domingo, 10 de julho de 2022

Madre Paulina, a primeira Santa brasileira

Canonizada no dia 19 de maio de 2002, o Brasil, depois de 500 anos de História, viu sua primeira Santa ser elevada à honra dos altares. Sua festividade é celebrada pela Santa Igreja no dia 9 de julho.

Paulo Roberto Campos

Aencantadora cidade de Nova Trento (SC) não cessa de receber visitantes dos quatro cantos do Brasil. Caravanas afluem com frequência. Todos desejam conhecer a admirável vida de Santa Paulina, canonizada por João Paulo II, tendo sido beatificada pelo mesmo Pontífice, quando de sua visita ao Brasil, em outubro de 1991.

A referida cidade, de imigração italiana, a 100 quilômetros de Florianópolis, nestes dias vive repleta de peregrinos. Devotos percorrem os lugares onde a Bem-aventurada viveu. Muitos procuram pessoas que a conheceram e possam dar testemunho das virtudes que ela praticou em grau heróico; fiéis andam à busca de relíquias, rezam, agradecem e pedem graças à nova intercessora que todos temos agora junto a Deus, especialmente os brasileiros. Santa Paulina! Rogai por nós!

Um pouco de biografia

Vígolo Vattaro (Trento, Itália), cidade natal de Amábile Visintainer.

Amábile Lúcia Visintainer, segunda filha (dentre 14 irmãos) de Antonio Napoleone Visintainer e de Anna Pianezzer, nasceu em Vígolo Vittaro (Itália), em 16 de dezembro de 1865. Os Visintainer imigraram para o Brasil quando Amábile tinha apenas 9 anos. Cresceu no bucólico povoado — que recebeu o mesmo nome de sua terra natal — de Vígolo, em Nova Trento (SC). Aos 12, quando fez a primeira comunhão, iniciou sua obra de caridade: ensinava o catecismo às crianças da aldeia, visitava os enfermos, cuidava da limpeza da capela. Aos 25 anos, com permissão dos pais, deixou sua casa para dar início — auxiliada por uma amiga, Virgínia Rosa Nicolodi — à obra hoje conhecida no Brasil inteiro e em muitos países: a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada pela santa madre no dia 12 de julho de 1890.

Desde a fundação, ela fora escolhida para ser a superiora, mas só em 1895 as jovens que se formaram em torno de Amábile receberam a aprovação do Bispo de Curitiba, Dom José de Camargo Barros.

Assim, fizeram os votos religiosos, e a jovem fundadora recebeu o nome de Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus.

Terrível provação

Depois da fundação de sua obra em Vígolo e Nova Trento (SC), a Serva de Deus transferiu-se em 1903 para São Paulo, na colina do Ipiranga, onde iniciou a Obra da Sagrada Família, que cuidava de idosos e ex-escravos, os quais, com a abolição da escravatura em 1888, ficavam perambulando pelas ruas.

Em fevereiro de 1903, ela foi eleita Superiora Geral “ad vitam” (para toda a vida), mas seu governo durou apenas seis anos. Sua obra ia crescendo extraordinariamente, novas vocações surgiam, novas casas eram fundadas. Mas, a partir de 1909, Madre Paulina começou a ser perseguida e humilhada cruelmente. Pessoas estranhas, apoiadas por algumas religiosas, passaram a transmitir más informações ao então Arcebispo de São Paulo, D. Duarte Leopoldo e Silva. Devido a isto, o Prelado a demitiu das funções de superiora e proibiu-a de, no futuro, exercer qualquer cargo de mando na própria Congregação que ela havia fundado. Com heróico espírito de humildade, resignação e amor à obediência, ela nunca se revoltou contra essa injusta punição aplicada pela autoridade eclesiástica.

Tal vida santa, tal morte

Casa onde nasceu Madre Paulina

De 1909 a 1918 viveu na Casa-Asilo de idosos, fundada por ela em Bragança Paulista (SP). Foram nove anos de uma pungente Via Crucis, na qual a Divina Providência ia acrisolando suas virtudes, purificando ainda mais sua bela alma no caminho do sofrimento. Perseguida e humilhada, não desanimou em seu apostolado, tudo aceitou por amor de Deus, por sua obra e pela santificação de suas filhas espirituais.

Madre Paulina, em 1918, foi chamada de volta à Casa Geral no bairro do Ipiranga, em São Paulo, com pleno reconhecimento de suas virtudes, para servir de exemplo às mais jovens da Congregação, das quais não era mais a Superiora, mas era venerada como fundadora. Foi um modelo de vida de piedade, de amor ao sacrifício e de constante assistência às Irmãs enfermas.

