sábado, 28 de novembro de 2015

Os indivíduos e as pessoas no mundo da dádiva de sangue

Na Humanidade como na história ou na grande Literatura Universal, são duas as grandes espécies humanas, a saber:

1 – Há OS INDIVÍDUOS que passam toda a sua vida, que consomem dias e noites, que queimam a sua cabeça só para criar cabelos brancos, a velar túmulos vazios, a tentar manter de pé cadáveres adiados, a trocar para trás os ponteiros aos relógios em madrugada de Ano Novo! Não sabem, assim, distinguir o provisório do eterno! Não passam de apóstolos dorminhocos, enquanto Cristo transpira sangue de morte, pelo nascimento agónico de uma Humanidade nova.
2 – Mas ao lado destes indivíduos bolorentos e com atitudes mafiosas (uma vez que pelo fruto se conhece a árvore), há felizmente PESSOAS! As pessoas, já não são apenas indivíduos, individuais e individualistas, ovelhas de um rebanho em decrepitude, mas, antes personalidades criadas e criadoras, que se gastam, que se consomem, que se queimam por abrir, na noite sem nome, não apenas a esperança infantil do outro-mundo, mas, antes e, principalmente, se empenham radicalmente em converter este mundo noutro mais humano. Historicamente, sociologicamente, é inútil fazermo-nos individualmente bons, se simultaneamente não contribuirmos para tornar estruturalmente melhor este nosso mundo.

Numa sociedade mortalmente enferma, mas nem por isso menos venenosa e envenenadora, o ser bom acaba por ser mártir ou neuropata!... E como se pode apenas ser bom, como se pode apenas ser bonzinho num mundo que é um pecado legalizado? (Deixem-me lembrar-vos apenas isto: desde que comecei a escrever-vos este editorial, já morreram à fome, só entre crianças, à volta de quatro mil… E continuam os países ricos a ser países dito cristãos, solidários… Pior: os países pobres por causa dos países ricos, ditos cristãos!...).

Neste mundo, neste nosso mundo da dádiva de sangue dividido entre homens de cara lavada e indivíduos mascarados de homens; neste nosso mundo onde o homem continua, apesar de tudo, a ser lobo do homem, porque em nome de uma santa solidariedade, abstracta e académica, continuam sentados lado a lado, explorados e exploradores, actores empenhados que sujam as mãos empenhando-se nos riscos de um Mundo Novo, frente as comparsas de luvas brancas nas mãos ensanguentadas e bem falantes! São bem falantes que também eles falam, por vezes, num mundo novo, mas como um termo de boa retórica, de tão boa retórica que nem eles incomodam ninguém, tal como por isso ninguém os incomoda a eles!
Daí que nos seus lábios, o ser solidário nunca tenha sido uma palavra, mais uma palavra, académica, abstracta, anódina, que não muda nada por não incomodar ninguém!
Pois é, no mundo da dádiva de sangue temos os indivíduos, as pessoas e por fim os Nicodemos de hoje, os modernos com pantufas de lã, com os quais temos que forçosamente conviver. Urge promover os indivíduos a pessoas conscientes e responsáveis pelo que dizem, fazem e escrevem.
Hesitei muito em reflectir sobre o assunto em epígrafe! Como tudo na vida, em toda a História, há vivos mais mortos do que os mortos, ainda que, em contrapartida, haja Mortos mais vivos do que os vivos! Na vida nada acontece por acaso… O acaso é, aliás cada vez mais e em tudo, a capa da nossa ignorância, ou então, pior ainda, da nossa intrujice!
Convém despertar as consciências de cada um, em abrir os olhos aos que olham mas, não vêem, em pôr de pé os inválidos que se movem mas não andam!...
O mundo da dádiva de sangue necessita de dirigentes associativos com uma CONSCIÊNCIA CRÍTICA, com autoridade moral, que não alinhem em jogadas, que em nada dignifica a dádiva de sangue nem os dadores. A vida do líder é a vida da sua liderança. Liderança não é apenas performance, mas sobre tudo, integridade. John Maxwell definiu liderança como influência. Um líder influencia sempre: para o bem ou para o mal. A liderança jamais é neutra. Um líder é bênção ou maldição
Não vou agora evocar Bernanos, Mauriac, Graham Grene Juliem, ou Coccioli, ainda que me tenha referido a Kazantzaky.
O mundo da dádiva de sangue precisa de homens cuja palavra seja o seu compromisso, que ponham o carácter acima dos interesses pessoais, em quem os dadores possam depositar confiança na sua representação.
Todos nós que, dizendo-se inteligentes, trocamos a verdade pelos interesses mesquinhos e de exclusivo egocentrismo. Até quando? Mas, porque urgente e inadiável a necessidade de reposição de um bem perdido – A VERDADEIRA SOCIABILIDADE HUMANA. «Homens, sede homens»!... Paulo VI.

J. Carlos

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