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O
suicídio recente de duas adolescentes em consequência da difusão de imagens
íntimas trouxe à esfera pública um debate ainda recente no Brasil: o que fazer
para evitar que se repitam fatos como esses? Têm sido pensadas medidas no
âmbito legal, mas é preciso ter cuidado para não se deixar levar pelo calor dos
acontecimentos: corre-se o risco de criminalizar além da conta e não encarar o
problema em sua complexidade.
Ainda
estamos começando a compreender as mudanças sociais que vêm com as novas
tecnologias de comunicação. As leituras possíveis são parciais, muitas vêm
carregadas de optimismo utópico ou pessimismo catastrófico. Como qualquer
invenção humana de grande impacto social, há alguns efeitos mais, outros menos
interessantes: é o preço que pagamos por não sermos uma sociedade tradicional
onde tudo é sempre igual.
Queiramos
ou não, a linguagem dos tempos de hoje é outra, os jovens a aprendem desde
pequenos. Há adultos que se esforçam para compreendê-la, outros preferem nem
tentar, disfarçando sua ignorância com desdém. O saudosismo de épocas menos
virtuais presente na fala de tantos críticos oculta o medo de encarar que é
este o mundo no qual vivemos. Lamentar que as coisas não sejam como outrora não
apenas não muda nada, mas produz alienação.
Os
suicídios das adolescentes nos lembram que as mudanças subjectivas não
acompanham o ritmo da tecnologia. Os adolescentes de hoje não são tão
diferentes dos de ontem: seguem deixando os pais inconformados por escaparem às
suas expectativas, anunciando um futuro no qual não terão mais o controle.
Apesar de se esforçarem por mostrar o contrário, a adolescência segue sendo um
período de grande fragilidade em relação à auto-imagem. Caminha-se sobre uma
corda bamba entre a infância e a vida adulta, sem pertencer a nenhuma delas. Um
pequeno abalo narcísico pode ter efeito de terremoto, que dependendo da
magnitude pode ter efeito mortífero.
Os pais
da jovem de Veranópolis, Rio Grande do Sul, apesar da inimaginável dor que os
atingiu, não ficaram presos à demanda de justiça. Fizeram um apelo aos outros
pais para que a perda de sua filha ajude a evitar casos semelhantes.
A
mensagem, a qual subscrevo, é de que não tenham medo de se aproximar de seus
filhos e desse mundo virtual que parece ser só deles. Por mais diferente que o
mundo seja daquele no qual nós crescemos, e por mais desenvoltura que aparentem
ter nele, crianças e adolescentes seguem precisando da mão seus pais e
cuidadores para aprender a trilhar o sempre incerto caminho da vida.
Paulo
Gleich*
Jornalista
e psicanalista
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