Na
Humanidade como na história ou na grande Literatura Universal, são duas as
grandes espécies humanas, a saber:
1 – Há OS
INDIVÍDUOS que passam toda a sua vida, que consomem dias e noites, que
queimam a sua cabeça só para criar cabelos brancos, a velar túmulos vazios, a
tentar manter de pé cadáveres adiados, a trocar para trás os ponteiros aos
relógios em madrugada de Ano Novo! Não sabem, assim, distinguir o provisório do
eterno! Não passam de apóstolos dorminhocos, enquanto Cristo transpira sangue
de morte, pelo nascimento agónico de uma Humanidade nova.
2 – Mas ao
lado destes indivíduos bolorentos e com atitudes mafiosas (uma vez que pelo
fruto se conhece a árvore), há felizmente PESSOAS! As pessoas, já não são
apenas indivíduos, individuais e individualistas, ovelhas de um rebanho em
decrepitude, mas, antes personalidades criadas e criadoras, que se gastam, que
se consomem, que se queimam por abrir, na noite sem nome, não apenas a
esperança infantil do outro-mundo, mas, antes e, principalmente, se empenham
radicalmente em converter este mundo noutro mais humano. Historicamente, sociologicamente,
é inútil fazermo-nos individualmente bons, se simultaneamente não contribuirmos
para tornar estruturalmente melhor este nosso mundo.
Numa
sociedade mortalmente enferma, mas nem por isso menos venenosa e envenenadora, o ser
bom acaba por ser mártir ou neuropata!... E como se pode apenas ser bom, como se pode apenas ser bonzinho num
mundo que é um pecado legalizado? (Deixem-me lembrar-vos apenas isto:
desde que comecei a escrever-vos este editorial, já morreram à fome, só entre
crianças, à volta de quatro mil… E continuam os países ricos a ser países dito
cristãos, solidários… Pior: os países pobres por causa dos países ricos, ditos
cristãos!...).
Neste mundo,
neste nosso mundo da dádiva de sangue dividido entre homens de cara lavada e
indivíduos mascarados de homens; neste nosso mundo onde o homem continua,
apesar de tudo, a ser lobo do homem, porque em nome de uma santa solidariedade,
abstracta e académica, continuam sentados lado a lado, explorados e
exploradores, actores empenhados que sujam as mãos empenhando-se nos riscos de
um Mundo Novo, frente as comparsas de luvas brancas nas mãos ensanguentadas e bem
falantes! São bem falantes que também eles falam, por vezes, num mundo
novo, mas como um termo de boa retórica, de tão boa retórica que nem
eles incomodam ninguém, tal como por isso ninguém os incomoda a eles!
Daí que nos
seus lábios, o ser solidário nunca tenha sido uma palavra, mais uma palavra,
académica, abstracta, anódina, que não muda nada por não incomodar ninguém!
Pois é, no
mundo da dádiva de sangue temos os indivíduos, as pessoas e por fim os
Nicodemos de hoje, os modernos com pantufas de lã, com os quais temos que
forçosamente conviver. Urge promover os indivíduos a pessoas conscientes e
responsáveis pelo que dizem, fazem e escrevem.
Hesitei
muito em reflectir sobre o assunto em epígrafe! Como tudo na vida, em toda a
História, há vivos mais mortos do que os mortos, ainda que, em contrapartida,
haja Mortos mais vivos do que os vivos! Na vida nada acontece por acaso… O
acaso é, aliás cada vez mais e em tudo, a capa da nossa ignorância, ou então,
pior ainda, da nossa intrujice!
Convém
despertar as consciências de cada um, em abrir os olhos aos que olham mas, não
vêem, em pôr de pé os inválidos que se movem mas não andam!...
O mundo da
dádiva de sangue necessita de dirigentes associativos com uma CONSCIÊNCIA
CRÍTICA, com autoridade moral, que não alinhem em jogadas, que em nada dignifica
a dádiva de sangue nem os dadores. A vida do líder é a vida da sua
liderança. Liderança não é apenas performance, mas sobre tudo, integridade.
John Maxwell definiu liderança como influência. Um líder influencia sempre:
para o bem ou para o mal. A liderança jamais é neutra. Um líder é bênção ou
maldição
Não vou
agora evocar Bernanos, Mauriac, Graham Grene Juliem, ou Coccioli, ainda que me
tenha referido a Kazantzaky.
O mundo da
dádiva de sangue precisa de homens cuja palavra seja o seu compromisso, que
ponham o carácter acima dos interesses pessoais, em quem os dadores possam
depositar confiança na sua representação.
Todos nós
que, dizendo-se inteligentes, trocamos a verdade pelos interesses mesquinhos e
de exclusivo egocentrismo. Até quando? Mas, porque urgente e inadiável a
necessidade de reposição de um bem perdido – A VERDADEIRA SOCIABILIDADE HUMANA. «Homens, sede homens»!... Paulo
VI.
J. Carlos
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