Uma equipa
multidisciplinar de investigadores, liderada por Henrique Girão, da
Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), identificou
uma proteína que pode comprometer a comunicação entre as células
responsáveis pela propagação do sinal de contração do coração,
contribuindo
para o surgimento de doenças cardíacas.
Em concreto, neste
estudo, que contou com a participação do Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra (CHUC) e da Faculdade de Medicina da
Universidade do Porto (FMUP), foi descoberto que «a
proteína EHD1 é determinante para regular a distribuição e
localização de um canal – designado gap
junction
- que é essencial para a propagação rápida do sinal elétrico
(“sinal de contração”) através do músculo cardíaco, e que
está na base do batimento sincronizado do coração»,
salienta Henrique Girão.
Para se perceber
melhor a relevância desta investigação, cujos resultados já estão
publicados na reputada revista científica Circulation
Research,
o investigador da FMUC explica que «num
coração saudável, para assegurar uma condução competente do
“sinal de contração”, estes canais [gap
junctions]
localizam-se em determinadas zonas da superfície das células do
músculo cardíaco, denominadas discos intercalares. Por essa razão,
muitas doenças do coração estão associadas a uma distribuição
anómala das gap
junctions
nas células do coração, com a sua saída dos discos intercalares,
o que acarreta um impacto negativo na eficiência de propagação da
onda elétrica e, consequentemente, na força de contração».
Nestes casos,
esclarece, «o
batimento do coração é menos vigoroso, fazendo com que em cada
contração haja menos sangue a ser ejetado (bombeado). Neste estudo
percebemos de que forma, nos corações doentes, ocorre a
redistribuição das gap
junctions
nas células cardíacas. Os nossos resultados evidenciam que a EHD1
participa no processo de remoção das gap
junctions
dos discos intercalares, conduzindo, em seguida, à sua acumulação
em outras zonas da célula, onde o papel destes canais na propagação
rápida do sinal elétrico fica comprometido».
Os resultados deste
estudo, que foi financiado pela Fundação para a Ciência e a
Tecnologia (FCT) e teve a duração de quatro anos, esclarecem os
mecanismos através dos quais esta redistribuição das gap
junctions
ocorre no coração doente, possibilitando «a
identificação de novos alvos terapêuticos que permitam, no futuro,
o desenvolvimento de abordagens mais eficazes no combate às doenças
cardiovasculares, particularmente estratégias inovadoras que evitem
que a proteína EHD1 participe na remoção das gap
junctions
dos discos intercalares, garantindo assim um batimento eficiente do
coração»,
conclui Henrique Girão.
O artigo científico
está disponível em:
https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIRCRESAHA.119.316502.
Cristina
Pinto
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