WORDEN,
J. W. – Apego, perdas e o processo de luto – In: Terapia do luto; Porto Alegre,
Artes Médicas, 1998.
Segundo
Worden (1998), a Teoria do Apego de Bowlby nos fornece um meio de definir a
tendência dos seres humanos de estabelecer fortes laços afectivos com os
outros, e uma forma de compreender a forte reacção emocional que ocorre quando
estes laços ficam ameaçados ou são rompidos. Ele critica aqueles que acreditam
que os laços afectivos entre os indivíduos se desenvolvem apenas para
satisfazer a certos instintos biológicos, como o de alimentação e o sexual.
A tese de
Bowlby, de acordo com Worden (1998), é de que tais laços surgem de uma
necessidade de segurança e protecção; eles se iniciam cedo na vida, são dirigidos
a poucas pessoas e tendem a durar por uma grande parte da vida. Quando a figura
de ligação desaparece ou está ameaçada, a resposta é de intensa ansiedade e
forte protesto emocional. Bowlby conclui que existem boas razões biológicas
para que a cada separação haja uma resposta automática, instintiva com
comportamento agressivo. Existe ainda uma tentativa quase universal de obter
novamente o objeto amado perdido e/ou existe a crença em um mundo depois da
vida aonde a pessoa irá se reencontrar com a pessoa amada perdida.
Segundo
Worden (1998), o psiquiatra George Engel elaborou uma tese em que a perda de
uma pessoa amada é psicologicamente traumática na mesma medida em que sofrer um
corte ou queimadura grave é fisiologicamente traumático. Assim como a cura é
necessária no campo fisiológico, um período de tempo é da mesma forma
necessário para que o enlutado retorne para um estado similar de equilíbrio.
Engel, então vê o processo do luto como similar ao processo de cura.
Existem
quatro tarefas no processo de luto. A primeira seria aceitar a realidade da
perda, pois quando alguém morre, mesmo se a morte é esperada, há sempre a
sensação de que ela não aconteceu. A primeira tarefa do processo de luto é
enfrentar a realidade de que a pessoa está morta, de que a pessoa se foi e não
irá retornar. Parte da aceitação da realidade é acreditar que a reunião é
impossível, pelo menos nesta vida. A negação dos fatos da perda pode variar em
grau desde uma leve distorção até uma desilusão completa. Esse pensamento distorcido
(negação) pode diminuir a intensidade da perda, mas raramente é satisfatório e
esconde a aceitação da realidade da morte.
Outra
forma de as pessoas se protegerem da realidade é negar o significado da perda,
assim a morte pode ser vista como tendo menos significado do que tem menos
significado do que tem na realidade. Outra estratégia utilizada para negar a
finalidade da morte envolve o espiritualismo. O desejo de se reunir a pessoa
falecida é um sentimento normal, principalmente nos primeiros dias e semanas
após a perda. Entretanto, o desejo permanente desta reunião não é normal.
Chegar à
aceitação da realidade da perda leva tempo, já que envolve não só a aceitação
intelectual mas também a emocional. A pessoa enlutada pode estar
intelectualmente consciente da finalidade da perda muito antes que as emoções
permitam total aceitação da informação como verdadeira. Embora leve tempo para
a tarefa se completar, rituais tradicionais como o velório ajudam muitas
pessoas, enlutadas a se moverem em direção à aceitação. Aqueles que não
presenciam o enterro podem necessitar de meios externos para validar a
realidade da morte. A fantasia é sobremaneira difícil no caso de morte súbita,
ou especial se sobrevivente não vê o corpo da pessoa que morreu.
A segunda
tarefa seria elaborar a dor da perda. Para tanto é necessário reconhecer e
elaborar esta dor ou ela se manifestará por meio de alguns sintomas ou por
outra forma de conduta aberrante. Nem todas as pessoas vivenciam a mesma
intensidade de dor ou sentem da mesma forma, mas é impossível perder alguém a
quem se tenha sido muito ligado sem passar por algum grau de dor.
