras, Art’imagem, Público Reservado, assim como com os profissionais António Capelo, Paulo Calatré, João Paulo Costa, Diogo Infante, Rogério de Carvalho, Pedro Fiuza, Joana Providência, Kuniaki Ida, José Carretas, Renata Portas, Américo Rodrigues, entre outros. ”Pedro” foi a sua mais recente encenação, adaptação de “Pedro I” de Manuel Poppe, estreado no Teatro Municipal da Guarda. Dá voz a alguns desenhos animados da televisão portuguesa. Leciona a disciplina de Interpretação na Escola Profissional de Artes Performativas da JOBRA.
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