Os restaurantes da Mealhada, conhecidos por servirem o leitão assado da Bairrada, anteveem um cenário catastrófico na faturação se o concelho vier a ser incluído na lista dos municípios mais afetados pela pandemia da covid-19.
O presidente da Câmara deste município do distrito de Aveiro, Rui Marqueiro, lançou inclusivamente um apelo às mais altas figuras do Estado para que o horário de funcionamento nos fins de semana de confinamento fosse estendido até às 15:00, antevendo a inclusão do concelho naquela lista.
Já hoje, o primeiro-ministro, António Costa, afastou essa possibilidade.
De acordo com o autarca, o município regista mais de 400 casos de infeção por covid-19, reunindo assim os requisitos para ser abrangido pelas medidas mais penalizadoras de combate à pandemia.
"Um restaurante na Mealhada não pode fechar às 13:00 ou então não abre, porque não servimos pequenos-almoços de leitão", ironizou Sandra Alves, proprietária do restaurante Pic Nic dos Leitões, aberto há 40 anos e que emprega 12 funcionários num espírito de "família".
Em declarações à agência Lusa, a empresária considera que a alteração do horário de confinamento "fazia toda a diferença", na medida em que a probabilidade de servir refeições até às 15:00 "é muito maior do que servir até às 13:00".
Segundo Sandra Alves, a restauração da Mealhada vive muito dos clientes de fora do concelho, sobretudo do norte, pelo que "qualquer confinamento naquela área geográfica e os restaurantes notarão logo a diferença".
Ouvido pela agência Lusa, António Paulo Rodrigues, responsável do restaurante Rei dos Leitões, considera que o recolher obrigatório a partir das 13:00 "vai piorar muito a situação da restauração".
"Vai ser um grande revés, num ano que já estava a ser muito mau, porque fechando às 13:00 poucas ou nenhumas refeições vamos servir no restaurante", enfatizou o empresário, que há 10 anos trocou a banca pela gestão do restaurante familiar, aberto desde 1947 e que emprega 18 pessoas.
No restaurante O Castiço, em funcionamento desde 1975, a gerente Carla Carvalheira antevê um "cenário catastrófico" num setor que "tem estado muito difícil, a cair abruptamente desde há três semanas".
Salientando que o recolher obrigatório às 13:00 vai "piorar a situação", a empresária sublinha que os restaurantes estarem abertos até às 13:00 "não faz sentido nenhum".
"O mês de novembro é para esquecer", desabafa Carla Carvalheira, considerando que o prolongamento até às 15:00 "não ia adiantar grande coisa, porque o forte é todo o fim de semana".
Mesmo ao lado, no restaurante Couceiro dos Leitões, aberto desde 1952, Carla Couceiro refere à agência Lusa que o recolher obrigatório "não abona nada de bom no futuro para ninguém".
Já com as medidas em vigor e as limitações de circulação no fim de semana do Dia de Todos os Santos a situação "era má, com pouco movimento, mas em que ainda se conseguia faturar alguma coisa para pagar as despesas fixas, que são muitas".
"Vai ser um período muito difícil e nós estamos numa casa em que não precisamos de pagar renda, imagine-se quem tem de pagar", enfatiza Carla Couceiro, que via com bons olhos o alargamento do período de fecho das 13:00 para as 15:00, "porque assim seria possível fazer os almoços normalmente e isso seria uma grande ajuda".
Os responsáveis de restaurantes ouvidos pela agência Lusa destacaram que os meses de verão, sobretudo agosto, ultrapassaram as expectativas em termos de faturação, com alguns a baterem recordes de faturação diários.
Aqueles empresários descartam, para já, qualquer possibilidade de despedimentos.
O Governo anunciou o recolher obrigatório entre as 23:00 e as 05:00 nos dias de semana, a partir de segunda-feira e até 23 de novembro, nos 121 municípios mais afetados pela pandemia, sendo que, ao fim de semana, o recolher obrigatório inicia-se a partir das 13:00 nos mesmos 121 concelhos.
Lusa
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