A
terceira tarefa seria ajustar-se a um ambiente onde está faltando a pessoa que
faleceu. Muitas pessoas que perdem alguém se ressentem do fato de terem que
desenvolver novas tarefas de desempenhar papéis que antes eram desempenhados
por seus companheiros. Dessa foram, não só a pessoa enlutada tem que se ajustar
à perda de papéis anteriormente desempenhados pelo falecido, mas a morte também
os confronte com os desafios de se ajustar ao seu próprio sentido de self. O
luto pode levar a uma intensa regressão na qual a pessoa enlutada percebe a si
mesma como desamparada, inadequada, incapaz, infantil ou como uma crise de
personalidade.
Entretanto,
ao longo dos tempos, estas imagens negativas cedem lugar a outras mais
positivas e a pessoa que permaneceu viva é capaz de levar adiante suas tarefas
e aprender novas formas de lidar com o mundo. O maior impedimento à terceira
tarefa é a não adaptação à perda. As pessoas trabalham contra elas mesmas
promovendo o seu próprio desamparo, ao não desenvolverem habilidades das quais
necessitam ou se retirando do mundo e não enfrentando exigências do ambiente.
Entretanto, muitas pessoas não têm esta evolução. Elas geralmente decidem que
necessitam desempenhar os papéis para os quais não estão acostumadas,
desenvolvem habilidades que nunca tiveram e andam para frente com um sentido de
mundo reavaliado.
A quarta
tarefa seria se reposicionar em termos emocionais a pessoa que faleceu e
continuar a vida. Uma pessoa enlutada nuca esquece completamente a pessoa que
faleceu e que tinha tanto valor na sua vida e nunca havia retirado totalmente
seu investimento de sua representação. Assim, o luto termina quando a pessoa
enlutada não tem mais a necessidade de reactivar a representação do falecido
com intensidade exagerada no dia-a-dia. A tarefa do conselheiro não é a de
ajudá-lo a encontrar um lugar adequado para o falecido na sua vida emocional –
um local que é importante, mas que deixa espaço para outros.
A quarta
tarefa é impedida de se concluir por um apego ao passado mais do que por um
continuar e formar novas relações. Algumas pessoas acham a perda tão dolorosa
que fazem um pacto com elas mesmas de nunca mais amar alguém.
Depois
que alguém passa por uma perda, há certas do luto que devem ser realizadas para
que seja restabelecido o equilíbrio e para que seja completado o processo de
luto. No processo de luto (adaptação à perda) é essencial que a pessoa enlutada
realize tais tarefas antes que o luto possa ser completado. Tarefas de luto não
concluídas podem prejudicar o crescimento e o desenvolvimento futuros. Mais
cedo ou mais tarde, alguns daqueles que evitam o luto consciente sucumbem,
geralmente sob a forma de algum tipo de depressão. Um dos objectivos do
aconselhamento do luto é o de ajudar a facilitar a passagem das pessoas por
esta segunda tarefa de forma que elas não carreguem a dor para toda a vida.
Um sinal
de uma reacção de luto terminada é quando a pessoa é capaz pensar na pessoa que
faleceu sem dor. Existe sempre uma sensação de tristeza quando você pensa em
alguém que amou e depois perdeu, mas é um tipo diferente de tristeza, falta o
aspecto doloroso que havia antes.
Dessa
forma, o luto está terminado quando uma pessoa pode reinvestir suas emoções na
vida e no viver. O conselheiro deve alertar as pessoas que o luto é um processo
a longo prazo. Deve explicar ainda que, mesmo que o processo evolua, haverá
dias ruins, pois o luto não ocorre de forma linear, ele pode reaparecer para
que seja novamente trabalhado. A aceitação das condolências é um dos sinais
mais confiáveis de que a pessoa enlutada está elaborando o luto de forma
satisfatória.
Ethienny Corrêa
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