Texto de pesar pela morte de Mário Coelho foi aprovado em sessão plenária esta manhã, com a abstenção do BE, da deputada não inscrita Cristina Rodrigues (ex-PAN) e com os votos contra do PAN, que considerou inaceitável "enaltecer a cultura da morte e a cultura do sangue".
O Parlamento aprovou esta sexta-feira um voto de pesar pela morte do antigo matador de touros Mário Coelho, com a oposição do PAN, que considerou "inaceitável" a homenagem prestada ao toureiro.
O texto, apresentado pelo PS, PSD, CDS-PP e Chega, foi aprovado em sessão plenária esta manhã, com a abstenção do BE e da deputada não inscrita Cristina Rodrigues (ex-PAN) e com os votos contra do PAN, que considerou "inaceitável" enaltecer "a cultura da morte e a cultura do sangue".
A nota de pesar apresentada lembra Mário Coelho como um "conceituado toureiro, nome grande da tauromaquia e um dos grandes embaixadores culturais de Portugal no estrangeiro".
De acordo com a nota, o antigo matador de touros alcançou prestígio internacional como bandarilheiro, nas décadas de 50 e 60 do século XX, tendo conquistado o estatuto de "Melhor Bandarilheiro do Mundo".
"Até morrer, Mário Coelho nunca deixou de colaborar com ganadarias e de promover e participar em colóquios e outras atividades culturais. Mário Coelho disse, recentemente, que gostaria de ser recordado como "um homem digno, um homem que traçou um caminho direito e que nunca saiu dele". E assim será", pode ler-se no texto hoje votado.
Antes da votação, o porta-voz do PAN, André Silva, interpelou a mesa sobre a nota de pesar que homenageia Mário Coelho, considerando que "alguém que tem as mãos sujas de sangue não é um embaixador de Portugal".
"Esta é uma consideração política e insultuosa que extravasa o objeto de voto. A mesa tem dois pesos e duas medidas, veta votos com teor humanista e que defende valores universais mas permite votos que enaltecem a cultura da morte e a cultura do sangue, é inaceitável", declarou o dirigente do PAN.
Em resposta a estas críticas, o deputado socialista Pedro Delgado Alves considerou que "não pode valer tudo" e apelou à humanidade do deputado do PAN.
"O facto de em democracia discordarmos da atividade, não nos pode tornar imunes a essa humanidade. Devemos ter a capacidade de não perder a humanidade porque ao reconhecer o pesar há familiares, há amigos, há instituições que carecem de ser respeitados", considerou o deputado socialista.
Pelo CDS, o deputado Telmo Correia, disse não compreender o motivo do recurso apresentado pelo PAN, realçando que o termo "embaixador de Portugal" utilizado na nota refere-se a "alguém que, sendo português, foi uma figura notória" e que "gostando ou não da sua atividade, merece respeito".
Mário Coelho despediu-se das arenas em 1990, na Praça de Touros do Campo Pequeno, e no mesmo ano foi agraciado com a Medalha de Mérito Cultural em 1990, por Pedro Santana Lopes, então Secretário de Estado da Cultura. Em 2005, foi agraciado com a Comenda da Ordem do Mérito, pelo então Presidente da República Jorge Sampaio.
De acordo com a nota apresentada, Mário Coelho escreveu ainda, em 2005, um livro autobiográfico intitulado "Da Prata ao Ouro", com prefácio de Agustina Bessa-Luís e ainda este ano, António de Sousa Duarte escreveu a sua biografia, apresentada por Manuel Alegre no Campo Pequeno, no Dia da Tauromaquia.
Mário Coelho faleceu no passado dia 5 de julho, aos 84 anos, no hospital de Vila Franca de Xira (Lisboa), onde estava internado, vítima da doença Covid-19, informa a nota de pesar.
Lusa
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