domingo, 28 de fevereiro de 2016
O Bureau Político do MPLA anunciou ontem, em comunicado, a morte de Lúcio Lara, por doença, aos 86 anos. Lúcio Rodrigo Leite Barreto de Lara foi um dos pilares fundamentais do amplo Movimento Popular de Libertação de Angola, que lutou pela liberdade do povo e guiou a sua luta pela independência nacional, conquistada em 11 de Novembro de 1975.
No comunicado, o Bureau Político do MPLA refere-se a Lúcio Lara como um dos artífices da luta pela independência de Angola, ao lado do Primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, e de outros eminentes nacionalistas que “escreveu o seu nome com letras de ouro na História de Angola, pela sua inestimável participação na árdua caminhada em prol da liberdade, da autodeterminação e da independência nacional”.
“Pelo infausto acontecimento, o Bureau Político do Comité Central do MPLA inclina-se perante a memória deste ilustre combatente da pátria angolana e, em nome dos militantes, simpatizantes e amigos do partido, endereça à família enlutada as mais sentidas condolências”, lê-se no comunicado.
Nascido no Huambo, em 9 de Abril de 1929, Lúcio Lara, ou Tchiweka (pseudónimo de guerra escolhido por Lara em homenagem à terra da sua mãe - sendo Tchiweka o nome da aldeia de origem da mãe, era filho de pai português - comerciante e funcionário público -, e mãe angolana.
Tendo terminado o ensino secundário no Huambo e Lubango, partiu para Portugal para prosseguir estudos em Química e Física nas Faculdades de Ciências da Universidade de Coimbra e em Lisboa. Em 1949, na Casa dos Estudantes do Império, iniciou as suas actividades políticas e fez parte da direcção da “casa” em Coimbra. Fazia também parte do Clube Marítimo Africano, em Lisboa, com Agostinho Neto, Humberto Machado, Zito Van-Dúnem e outros nacionalistas das colónias portuguesas, clube que na década de 1950 desempenhou um papel significativo na mobilização dos naturais das colónias e na circulação de informações e documentos.
Como um dos fundadores do MAC (Movimento Anti-Colonialista), que também incluiu Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Mário de Andrade, Noémia de Sousa, Humberto Machado e Eduardo dos Santos, entre outros, Lara dedicou-se ainda mais à actividade política.
Em Março de 1959 foi forçado a sair de Portugal para escapar à prisão, encontrando refúgio na Alemanha. Depois disso, participou na Conferência de Tunes em Janeiro de 1960 como representante do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a recém-criada FRAIN (Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional).
Depois de uma estada em Casablanca em 1960, Lara estabeleceu-se em Conakry para constituir o primeiro Comité Central do MPLA no exterior de Angola. São desse período de turbulência os documentos publicados no primeiro volume das suas memórias políticas, “Um amplo movimento: Itinerário do MPLA através de documentos e anotações de Lúcio Lara”, que nos permitem acompanhar Lara, como ele sobreviveu economicamente como trabalhador não-qualificado e professor, apoiado por sua esposa, que também trabalhava como professora.
Ao mesmo tempo, ganhou acesso à literatura que tinha sido proibida em Portugal. Os contactos então estabelecidos foram muito influentes para o seu contínuo desenvolvimento político. Além dos atrás mencionados, este agrupamento incluía pessoas como Viriato da Cruz, Cheik Anta Diop, Ousmane Sembène e Franz Fanon, bem como os intelectuais mais renomados, políticos ou sindicalistas das colónias africanas ou países recentemente independentes.
Os três volumes cobrem três diferentes períodos (até Fevereiro de 1961, 1961-1962 e 1963-1964), e contêm correspondência e cartas, manuscritos, memorandos, recortes de imprensa e fotografias. A maioria dos materiais são em português, mas alguns exemplares originalmente escritos em outras línguas estão traduzidos para o português nesses volumes. Entre 1962 e 1974 desenvolveu a sua actividade política clandestina em Cabinda e no leste de Angola, mas também no território da actual República do Congo, junto de refugiados angolanos que ali se encontravam.
Lúcio Lara retirou-se da política activa em finais de 2003, por razões de saúde. No ano seguinte, foi alvo de uma homenagem do MPLA, que fez coincidir o tributo ao herói da luta pela independência com a data em que se assinalou 30 anos desde a sua chegada a Luanda, à frente da primeira delegação do MPLA que se deslocou à capital angolana depois da queda da ditadura em Portugal.
Jornal de Angola - Foto: JAimagens
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