Em 1938 começa a padecer dores atrozes devido a uma diabete. Sofreu progressivas amputações, tendo, aos poucos, ficado cega. Morreu piedosamente aos 76 anos e seis meses, em 9 de julho de 1942, sendo suas últimas palavras as de sua habitual jaculatória: “Seja feita a vontade de Deus”.

A postuladora da causa

Tanto a beatificação como a canonização se devem, em muito considerável medida, aos esforços da Irmã Célia Cadorin, postuladora da causa, instaurada 23 anos após a morte de Madre Paulina, em 3-9-65.

Irmã Célia, que também levou a bom termo o processo de beatificação de Frei Antônio de Sant’Ana Galvão, é religiosa da Congregação fundada pela nova Santa, que teve o privilégio de conhecer pessoalmente quando tinha 13 anos.

Em entrevista exclusiva à revista Catolicismo, a Irmã Célia narrou interessantes episódios alusivos à beatificação de Frei Galvão (Vide Catolicismo, setembro/1998).

O processo de canonização

Réplica da choupana onde se iniciou a obra de Madre Paulina, em Vígolo, Nova Trento (SC)

Antes de uma pessoa ser declarada santa, há um rigoroso processo em que se estuda minuciosamente toda sua vida, para certificar-se, sem qualquer sombra de dúvida — o que pode demorar décadas ou mais —, que ela tenha praticado em grau heróico as virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade) e as virtudes cardeais (Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança).

Há também necessidade da comprovação inequívoca de dois milagres operados por intercessão do novo santo. No caso de Madre Paulina, houve duas curas atribuídas a ela: a da Sra. Eluíza Rosa de Souza, em 1966, e a de uma menina acreana, Iza Bruna Vieira de Souza, em 1992. (Vide quadro abaixo).

A Santa Sé reconheceu que houve intercessão da Madre Paulina nessas duas curas, após ter submetido a comprovação a uma junta médica que implacavelmente examinou os casos cientificamente; após aprovação, seguiu o tema para análise de teólogos; depois a cardeais e bispos, para que também eles fizessem a análise. Finalmente — ficando evidenciado que as curas eram duradouras e completas — o processo seguiu para a apreciação do Papa, que lerá a bula de canonização no dia 19 deste mês de maio, em Roma.

Casa Geral da Congregação fundada por Madre Paulina no bairro do Ipiranga, em São Paulo

Terminado o longo processo de 37 anos, Madre Paulina foi reconhecida como santa, suas virtudes foram proclamadas pelo mundo inteiro. Ela pode ser, então, cultuada pelos católicos dos cinco continentes, e todas as igrejas católicas poderão entronizar suas imagens nos altares.

Santa Paulina! Rogai por nós! E intercedei junto a Deus pelo Brasil — sua pátria adotiva — nesta situação caótica em que se encontra o nosso País, com sua população majoritariamente católica, da qual, infelizmente, muitos não praticam as virtudes ensinadas pela Santa Igreja.

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Fonte de referência: http://www.fides.orghttp://www.prodau.com.br/madre/http://www.ciic.org.br/fundadora/

OS DOIS MILAGRES COMPROVADOS

  • Eluíza Rosa de Souza: Foi curada em 1966, sofrendo perda intra-uterina do feto no sétimo mês de gravidez, tendo na ocasião sofrido hemorragias. Desenganada pelos médicos, rezou pedindo a intervenção da Madre Paulina e sobreviveu. Obteve a cura instantânea e completa, estando internada no Hospital Maternidade São Camilo, de Imbituba (SC). Depois desse fato surpreendente, teve quatro filhos.
  • Iza Bruna Vieira de Souza: Esta menina nasceu em junho de 1992, em Rio Branco (Acre), com um tumor cerebral do tamanho de uma maçã (hidrocefalia). Antes da operação para retirada do tumor, a mãe de Iza, Da. Mabel, colocou na mãozinha da filha uma foto de Madre Paulina. Após a cirurgia, teve convulsões cerebrais, tendo os médicos declarado que, se ela sobrevivesse, ficaria tetraplégica, cega, surda e muda. A avó da menina, Da. Zaira de Oliveira, disse confiante que estava rezando e pedindo a Madre Paulina que miraculasse sua neta. Batizaram a menina e, 20 minutos depois, ela melhorou repentinamente, alcançando a cura completa. A doença jamais voltou a se manifestar, nem deixou sequelas. Hoje goza de plena saúde.
ABIM

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