Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.
Vamos
fazer um poema
ou
qualquer outra besteira.
Fitar por
exemplo uma estrela
por muito
tempo, muito tempo
e dar um
suspiro fundo
ou
qualquer outra besteira.
Vamos
beber uísque, vamos
beber
cerveja preta e barata,
beber,
gritar e morrer,
ou, quem
sabe? beber apenas.
Vamos
xingar a mulher,
que está
envenenando a vida
com seus
olhos e suas mãos
e o corpo
que tem dois seios
e tem um
embigo também.
Meu
amigo, vamos xingar
o corpo e
tudo que é dele
e que
nunca será alma.
Meu
amigo, vamos cantar,
vamos
chorar de mansinho
e ouvir
muita vitrola,
depois
embriagados vamos
beber
mais outros sequestros
(o olhar
obsceno e a mão idiota)
depois
vomitar e cair
e dormir.
(Em:
Brejo das Almas)
Carlos
Drummond de Andrade
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