sexta-feira, 5 de março de 2021

Aumento sem precedentes da pobreza na América Latina

A pandemia de covid-19 está a provocar um aumento sem precedentes da pobreza na América Latina, a região do mundo mais afetada pela crise sanitária, com 22 milhões de novos pobres em 2020, revelou hoje um organismo da ONU.

A Comissão Económica para a América Latina e o Caribe (Cepal), com sede em Santiago e dependente da ONU, assinala que em 2020 a taxa de pobreza atingiu 33,7% da população e da pobreza extrema situou-se nos 12,5%, níveis que não se registavam, respetivamente, nos últimos 12 e 20 anos.

De acordo com o relatório "Panorama Social da América Latina 2020", o total de pessoas em situação de pobreza aumentou para 209 milhões, incluindo 78 milhões que se encontram em situação de pobreza extrema, mais oito milhões face a 2019.

"Oito em cada dez latino-americanos são vulneráveis, e por este facto solicita-se que se avance com sistema de proteção social universais", disse a secretária executiva da instituição, Alicia Bárcena, que alertou para a travagem no processo de ascensão social, e cerca de 59 milhões de pessoas que em 2019 pertenciam a estratos médios registaram um processo de mobilidade económica descendente.

Os Governos latino-americanos aplicaram um total de 263 medidas de proteção social de emergência em 2020, que abrangeu quase 50% da população (326 milhões de pessoas).

A América Latina está assinalada como a região mais desigual do mundo.

Sem estas medidas, alertou Bárcena, "a incidência da pobreza extrema teria alcançado 15,8% e a pobreza 37,2% da população".

O relatório também assinala que o novo coronavírus agravou os problemas estruturais do continente latino-americano, provocando a maior crise económicos dos últimos 120 anos na região.

O Cepal calcula que a covid-19 provocou uma contração económica na região de 7,7% em 2020, e uma taxa de desemprego regional de 10,7%, um aumento de 2,6% em relação a 2019.

Em simultâneo, o Produto Interno Bruto (PIB) 'per capita' regional terminou em 2020 no mesmo nível de 2010, o que significa que a América Latina se depara com uma nova época perdida, semelhante ao que ocorreu em 1980, precisa o Cepal.

A pandemia, que regista 21,5 milhões de casos e cerca de 700.000 mortes num ano na América Latina, está a registar uma segunda vaga em vários países como o México, Brasil, Peru ou Chile, que tinha iniciado a abertura das suas economias e foram forçados a novas medidas restritivas.

"A América Latina tem 8,4% da população mundial e 27,8% das mortes registadas pela pandemia no mundo. Isto sucede por motivos como o sobrepovoamento, a falta de acessos básicos, sistemas de saúde fragmentados e o lento e desigual acesso à vacinação", assegurou Alicia Bárcena.

Lusa

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