Agora
que passo uma parte substantiva da minha vida em Bruxelas, posso assegurar que
a “Capital da Europa” é uma cidade cheia de contrastes e contradições. Bruxelas
há muitas e não me refiro apenas à partilha, consagrada nos Tratados, do poder
da União com outras capitais como Estrasburgo, Luxemburgo ou Frankfurt.
Nesta
crónica não me focarei, contudo, na diversidade urbanística ou cultural de
Bruxelas. O que quero abordar é a mimetização fácil que muitos fazem de tudo ao
que acontece de mau (ou de bom) na União Europeia com Bruxelas. Bruxelas é a
fonte de todos os males ou de todos os bens? Essa Bruxelas una não existe. De
facto, a “Bruxelas” a que muitos se referem é uma entidade dinâmica e
democrática que resulta do confronto de vontades e de poderes diferenciados.
Quando
se referem a “Bruxelas” as pessoas querem normalmente referir-se às decisões,
diretivas, regulamentos ou outros pronunciamentos das instituições europeias.
Ora, para se chegar a uma decisão nas instituições, seja ela de que teor for e
tenha maior ou menor conteúdo político ou técnico, verifica-se um exercício que
ainda que pouco transparente muitas vezes, é estruturalmente democrático.
O
problema para quem considera, como eu considero, que “Bruxelas” não tem estado
à altura dos desafios que se colocam ao projeto europeu, é que as sucessivas
eleições de que emergiu a constituição do Parlamento Europeu, dos Governos que
integram o Conselho e a Comissão Europeia não têm sido globalmente favoráveis a
uma visão solidária, progressista e avançada da União Europeia.
Duma
forma simplificada, como não poderia deixar de ser num texto deste teor,
podemos dizer que o “Consenso de Berlim” cujo rosto mais proeminente deixou de
ser Ângela Merkel e passou a ser o seu intrépido Ministro das Finanças Wolfgang
Schauble, tem conseguido levar a melhor sobre o “Consenso de Roma” que Matteo
Renzi tem procurado promover com um forte envolvimento, entre outros, de
António Costa e dos socialistas portugueses.
O
saldo para a saúde do projeto europeu, que resulta da proeminência da “Bruxelas
de Schauble sobre a Bruxelas de Renzi” não é brilhante. Democraticamente vale a
pena continuar a travar o braço de ferro até que o jogo de forças mude. Para
que isto aconteça, no entanto, é preciso que os que defendem a mudança percebam
de uma vez por todas que “Bruxelas há muitas” e escolham o lado certo para o
combate democrático. Tomar tudo por igual é ajudar a que tudo continue igual,
numa desistência política sem sentido.
Carlos Zorrinho
Fonte:fazeracontecer
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