Investigadores da Universidade da Califórnia estão a tentar desvendar o mistério de um zumbido incomum vindo das profundezas do oceano, que apenas é escutado ao entardecer e amanhecer.
A hipótese avançada pelos investigadores como mais provável é de que este ruído seja uma “chamada para o jantar” de uma enorme colecção de criaturas, a mover-se para cima e para baixo na água, com o fim de se alimentarem em conjunto.
O estudo foi apresentado esta semana em New Orleans, nos Estados Unidos, durante o Ocean Sciences Meeting 2016.
Utilizando equipamento de escuta altamente sensível, a equipa de cientistas ouviu um zumbido não identificado, de baixa frequência, a uma profundidade entre de 200 a 1.000 metros no oceano.
“O som não é muito alto, e é ouvido durante uma a duas horas, dependendo do dia”, disse a bióloga marinha Simone Baumann-Pickering, investigadora da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos EUA, e uma das autoras do estudo.
Tanto quanto se sabe, mais do que um tipo de criatura marinha poderia fazer esse barulho, que é de apenas 3 a 6 decibéis acima do ruído de fundo do oceano.
O som vem da zona mesopelágica do oceano, que se estende dos 200 aos 1.000 metros de profundidade, e onde os níveis de luz são insuficientes para a fotossíntese.
Por isso, apenas são encontradas nesta camada formas de vida herbívoras ou recoletoras, que se alimentam de restos de organismos ou matéria fecal que chega até as profundezas onde se encontram.
Ao contrário do que se pensa, no entanto, esta não é uma região morta do oceano.
Um estudo de 2015 estimou que até 90% dos peixes do mundo podem residir nesta zona de penumbra aquática, incluindo muitas espécies ainda não identificadas. Animais como o espadarte, a lula, a enguia-lobo e o choco vivem aqui.
Os investigadores sugerem então que o misterioso som do fundo do mar pode ser o resultado de um grande número destas criaturas, a agir em uníssono.
Sabe-se que grandes massas de peixe, camarão e lula se movem desde estas camadas mais profundas até às águas mais próximas da superfície para se alimentarem de plâncton e nutrientes.
Os animais fazem-no ao entardecer, usando a escuridão para camuflar a sua chegada.
Quando o sol nasce, as pequenas criaturas recuam de novo para dentro da escuridão, escondendo-se a fim de se protegerem contra predadores.
Os cientistas estão convencidos de que é este movimento de subida e descida que é responsável por produzir o incomum ruído – embora ainda não tenham a certeza de que animais ou grupo de animais estejam envolvidos no processo.
Há no entanto a possibilidade de que o ruído também possa ser um “sinal de aviso” emitido para assinalar que é seguro a uma colónia de peixes subir até à superfície para se alimentar.
Se estas criaturas estiverem a emitir o zumbido de propósito, como forma de comunicação, isso muda completamente a nossa compreensão dos ecossistemas marinhos de profundidade.
“Mas ninguém sabe ao certo”, diz Baumann-Pickering, citada pela NPR.
“Estamos apenas a arranhar a superfície do conhecimento de quão importante é o som” no fundo do oceano, conclui a investigadora.
ZAP / HypeScience http://zap.aeiou.pt/cientistas-intrigados-com-som-misterioso-das-profundezas-do-oceano-103118
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