Canonizada no dia 19 de maio de 2002, o Brasil, depois de 500 anos de História, viu sua primeira Santa ser elevada à honra dos altares. Sua festividade é celebrada pela Santa Igreja no dia 9 de julho.
Paulo Roberto Campos
Aencantadora cidade de Nova Trento (SC) não cessa de receber visitantes dos quatro cantos do Brasil. Caravanas afluem com frequência. Todos desejam conhecer a admirável vida de Santa Paulina, canonizada por João Paulo II, tendo sido beatificada pelo mesmo Pontífice, quando de sua visita ao Brasil, em outubro de 1991.
A referida cidade, de imigração italiana, a 100 quilômetros de Florianópolis, nestes dias vive repleta de peregrinos. Devotos percorrem os lugares onde a Bem-aventurada viveu. Muitos procuram pessoas que a conheceram e possam dar testemunho das virtudes que ela praticou em grau heróico; fiéis andam à busca de relíquias, rezam, agradecem e pedem graças à nova intercessora que todos temos agora junto a Deus, especialmente os brasileiros. Santa Paulina! Rogai por nós!
Um pouco de biografia
Amábile Lúcia Visintainer, segunda filha (dentre 14 irmãos) de Antonio Napoleone Visintainer e de Anna Pianezzer, nasceu em Vígolo Vittaro (Itália), em 16 de dezembro de 1865. Os Visintainer imigraram para o Brasil quando Amábile tinha apenas 9 anos. Cresceu no bucólico povoado — que recebeu o mesmo nome de sua terra natal — de Vígolo, em Nova Trento (SC). Aos 12, quando fez a primeira comunhão, iniciou sua obra de caridade: ensinava o catecismo às crianças da aldeia, visitava os enfermos, cuidava da limpeza da capela. Aos 25 anos, com permissão dos pais, deixou sua casa para dar início — auxiliada por uma amiga, Virgínia Rosa Nicolodi — à obra hoje conhecida no Brasil inteiro e em muitos países: a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada pela santa madre no dia 12 de julho de 1890.
Desde a fundação, ela fora escolhida para ser a superiora, mas só em 1895 as jovens que se formaram em torno de Amábile receberam a aprovação do Bispo de Curitiba, Dom José de Camargo Barros.
Assim, fizeram os votos religiosos, e a jovem fundadora recebeu o nome de Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus.
Terrível provação
Depois da fundação de sua obra em Vígolo e Nova Trento (SC), a Serva de Deus transferiu-se em 1903 para São Paulo, na colina do Ipiranga, onde iniciou a Obra da Sagrada Família, que cuidava de idosos e ex-escravos, os quais, com a abolição da escravatura em 1888, ficavam perambulando pelas ruas.
Em fevereiro de 1903, ela foi eleita Superiora Geral “ad vitam” (para toda a vida), mas seu governo durou apenas seis anos. Sua obra ia crescendo extraordinariamente, novas vocações surgiam, novas casas eram fundadas. Mas, a partir de 1909, Madre Paulina começou a ser perseguida e humilhada cruelmente. Pessoas estranhas, apoiadas por algumas religiosas, passaram a transmitir más informações ao então Arcebispo de São Paulo, D. Duarte Leopoldo e Silva. Devido a isto, o Prelado a demitiu das funções de superiora e proibiu-a de, no futuro, exercer qualquer cargo de mando na própria Congregação que ela havia fundado. Com heróico espírito de humildade, resignação e amor à obediência, ela nunca se revoltou contra essa injusta punição aplicada pela autoridade eclesiástica.
Tal vida santa, tal morte
De 1909 a 1918 viveu na Casa-Asilo de idosos, fundada por ela em Bragança Paulista (SP). Foram nove anos de uma pungente Via Crucis, na qual a Divina Providência ia acrisolando suas virtudes, purificando ainda mais sua bela alma no caminho do sofrimento. Perseguida e humilhada, não desanimou em seu apostolado, tudo aceitou por amor de Deus, por sua obra e pela santificação de suas filhas espirituais.
Madre Paulina, em 1918, foi chamada de volta à Casa Geral no bairro do Ipiranga, em São Paulo, com pleno reconhecimento de suas virtudes, para servir de exemplo às mais jovens da Congregação, das quais não era mais a Superiora, mas era venerada como fundadora. Foi um modelo de vida de piedade, de amor ao sacrifício e de constante assistência às Irmãs enfermas.
