Apelo para repor as reservas de sangue levou centenas ao Instituto Português do Sangue e da Transplantação. A fila chegou a dar a volta ao edifício. Na terça-feira e na quarta-feira (até às 18 horas) os três centros do Instituto Português do Sangue e da Transplantação tiveram 1590 dadores inscritos e recolheram 1279 Unidades.
Foi disso prova a fila de pessoas que dava a volta ao IPST esta quarta-feira à tarde. Maria Fernandes, 48 anos, já dadora, decidiu responder ao apelo. O que não esperava era tanta gente. “Cheguei às 10h30 e só saí às 15h45”, conta, ao mesmo tempo que exibe a declaração que atesta a sua presença.
“Foram cinco horas de espera em pé, sem comer, ao frio e à chuva, mas não desisti”, afirmou, sublinhando a importância de doar sangue.
Na fila havia pessoas de todas as idades, mas sobretudo jovens. E nem todos já eram dadores. É o caso de José Agapito, 23 anos, que viu o apelo nas redes sociais e decidiu dirigir-se ao IPST. Vem dar sangue pela primeira vez. Chegou por volta das 11h40 e deparou-se com uma fila imensa.
Na mão tem um pacote de sumo. “Vieram distribuir sumos, sandes e bolachas”, contou, sublinhando que já está na fila há mais de três horas e que, como achava que ia ser rápido, não trouxe comida. Uma funcionária do IPST percorre a fila e anda de tabuleiro a distribuir alimentos.
Patrícia Costa, de 24 anos, aguarda para dar sangue há cerca de quatro horas. Está quase a chegar a sua vez, mas garante que já viu pessoas a desistir. “Acho que ninguém estava à espera de demorar tanto tempo”, afirmou. Acredita que há maior afluência ao IPST porque as pessoas pensam que é mais seguro do que ir a um hospital. “Há hospitais com pontos de recolha, mas aqui o horário é mais alargado e pareceu-me mais seguro”, relatou. Ao que o PÚBLICO apurou, na terça-feira o IPST fechou apenas as portas às 22h30, quando costuma fazê-lo às 20h.
O frio e a gripe contribuem todos os anos para menos doações de sangue, mas a pandemia baixou ainda mais as reservas. “As unidades móveis costumavam ir às empresas fazer as recolhas, mas agora temos duas situações: nuns casos as empresas fecharam e noutros os trabalhadores estão em teletrabalho, logo torna-se impossível fazer esse trabalho”, explica uma fonte do IPST.
A tarde já vai a meio e o sol começa a baixar, Gonçalo Rodrigues, de 20 anos, é o último da fila. Está pronto para esperar? Resposta com convicção: “Sim”. Tem mais de 100 pessoas à sua frente, neste momento a fila dá a volta ao edifício do IPST. Gonçalo tem nas suas costas, a escassos metros, a porta de entrada para os dadores. Olha para trás e diz: “É realmente impressionante a solidariedade. Emocionei-me quando aqui cheguei e vi tantas pessoas.”
O IPST considerou “extraordinária” a adesão dos portugueses ao apelo. Segundo o IPST, a grande maioria das colheitas foi efectuada nos Postos Fixos dos Centros de Sangue e da Transplantação do IPST, em Lisboa, Porto e Coimbra e ainda não era possível ter dados da recolha acerca dos outros serviços hospitalares.
A seguir ao apelo, que foi feito na segunda-feira, na terça-feira e na quarta-feira (até às 18 horas) os três centros do IPST tiveram 1590 dadores inscritos e recolheram 1279 Unidades.
O instituto informou que, “dada a enorme afluência, os dadores do Centro de Sangue e da Transplantação de Lisboa (CSTL) estão a ser atendidos simultaneamente nas instalações do CSTL e nas instalações do INFARMED, ambas as instituições localizadas no Parque da Saúde de Lisboa (Hospital Júlio de Matos) sendo reencaminhados por profissionais da instituição”.
E relembra” que as necessidades em sangue e componentes sanguíneos nos hospitais são diárias, os componentes sanguíneos têm um tempo limitado de armazenamento, os dadores de sangue se forem homens só podem realizar a sua dádiva de três em três meses e se forem mulheres de quatro em quatro meses”.
O IPST agradece a enorme solidariedade dos portugueses e apela a todos os dadores para que procurem os serviços de colheita de sangue de forma faseada.
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