Em 1938 começa a padecer dores atrozes devido a uma diabete. Sofreu progressivas amputações, tendo, aos poucos, ficado cega. Morreu piedosamente aos 76 anos e seis meses, em 9 de julho de 1942, sendo suas últimas palavras as de sua habitual jaculatória: “Seja feita a vontade de Deus”.
A postuladora da causa
Tanto a beatificação como a canonização se devem, em muito considerável medida, aos esforços da Irmã Célia Cadorin, postuladora da causa, instaurada 23 anos após a morte de Madre Paulina, em 3-9-65.
Irmã Célia, que também levou a bom termo o processo de beatificação de Frei Antônio de Sant’Ana Galvão, é religiosa da Congregação fundada pela nova Santa, que teve o privilégio de conhecer pessoalmente quando tinha 13 anos.
Em entrevista exclusiva à revista Catolicismo, a Irmã Célia narrou interessantes episódios alusivos à beatificação de Frei Galvão (Vide Catolicismo, setembro/1998).
O processo de canonização
Antes de uma pessoa ser declarada santa, há um rigoroso processo em que se estuda minuciosamente toda sua vida, para certificar-se, sem qualquer sombra de dúvida — o que pode demorar décadas ou mais —, que ela tenha praticado em grau heróico as virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade) e as virtudes cardeais (Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança).
Há também necessidade da comprovação inequívoca de dois milagres operados por intercessão do novo santo. No caso de Madre Paulina, houve duas curas atribuídas a ela: a da Sra. Eluíza Rosa de Souza, em 1966, e a de uma menina acreana, Iza Bruna Vieira de Souza, em 1992. (Vide quadro abaixo).
A Santa Sé reconheceu que houve intercessão da Madre Paulina nessas duas curas, após ter submetido a comprovação a uma junta médica que implacavelmente examinou os casos cientificamente; após aprovação, seguiu o tema para análise de teólogos; depois a cardeais e bispos, para que também eles fizessem a análise. Finalmente — ficando evidenciado que as curas eram duradouras e completas — o processo seguiu para a apreciação do Papa, que lerá a bula de canonização no dia 19 deste mês de maio, em Roma.
Terminado o longo processo de 37 anos, Madre Paulina foi reconhecida como santa, suas virtudes foram proclamadas pelo mundo inteiro. Ela pode ser, então, cultuada pelos católicos dos cinco continentes, e todas as igrejas católicas poderão entronizar suas imagens nos altares.
Santa Paulina! Rogai por nós! E intercedei junto a Deus pelo Brasil — sua pátria adotiva — nesta situação caótica em que se encontra o nosso País, com sua população majoritariamente católica, da qual, infelizmente, muitos não praticam as virtudes ensinadas pela Santa Igreja.
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Fonte de referência: http://www.fides.orghttp://www.prodau.com.br/madre/http://www.ciic.org.br/fundadora/
OS DOIS MILAGRES COMPROVADOS
- Eluíza Rosa de Souza: Foi curada em 1966, sofrendo perda intra-uterina do feto no sétimo mês de gravidez, tendo na ocasião sofrido hemorragias. Desenganada pelos médicos, rezou pedindo a intervenção da Madre Paulina e sobreviveu. Obteve a cura instantânea e completa, estando internada no Hospital Maternidade São Camilo, de Imbituba (SC). Depois desse fato surpreendente, teve quatro filhos.
- Iza Bruna Vieira de Souza: Esta menina nasceu em junho de 1992, em Rio Branco (Acre), com um tumor cerebral do tamanho de uma maçã (hidrocefalia). Antes da operação para retirada do tumor, a mãe de Iza, Da. Mabel, colocou na mãozinha da filha uma foto de Madre Paulina. Após a cirurgia, teve convulsões cerebrais, tendo os médicos declarado que, se ela sobrevivesse, ficaria tetraplégica, cega, surda e muda. A avó da menina, Da. Zaira de Oliveira, disse confiante que estava rezando e pedindo a Madre Paulina que miraculasse sua neta. Batizaram a menina e, 20 minutos depois, ela melhorou repentinamente, alcançando a cura completa. A doença jamais voltou a se manifestar, nem deixou sequelas. Hoje goza de plena saúde.
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